Atacarejo vira o jeito brasileiro de comprar no antigo supermercado
No primeiro semestre, o Assaí faturou R$ 10 bilhões e as 71 lojas vão acrescentar mais R$ 9 bilhões
O publicitário Carol Fernandes (1937-2016), que criou e dirigiu a Agência Itaity Comunicação, criou um postulado que casa bem com essa decisão do Grupo Pão de Açúcar (GPA) em se desfazer dos seus 103 hipermercados com a marca Extra: “A melhor técnica de venda é um produto melhor”.
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Fernandes é autor de outro postulado da publicidade consagrado no famoso comercial da Casa Lux, onde um deficiente visual dizia que “quando a gente não quer, qualquer desculpa serve”.
O GPA vai dizer que a venda é consequência do processo de cash & carry, que permitiu a criação de duas companhias – GPA e Assaí – totalmente independentes, como está escrito no seu balanço de 2020. Mas a verdade é que o GPA desistiu do modelo porque ele ficou velho.
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E que o consumidor brasileiro mudou de perfil; não está mais querendo pagar pelo ar-condicionado de um hipermercado, passou a comprar produtos pelo e-commerce. O mesmo e-commerce que garantiu ao GPA faturar R$ 1 bilhão em 2020, mas que já não se importa de carregar caixa, desde que o preço seja menor.
O modelo de Hipermercado está desaparecendo em todo o mundo e no Brasil porque a classe média que fazia as compras no sábado pela manhã agora tem outras prioridades.
Mas tem que reconhecer que o Assaí (GPA), que bate de frente com o Atacadão (Carrefour), tem um enorme mérito e os dois são hoje os modelos de centenas de lojas do que o brasileiro chama de Atacarejo.
O interessante dessa operação de R$ 5,2 bilhões é que vai permitir que o Assaí, cujo nome foi criado a partir da palavra japonesa ASASHI (com pronuncia de Assarí) - que significa Sol Nascente - avance além do crescimento orgânico, e para melhorar a performance no Brasil, pois este ano o Atacadão comprou as operações do Makro fora de São Paulo e acrescentou mais 30 pontos de vendas.
No primeiro semestre, o Assaí faturou R$ 10 bilhões e as 71 lojas, R$ 9 bilhões. Segundo estimativa da companhia, após a transformação em Assaí, elas devem vender ao ano cerca de R$ 25 bilhões. Porque o Tiquet de vendas hoje numa loja do Assaí já é maior que numa sofisticada loja do Extra.
Para o GPA, é melhor mesmo. Ele concluiu as conversões do Extra Super para Mercado Extra, com posicionamento mais competitivo para o mercado regional. E o clássico nome Pão de Açúcar, que se mantém resiliente, seguirá com a expansão dos principais conceitos do modelo de lojas G7 e retomada de abertura das lojas orgânicas no segundo semestre desse ano.
Ou seja, o Assaí vai para o confronto com o Atacadão, iniciando uma nova guerra no setor de abastecimento, onde o consumidor família agora quer pilotar o carro grande com as compras do mês, pensando mesmo é um dia pilotar aquele que aguenta 500 quilos que os donos de mercadinhos e restaurantes compram para abastecer o seu negócio.
Isso aconteceu no ano passado com o auxílio emergencial, e só deixou de acontecer porque Jair Bolsonaro não tem mais dinheiro para pagar o auxílio, frustrando a dona de casa que voltava de táxi do Assaí e do Atacadão com o bagageiro cheio e agora precisa comprar pé de galinha e osso para alimentar sua família.
E se como dizia Carol Fernandes, a melhor técnica de venda é um produto melhor. O atacarejo de hoje é um produto melhor para o consumidor nesses tempos de inflação de 10% ao ano e de 20% nos alimentos.