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Bolsonaro já gastou R$ 630 bilhões com covid-19 e tudo que conseguiu foi consolidar a imagem de negacionista

O presidente faz leitura sobre o impacto que o auxílio emergencial fará, em 2022, tomando por base os números de melhoria de sua popularidade em 2020

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Fernando Castilho

Publicado em 03/11/2021 às 12:00 | Atualizado em 03/11/2021 às 18:54
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Gestores com experiência em gastos públicos costumam brincar, em conversas privadas, sobre o que um presidente como Lula da Silva faria em termos de conquista de apoio popular se gastasse o que Jair Bolsonaro já gastou no enfrentamento da covid-19.

De fato, Lula jamais gastaria R$ 633 bilhões como Bolsonaro gastou, entre fevereiro de 2020 - quando a União começou a contabilizar as despesas para o enfrentamento da covid-19 - e o mês de outubro último - sem capitalizar isso politicamente.

Isso equivale no câmbio do dia 1º de novembro (R$ 5,162) a mais de US$ 112,68 bilhões. E é muito mais do que qualquer outro país com a economia de tamanho ou próximo gastou no mundo.

Porém com tantas desinformações que Bolsonaro se preocupou em difundir, desde então, passaram despercebidos que, em 2020, o Brasil gastou a astronômica quantia de R$ 524 bilhões no enfrentamento da crise pandêmica sem que todo esse dinheiro transmitisse a informação de eficiência ou de alguma gestão.

Naturalmente, o Brasil não tinha esse dinheiro. Num primeiro momento, usou as sobras de caixas de 2019 que estavam na Secretaria do Tesouro e, a seguir, foi ao mercado tomando mais de R$ 400 bilhões.

Segundo dados da STN apenas este ano, o Brasil já gastou até outubro, R$ 109 bilhões (mais de US$ 18 bilhões) com a covid-19. Desse total, quase R$ 65 bilhões foram pagos na rubrica Auxílio Emergencial (R$ 64,90 bilhões), a seguir R$ 26 bilhões com o ministério da Saúde e outros ministérios nos programas para o enfrentamento e mais R$ 26 bilhões com a compra de vacinas.

Qualquer presidente com um mínimo de percepção política do que isso representa para sua população e o impacto em termos de arrefecimento da crise social teria aproveitado esses fatos para tentar mostrar seu empenho com a questão e o quando representa de esforço como nação.

Mas Bolsonaro nunca valorizou as ações que o seu próprio governo pagou. Ele se meteu numa rota de negacionismo que hoje condenou o seu governo a depender da aprovação de um PEC em que fará seu governo passar para a história como caloteiro de dívidas já transitadas em julgado.

Durante mais de oito meses, Bolsonaro fala de ampliação do auxílio emergencial sem organizar o caixa. E a única imagem que conseguiu passar sobre essas despesas que são justas foi a de que servirá para lhe dar condições de concorrer nas próximas eleições com chances de vitória.

O presidente faz uma leitura rasa sobre o impacto que o auxílio emergencial fará em 2022, tomando por base os números de melhoria de sua popularidade, em 2020. E o mais grave: seus assessores acreditam que ele tem razão. 

Ano passado, quando o Brasil gastou R$ 524 bilhões para enfrentar a covid-19, o governo federal pagou R$ 293 bilhões apenas com o Auxílio Emergencial. Bolsonaro, que não percebeu o impacto disso na economia, foi literalmente surpreendido com o aumento de sua popularidade no meio de uma briga absurda de seus ministros mais próximos em negar ou organizar as ações do Ministério da Saúde.

O governo gastou R$ 78 bilhões em auxílio para estados e municípios; R$ 33 bilhões para ajudar a manter empregos, pagou mais R$ 58 bilhões para garantir diretamente o crédito às empresas, transferiu R$ 46 bilhões para o setor de saúde dos estados e tudo que conseguiu comunicar foi um gasto de apenas R$ 2,2 bilhões com vacinas, isso quando tinha reservado R$ 24 bilhões apenas para aquisição de imunizantes.

O que mais chama atenção da incompetência do governo Bolsonaro em mostrar ao contribuinte, e a sociedade em geral, que o enfrentamento da covid-19 - que estava custando muito caro ao País, além das vidas e sequelas - não se dava por falta de dinheiro para isso.

A questão das vacinas é emblemática. O governo federal tinha dinheiro reservado para a compra. Mas levou meses para fechar as compras que só aconteceram em 2021 atrasando o programa de imunização.

Na verdade, o Brasil em 2020 limitou-se a pagar parte da compra ao laboratório AstraZeneca que o próprio Bolsonaro elegeu como único fornecedor de imunizantes. De qualquer forma, o Brasil comprou as vacinas e este ano já pagou R$ 16 bilhões dos R$ 26 bilhões que estão alocados.

Outra coisa que chamou atenção foi a confusão que o presidente fez com a questão do tratamento precoce que o governo gastou dinheiro na aquisição, mas que ele transformou numa ação estratégia política que só atrapalhou o governo.

Enquanto Bolsonaro falava de Cloroquina, Hidroxicloroquina Ivermectina e Azitromicina, o Ministério da Saúde pagava R$ 1,600, por diária de UTI nos hospitais credenciados do SUS, salvando milhões de vidas. E esses mesmos hospitais já tinham superado a questão em junho de 2020 adotando novos protocolos.

Mas o presidente precisou trocar três vezes o Ministro da Saúde até chegar a Marcelo Queiroga, cuja subserviência as ordens do presidente hoje constrange a Sociedade Brasileira de Cardiologia, de onde saiu para o Ministério.

Depois de 21 meses (entre fevereiro de 2020 e outubro de 2021), o governo Bolsonaro gastou exatos R$ 633,31 bilhões apenas com despesas relacionadas a covid-19 e tudo que conseguiu foi o indiciamento do próprio Bolsonaro numa CPI no Senado.

O presidente está, junto com diversos ministros e auxiliares, identificado como governo que apostou na imunidade de rebanho sem vacinas, abriu as portas para um bando de espertalhões que vendiam vacinas que não existiam e total falta de empatia com as mais de 600 mil famílias que perderam seus entes pela covid-19.

O que só reforça a ideia de que, numa situação com a que vivemos e o que o quanto gastamos, qualquer presidente com um mínimo de percepção histórica estaria hoje em muito melhores condições de se apresentar a um segundo mandato que Jari Bolsonaro.

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