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Cartão de crédito faz brasileiro atingir recorde de endividamento na pandemia do coronavírus

As fragilidades no mercado de trabalho formal e o avanço no setor informal estão levando a maior contratação de dívidas pelas famílias

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Fernando Castilho

Publicado em 26/08/2021 às 11:05 | Atualizado em 26/08/2021 às 13:03
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O brasileiro nunca deveu tanto. Especialmente ao cartão de crédito. Uma pesquisa da Confederação Nacional do Comércio (CNC) divulgada nesta quinta-feira (26) revela que o endividamento dos consumidores cresceu nos primeiros oito meses de 2021, e a proporção de famílias com dívidas alcançou novo recorde histórico de 72,9% em agosto.

A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) mostra que o aumento na contratação de dívidas pelos consumidores começou a acirrar ainda no último trimestre do ano passado e segue com forte tendência positiva, ou de crescimento, nos meses recentes.

As fragilidades no mercado de trabalho formal e o avanço no setor informal, com elevado nível de desocupação, e a inflação elevada estão contribuindo para a maior contratação de dívidas pelas famílias também forma identificadas.

A análise mostra que entre as modalidades de crédito, o endividamento no cartão segue em franca ampliação, destacando-se nas famílias dos dois grupos de renda.

A proporção de endividados no cartão em agosto renovou o recorde, alcançando 83,6% das famílias com dívidas no País. Dentre as com até 10 SM, 84,3% chegaram no oitavo mês do ano endividadas no cartão, também a proporção máxima para a série.

Embora o cartão de crédito ofereça as maiores taxas de juros dentre os principais tipos de dívida, desde maio, mês a mês tem superado os recordes dentre as modalidades de endividamento.

A proporção atual de endividados no cartão está ainda 4,2 pontos acima de dezembro de 2020, mês com aquecimento sazonal do consumo e das vendas, e 5,8 pontos acima do nível de agosto de 2020, quando já se havia iniciado a flexibilização do distanciamento social.

O preocupante é que entre as famílias mais pobres, o orçamento apertado tem influenciado o maior uso do cartão de crédito também para aquisição de itens de primeira necessidade, como alimentos e produtos de higiene, por exemplo.

As famílias de renda mais alta estão utilizando mais o cartão de crédito no consumo de serviços.

É uma aposta perigosa. A modalidade é a mais difundida pelas facilidades do meio de pagamento, porém a que oferece o maior custo ao usuário, especialmente quando se torna crédito rotativo (empréstimo pessoal de curtíssimo prazo, em que parte do saldo devedor é rolada para o mês seguinte ao do vencimento).

Segundo o estudo da CNC, cerca de 11,89 milhões de famílias chegaram a agosto com algum tipo de dívida, dentre as principais modalidades, cartão de crédito, cheque especial, crédito consignado, crédito pessoal, carnês, financiamentos de casa e carro. No mesmo momento de 2020, aproximadamente 10.960 mil famílias possuíam compromissos financeiros em andamento.

Um detalhe importante: A metodologia da Peic considera “família” o grupo de pessoas que vive na mesma casa. Além disso, é uma pesquisa que busca identificar a percepção individual quanto ao nível de comprometimento com dívidas e a percepção em relação à capacidade de pagamento.

O estudo adverte que entre novembro de 2020 e fevereiro de 2021, houve redução da circulação de pessoas nas áreas comerciais, no território nacional, segundo dados do Google Mobilidade, em razão do recrudescimento da crise de saúde. A partir de fevereiro até o momento, o percentual de circulação de pessoas em zonas de comércio passou a aumentar consistentemente.

A maior flexibilização no isolamento social está diretamente relacionada ao aumento do consumo de produtos e serviços e, naturalmente, ao incremento nas vendas que estão sendo potencializadas por meio do crédito ao consumidor. Nesse sentido, o endividamento acelerou a partir de abril, segue crescendo para ambos os grupos de renda e atingiu os recordes em agosto.

As famílias com até 10 salários-mínimos de renda mensal, aquelas no grupo considerado de menor renda, passaram a demandar crédito e se endividar de forma mais acirrada a partir de maio deste ano, como mostra a curva azul.

Isso ocorre mesmo com o valor médio do auxílio emergencial (R$ 300,00), pago desde abril aos informais e mais vulneráveis, reduzido à metade em relação ao valor do ano passado (R$ 600,00).

O próprio recebimento do auxílio emergencial através de conta poupança na Caixa Econômica Federal ajudou a ampliar a inclusão dos beneficiários no sistema bancário.

O fato de estarem inseridos no sistema financeiro também resulta no maior uso do crédito por esses indivíduos.

Para o grupo de menor renda, o endividamento recorde está associado ao mercado de trabalho formal e informal fragilizado pela crise e a inflação mais elevada, que reduz o poder de compra e acirra as despesas nos orçamentos domésticos.

Esses dois fatores essencialmente explicam o maior uso do crédito para recomposição ou complementação da renda das famílias com até 10 SM.
O emprego com baixa qualificação e os informais e trabalhadores por conta própria foram os que mais sofreram - e ainda sofrem - com os impactos da pandemia na atividade econômica.

A renda habitual do trabalho auferida pela população ocupada no País tem se reduzido consistentemente desde o início da crise sanitária, como se vê no gráfico 3, a partir dos dados da PNAD Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No primeiro trimestre deste ano em comparação ao mesmo trimestre de 2020, tivemos a maior queda na renda do trabalho nesse conceito, -7,3%, quando o IBGE iniciou a PNAD Contínua, em 2012.

 

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