Sem data para começar vacinação da covid-19, Pazuello vai à TV para dizer nada novo
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, quis mostrar um balanço das ações do governo sobre a compra de vacinas e de seringas, mas sem falar da data para a imunização
Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios, do Jornal do Commercio
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, é muito ruim de serviço. Ele tem errado em tudo, mas tem um azar dos diabos quando tenta produzir alguma coisa relacionada à covid-19. Talvez por ser muito mal assessorado.
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Nessa quarta-feira (6), no meio do noticiário internacional com o Congresso americano sob um ataque à democracia da maior nação do mundo, ele resolve fazer um pronunciamento sobre as ações do ministério que pensa dirigir e falar sobre as providências.
O assunto é importante. Mas ontem, ninguém estava interessado. Além disso, Pazuello também não tinha, de fato, nada o que dizer, já que a informação principal sobre a data para o início da vacinação não constava da sua fala.
Quando o Palácio do Planalto anunciou no final da tarde que Pazuello iria falar, a impressão era de que teríamos a informação mais importante dessa crise: a data do início da vacinação. Afinal, Bolsonaro tinha ido no MS, tinha feito uma reunião com vários ministros, poderia então ter novidade. Mas não tinha.
Ora, se não se dirigiria à nação para informar quando a vacinação começaria, poderia distribuir uma nota sobre a MP que o presidente Jair Bolsonaro editou ontem e sobre a qual o ministro se apoiou para sua fala.
Mas ele resolveu gravar um vídeo. Numa pose solene, nos dois primeiros minutos, muitas pessoas pensaram que ele iria anunciar o começo da vacinação. Mas Pazuello não tinha essa informação.
Na verdade, o ministro limitou-se a dizer que a MP possibilitaria a aquisição de vacinas pelo governo federal antes da obtenção do registro dos imunizantes na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Pazuello também destacou que a MP permite a compra de seringas e agulhas sem licitação, entre outros insumos relacionados à vacinação.
O ministro repetiu que o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação, feito pelo Ministério da Saúde está pronto. Uau!!! Grande notícia, mas, e quando começa? O ministro não disse.
O problema é que quando afirma que todos os estados e municípios receberão a vacina de forma simultânea, igualitária e proporcional à sua população, o ministro não disse como o MS faria isso.
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Pode-se pensar: "bom, o governo vai mandar". Não vai. Porque não tem. "Ah, mas ele disse que o Brasil tem assegurada 385 milhões de vacinas de vários laboratórios". Se tivesse ao menos uma parte liberada, já daria para começar. Mas também essa informação o ministro não tem.
E disse que o Brasil já tem disponíveis cerca de 60 milhões de seringas e agulhas nos estados e municípios.
De fato, com isso o governo poderia iniciar a vacinação da população ainda neste mês. Mas estão reservadas? Não. Esse é o estoque de seringas que o MS mandou para as outras vacinas. Não se sabe nem se podem ser usadas para as vacinas da covid-19.
Pazuello disse que a Organização Pan-Americana de Saúde vai mandar mais 8 milhões de seringas e agulhas em fevereiro. E aí veio a parte mais interessante: Disse que o Governo requisitou 30 milhões à Associação dos Produtores de Seringas (Abimo).
A questão da seringa tem um problema operacional de custos. O PVC que os produtores de seringas usam para produzi-las representa menos de 5% do que o setor petroquímico produz. O Brasil tem capacidade de produzir mais de 1 bilhão de seringas. Mas desde agosto que as empresas pedem um sinal do governo que não veio. E sem isso o setor não pode fazer reserva de PVC.
Agora, mesmo que os pedidos sejam feitos, leva tempo, e o PVC necessário custa 30% mais caro, e aí entra o presidente Jair Bolsonaro para atrapalhar. Disse que o governo iria esperar o mercado esfriar com os preços das seringas baixando.
O presidente continua sem entender nada de mercado e parece não ter ideia da gravidade da questão dos suprimentos para fazer seringas para a vacinação
Alguém precisa dizer a sua excelência que a questão das seringas se deve ao fato do aumento do PVC, puxado pela indústria da construção civil, turbinada pelo Auxílio Emergencial.
A construção civil usa PVC para fazer tubo, conexões, eletrodutos e cabos quase oito vezes mais que o máximo que o setor de seringas poderia comprar e que já compraram. Bolsonaro dizer que só vai comprar depois que os preços dos insumos baixarem quer dizer esperar pelo menos seis meses.
Talvez isso explique por que Pazuello não tenha falado quando a vacinação começa. O que preocupa ainda mais quando nos aproximamos de 200 mil mortes e 8 milhões de infectados.
Na verdade, o Brasil não tem vacina disponível, não tem contratos que ajudem a iniciar a vacinação de fato e agora quer discutir preço de seringa. Não dá para levar a sério. Se bem que hoje ninguém leva a sério nada que o ministro diz sobre o tema covid-19.
Mas ele poderia ficar calado se não tem a única informação que interessa: quando a vacinação começa. Até porque se não tem o que falar, é melhor calar.