Lula se apresenta vendendo esperança, mas será que o mercado vai comprar?
Talvez a contribuição de sua volta à cena politica seja forçar a Bolsonaro a se mexer para mostrar coisas mais efetivas e práticas mais sustentáveis de governo
Foi assim. Ao lado da candidata do PT à presidência Dilma Rousseff, na solenidade de lançamento ao mar do primeiro navio feito para Petrobras, no Estaleiro Atlântico Sul, em maio de 2010, a assessoria do então presidente Lula distribuiu um texto sobre o que ele iria falar.
Terminado o discurso, jornalistas viram que não usara uma só palavra do que um redator se esforçou para que ele dissesse. Comparando-se os textos, o de improviso era muito melhor.
Isso é Lula. Bom de discurso, de construção de narrativas e capaz de contar histórias de uma forma tão boa que as pessoas acreditam que é primeira vez em que às estão ouvindo.
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Hoje, no mesmo lugar em que há quase 600 dias saiu para se entregar para a Polícia Federal, em São Bernardo, Lula se esforçou para dizer que a Lava Jato é passado e que agora é preciso cuidar de dizer que vai se vacinar e ajudar a que todo se vacinem, que é preciso distanciamento e usar a máscara.
Ele também apontou um pacote de erros do governo Bolsonaro na gestão da crise do coronavírus. O que não é tarefa difícil, já que o presidente é case internacional de como "não" fazer.
E, é claro, enumerou também os erros do governo ao longo de dois anos, sempre na velha estratégia de comparar os esquivos do presidente com os acertos de sua gestão tentando mostrar a distância do comportamento do Bolsonaro, especialmente, com aquilo que é ser um presidente de Republica. E mostrou o nosso encolhimento econômico.
Os exemplos de Lula são verdadeiros. Qualquer presidente teve um comportamento institucional que Bolsonaro não teve. Lula está nesta lista e pôde com facilidade escancarar os erros de Bolsonaro.
O problema do ex-presidente é que não há uma só palavra sobre do que aconteceu no seu governo e no Dilma, por exemplo, quando a Transpetro lançava ao mar o navio sobre o qual fizera tão brilhante discurso.
E sempre será importante lembrar. Foi no seu governo e no de Dilma que tivemos um extraordinário desvio de verbas públicas enquanto a Petrobras, que nesta quarta-feira, lembrou que se metia em tudo, também potencializava escândalos financeiros internacionais.
Mas parece claro que o presidente não quer e nem vai falar disso. Até porque, como disse, quer "esquecer" a Lava Jato. Ele vai entrar no debate tentando comparar a parte boa do período e que o Brasil viveu sem falar do desastre que nos levou a Dilma Rousseff e a Jair Bolsonaro.
É natural que Lula tente dizer ao mercado e ao grupo de pessoas que se classifica como fora do embate esquerda-direita, que ele é a opção do futuro para o Brasil, e que ele tem uma experiência presidencial de sucesso a oferecer.
Entretanto, talvez a única contribuição de sua volta à cena politica agora seja a de forçar a Bolsonaro a se mexer para mostrar coisas mais efetivas e práticas mais sustentáveis de governo já que haverá um produto de comparação.
Vai dar certo? O tempo e a economia até 2022 vão dizer. Mas ele não deve achar que o que disser terá atenção de todos. Ontem, quando o Brasil contava mais 2.000 mortos pela covid-19, menos de 50 mil pessoas se dispuseram a vê-lo analisar o Brasil nos canais do YouTube.
E se não fosse a Imprensa - que ele criticou por, segundo ele, só usar informações contra sua biografia e que seus seguidores chamavam de "mídia golpista" - pouca gente saberia no Brasil o que tinha a dizer. Como, aliás, faz Bolsonaro que na sua critica à impressa nos acusa de espalhar fake News sobre o seu governo.
Lula está de novo na prateleira. Resta saber se o mercado vai comprar.