No país que se orgulha de todo ano bater recordes na safra de milho e soja, o preço, em dólar, está turbinando as exportações das comodities, explodindo o consumo do ovo, reduzindo o consumo de frango e aumentando o da farinha flocada, que é a base do cuscuz.
Por enquanto, a dona de casa está conseguindo manter o cuscuz com ovo, que é uma unanimidade nacional. Mas o problema é que, no caso do milho, as cotações internacionais estão travando a produção de frango de corte, que embicou pela queda nas vendas. Pouca gente percebe, mas frango é um ovo turbinado com 60% de ração de milho.
Mas a verdade é que produzir frango está ficando caro, e no primeiro quadrimestre as granjas reduziram o abrigo pintos em função da queda nas vendas dos frigoríficos. Eles não estão conseguindo repassar o reajuste do milho na ponta.
Marcondes Filho, diretor do Grupo Mauricéa, que produz ovos e frango em duas plantas de Pernambuco e da Bahia, diz que a origem do problema está na peste suína na China. Isso mesmo! Ano passado, no meio da pandemia da covid-19, uma peste suína levou ao abate de mais de 30% do rebanho de porcos criados em milhões de propriedades no país asiático.
Sem porco doméstico alimentado com sobras de comida, a produção industrial explodiu com os criadores catando milho em todo lugar do mundo, pagando em dólar. Advinha onde eles acharam? Isso provocou dois movimentos.
A China compra frango, milho, farelo de milho e de soja. Os preços explodem no produtor de frango e ovos de São Bento do Una. Por enquanto, está dando para comprar ovo. Mas os preços já subiram.
O presidente do Instituto Ovo Brasil e vice-presidente da Avipe, Edval Veras, acredita que o aumento do preço do ovo é inevitável. Em 12 meses, o preço do milho em real dobrou.
O movimento de exportação - sem uma atuação estratégica do governo - está fazendo o país exportar comodities quando poderia exportar mais ovo e frango com valor agregado quatro vezes maior. Num primeiro movimento, o preço vai subir. No segundo, virá uma redução da oferta pela redução do plantel devido ao aumento de custos.
Edval Veras esclarece que o Nordeste sofre mais porque tinha custos 30% maiores que a Região Sudeste pelo custo de frete e pelo porte de suas empresas e agora esses custos estão iguais. Além disso, o Nordeste não se beneficiada exportação já que exporta 2% de sua produção total.
Segundo o empresário, que produz ovos em Garanhuns, a questão do ovo no Nordeste tem a peculiaridade de ter se tornado competitivo pela produtividade e uso de tecnologia, mesmo importando os insumos. Mas, com o milho dobrando de preço, ficou difícil.
Para o presidente do Instituto Ovo Brasil, a questão do milho deveria ter uma ação do governo na formulação de estoques reguladores de modo a preservar empregos no Brasil. A cadeia do frango (carne e ovos) emprega hoje quatro milhões de pessoas.
Veras lembra que o consumidor substituiu a carne bovina pelo frango. O problema é que o custo do ovo ficou insuportável. A tendência é o preço continuar a subir por causa do aumento do milho e a seguir com oferta menor.
A questão do milho é realmente assustadora para o produtor de frango. Segundo a Esalq que que elabora o principal índices de cotações de produtos agrícolas no Brasil indica que em 12 meses a casa do milho saiu de R$ 46.76 em junho do ano passado para R$ 99,84 a saca de 60 quilos.
No ano passado a exportação de milho caiu quase 20% em volume e receita em 2020. O Brasil exportou 34,67 milhões de toneladas de milho em 2020, de acordo com o Comex Stat, do Ministério da Economia.
Isso representa queda de 18,9% em relação ao volume embarcado em 2019, que chegou a 42,752 milhões de toneladas. Mas os preços continuaram a subir.
Responsável por produzir uma quantidade de alimentos que atende a 800 milhões de pessoas em todo o mundo, o Brasil deve continuar ampliando sua contribuição para o abastecimento mundial a ponto de se tornar, nos próximos cinco anos, o maior exportador de grãos do planeta, superando os Estados Unidos. A informação está em levantamento feito pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
De acordo com a Embrapa, em apenas dez anos a participação do Brasil no mercado mundial de alimentos saltou de US$ 20,6 bilhões para US$ 100 bilhões, tendo como destaque carne, soja, milho, algodão e produtos florestais.
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