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Cuidando da reeleição, deputados vão "matar" ideia de voto impresso já nas comissões

Na prática, a adoção do voto impresso significa o deputado ter que gastar dinheiro para ter fiscalização de seus votos na base e a contratação de mais gente, aumentando o custo final da campanha

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Fernando Castilho

Publicado em 20/07/2021 às 7:00 | Atualizado em 20/07/2021 às 9:17
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O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta segunda-feira (19) acreditar que a PEC do voto impresso não será aprovada pela Câmara, e disse cogitar não participar das eleições do ano que vem se mantido o sistema atual de urnas eletrônicas.

O presidente, que conhece bem a Câmara (porque esteve lá por sete mandatos), sabe que deputados profissionais não aprovam nada que dificulte sua reeleição. E sabe que a proposta de voto impresso custa caro e dá trabalho ao candidato.

Defendida pelo presidente Jair Bolsonaro e por um grupo de deputados novatos, a proposta de voto impresso não interessa aos deputados mais experientes, que já estão se preparando para o pleito de 2022. Desde a eleição dos prefeitos, os deputados estruturaram sua campanha, agregando também os deputados estaduais.

Uma coisa é aprovar aumento do fundo eleitoral, que é dinheiro nas suas contas. Outra é aprovar uma lei que vai dificultar suas campanhas na base. 

Na prática, a adoção do voto impresso significa o deputado ter que gastar dinheiro para ter fiscalização de seus votos na base e a contratação de mais gente, aumentando o custo final a campanha.

A proposta de voto impresso só é defendida pelos deputados eleitos da cauda do fenômeno Bolsonaro em 2018. E eles não têm estrutura preparada para 2022, porque acreditam que poderão ser reeleitos com o mesmo fenômeno. Coisa típica de novato.

Os profissionais devem matar a ideia já na comissão que trata do tema, em agosto. Tanto que Bolsonaro já admite que ela vai morrer lá mesmo.

2022 não será replay de 2018

Mas esse é um caso bem interessante do mundo que separa os meninos eleitos, em 2018, na cauda do cometa Bolsonaro, dos homens que já organizaram sua reeleição profissionalmente.

O que eles não entenderam é que a eleição de 2022 não vai ser um replay de 2018, quando se elegeram numa onda gigante que fez milhões de pessoas votarem em quem dizia que apoiava o candidato que estava no hospital.

Dos 50 que o PSL elegeu, já se sabe que menos da metade não volta, porque vai ter que disputar uma reeleição enfrentado máquinas de votos de concorrentes nos seus estados.

Outra coisa que é importante não esquecer: os deputados profissionais - que se reelegem montando suas estruturas - aproveitaram a onda de Bolsonaro. Mas eles se elegeriam pelas estruturas que já tinham montado. O fenômeno apenas ajudou na sua eleição.

Agora em 2022, sem o impacto da facada, volta o velho esquema que começa com a ajuda na eleição do maior número de prefeitos possíveis, apoia (a dobrada) com um grande número de candidatos a deputado estadual e tido isso, exige planejamento de dois anos.

Nenhum desses deputados trabalha com essa conversa de voto impresso. Primeiro porque dá mais trabalho aos cabos eleitorais, prefeitos e candidatos que acertaram o apoio. Depois, porque significa gastar mais dinheiro com esse grupo.

Os deputados profissionais fazem uma pergunta simples: O que isso ajuda na minha eleição? No mínimo pode tornar a apuração mais demorada e vai exigir estrutura de fiscalização própria. Outra coisa: fora Bolsonaro, quem ganha com essa bobagem de voto impresso?

E mesmo os deputados que apostam na ideia, não sabem o que eles ganham com isso? Voto impresso ajuda a eleger Bia Kicis se ela não tiver um mínimo de estrutura?

Então, mesmo que esteja no noticiário a ideia de mexer no sistema de apuração há um ano da eleição, não interessa a nenhum deputado que está preocupado em renovar o mandato.

Curiosamente, vai ser muito interessante ver em 2022 o que vai acontecer com os deputados da base que acreditam na proposta de Bolsonaro. Os mais experientes estão cuidando de seus votos, não dos de Bolsonaro.

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