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Sem força para travar economia, caminhoneiro autônomo pede à Justiça que possa bloquear estrada

Velho slogan "sem caminhão o Brasil para" não faz mais sentido para esse nicho do setor de transporte de carga rodoviária do País

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Fernando Castilho

Publicado em 01/11/2021 às 9:40 | Atualizado em 01/11/2021 às 9:53
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Por mais ameaças que façam nas redes sociais, por mais conversas que possam ter com autoridades e por mais articulações que o presidente da Frente Parlamentar Mista dos Caminhoneiros Autônomos e Celetistas, deputado Nereu Crispim (PSL-RS), tente algum tipo de conversa com o Governo, é importante entender que o velho slogan “sem caminhão o Brasil para” não faz mais sentido para esse nicho do setor de transporte de carga rodoviária do País.

Primeiro, as lideranças já não comandam a categoria. E a quantidade de entidades que se dizem nacionais estão cada vez mais reduzidas a alguns estados. Depois, porque a greve de 2018 mudou o eixo de participação do setor de carga rodoviária e excluiu o caminhoneiro autônomo.

Finalmente, os ganhos em dólar fizeram o agronegócio comprar sua própria frota, como o segmento de postos de combustíveis já tinha feito, triando mercado dos tanqueiros.

 

Isso explica a razão de não haver, na manhã desta segunda-feira (1°), bloqueios e muito menos fechamento de rodovias. Sem força e capacidade de mobilização, restou para as lideranças pedir aos seus advogados a suspensão de liminares que a AGU obteve em quase todo o Brasil. Existem ao menos 29 liminares na Justiça contra bloqueio de rodovias, refinarias e portos contemplando 20 estados.

É uma missão difícil. Que juiz vai dar autorização para caminhoneiro travar estrada?

Mas é importante observar outras coisas. Primeiro, o governo sabia que os autônomos já não têm força para uma greve forte. Depois, com base nisso, pressionaram mesmo para que o pessoal ficasse quieto. E tem uma confusão das pautas.

Os principais pedidos são o cumprimento do piso mínimo do frete rodoviário, mudança na política de preço da Petrobras para combustíveis e aposentadoria especial a partir de 25 anos de contribuição, entre outros. É muito assunto para resolver com apenas uma greve.

Mas é importante também ver quem fala pelos caminhoneiros. E qual é o peso deles na economia.

Desde 2017, que o setor que dependia quase 40% de autônomos viu que não poderia mais continuar transportando suas cargas sem maior controle.

Michel Temer abriu no BNDES uma linha de crédito e as empresas aproveitaram para trocar ou implantar sua frota própria, já que o volume de cargas assegurava o pagamento das prestações.

Os autônomos ficaram de fora porque perderam o frete e não tinham renda para pagar caminhão novo. Hoje, as lideranças estimam que o setor transporta 20% de toda carga rodoviária. O que pouca gente acredita.

No caso dos tanqueiros, atualmente toda rede de postos com ao menos cinco operações tem seu próprio caminhão, que abastece todas as unidades do grupo.

As distribuidoras também aproveitaram o crédito do BNDES e modernizaram suas frotas, enquanto as indústrias passaram a mandar suas cargas via cabotagem, combinando contêiner e navio.

No fundo, hoje o autônomo não tem mercado. E com menos de 20% não dá para fazer muita coisa a nível nacional. O fracasso do movimento fragiliza ainda mais o movimento.

A principal queixa dos caminhoneiros é contra o aumento do diesel, que já subiu mais de 34% nos últimos 12 meses, segundo o IPCA-15 se perde no meio da crise. Os caminhoneiros pedem o fim da política de preços da Petrobras, que reajusta o valor dos combustíveis de acordo com o custo do petróleo no mercado internacional e com o dólar.

Mas a pergunta é: quem está interessado nesse debate?

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