Conheça Dra. Lurdinha, a médica que fez da Unimed Recife a terceira maior cooperativa médica do Brasil
Em outubro a Unimed Recife inaugurou sua nova unidade, o Complexo Hospitalar Unimed Recife focado em procedimentos de alta complexidade.
No comando da terceira maior cooperativa médica do Brasil, a médica Maria de Lourdes Corrêa de Araújo, mais conhecida como Doutora Lourdinha, achava que até então tinha vivido todas as dificuldades que um gestor de serviços médicos no cargo. Mas a chegada da covid-19 mudou a sua percepção.
"Foi a experiência mais difícil de nossa equipe. E a maior prova de compromisso com as pessoas que assumiram, como seres humanos. Cuidar de um paciente, sabendo que ele o poderia te contaminar. Fazer exames radiológicos sabendo que poderia sair do equipamento para o lugar do paciente foi a maior prova que nossos médicos, enfermeiros e assistentes deram na pandemia", relata emocionada.
- Conheça Dra. Lurdinha, a médica que fez da Unimed Recife a terceira maior cooperativa médica do Brasil
- Para economista, PIB negativo do terceiro trimestre só mostra economia brasileira em estado de letargia
- Pernambucanas volta ao Recife com nova loja na Conde da Boa Vista
- Contas de energia e de telefonia podem baixar em 2022. Só depende do STF
A Unimed Recife perdeu 26 colaboradores entre médicos cooperados e funcionários. Entre eles, estava o pediatra Assuero Guerra - que ajudou a salvar dezenas de mães e seus bebês na maternidade da cooperativa - que decidiu ficar na linha de frente até ser contaminado e morrer vítima da covid-19.
“Se para um médico perder um paciente é uma dor imensa. Perder um colega que era referência no setor como ele e que decidiu não deixar suas pacientes doeu demais”, lembra a gastroenterologista, que há 15 anos decidiu fechar o consultório e repassar uma clientela consolidada para se dedicar à Unimed Recife, hoje com 186 mil vidas e faturamento de R$ 1,2 bilhão por ano.
O Hospital Unimed III, que acabou sendo uma referência em Pernambuco no atendimento da covid-19 na rede de medicina suplementar, faz parte de um complexo médico que a Unimed Recife opera na Ilha do Leite e que tem crescido bastante.
No mês passado, a Unimed Recife inaugurou um novo prédio de consultórios com foco em alta complexidades e oncologia, onde a cooperativa investiu R$ 45 milhões, sendo R$ 25 milhões deles no sofisticado robot Davinci Xi.
“Pagamos a última prestação no mês que ele começou a operar”, comemora a gestora que entrou no movimento cooperado em 1987, levada, pelo então presidente da Unimed Recife, Lívio Malinconico.
SERVIÇO TEMPORÁRIO
Era para ser um serviço temporário de auditoria das faturas da pequena cooperativa, depois de ela ter sido identificada pelo trabalho na área que fazia no antigo Inamps, em Pernambuco.
Dra. Lurdinha foi e nunca mais deixou a Unimed. Virou secretária, vice-presidente até que, em 1996, foi eleita presidente, sendo sucessivamente reeleita até hoje. Mas ela insiste que não teria conseguido sem a colaboração do médicos Divaldo Bezerra (Diretor Tesoureiro) e Antônio Cruz (Diretor Secretário).
Desde então, a “Doutora Lurdinha” virou uma espécie de marca no cooperativismo médico no Brasil, tendo ajudado a criar outras Unimeds em Pernambuco, uma federação e ter uma presença firme no movimento nacional pela dedicação. Entre outras participações, ela é Presidente do Conselho de Administração da Federação Pernambucana de Unimeds, entidade que ajudou a criar.
O crescimento da Unimed Recife foi tamanho ao ponto de ser a terceira maior cooperativa no Brasil, e de certa forma mostra a performance da executiva de fala suave e gentil, mas conhecida pela dureza nas negociações.
"Não foi fácil deixar meus pacientes", admite a médica, "como não foi fácil retirar milhares de horas do convívio da família, a despeito de sua compreensão com nosso trabalho na Unimed", esclarece.
“Mas não dá para dirigir uma companhia como a nossa entre os plantões ou na hora do almoço. Especialmente agora com a mudança radical que o mercado de saúde suplementar experimenta no Brasil com a chega de grandes grupos de investidores” avalia a executiva.
MÃE E MULHER DE MÉDICOS
A médica Maria de Lourdes é mulher de médico e mãe de médicos. Conheceu seu marido Wilhelm Cândido da Silva nos bancos da Faculdade de Medicina da UFPE, teve três filhos Júlio Gustavo, Danilo Otavio e Carlos Flávio, os dois últimos também médicos, e faz questão de destacar a compreensão e parceria dele com os meninos enquanto ela estava fora de casa, cuidando da Unimed.
"Wilhlen é meu colega de profissão, amigo nas horas difíceis, incentivador nos desafios e um pai dedicado. Hoje, é o companheiro de orientação na carreira dos rapazes", define o marido.
Para a executiva Maria de Lourdes, o espaço das Unimeds (hoje elas cuidam de 17,7 milhões das pessoas que tem planos de saúde, além de 4,6 milhões de medicina odontológica) está assegurado pois as cooperativas vão continuar, independentemente, de qual seja a concorrência.
“Mas o nosso desafio é ser competitivo dentro de uma filosofia horizontal como é o cooperativismo”, adverte a executiva.
Ela lembra que, numa cooperativa, o médico é o dono. Aliás, esse é um slogan dela. Na Unimed Recife, por exemplo, são exatos 2.226 donos.
“Não podemos dizer a nenhum deles que não podem exigir este ou aquele exame. Ele sabe o que precisa e o que é necessário para seu paciente. Claro que sabem que tem responsabilidades como cooperado. Mas, no nosso movimento ele é quem comanda quando atende seu paciente. Isso não está e nunca esteve em discussão entre nós”, esclarece a presidente da Unimed.
EMPRESA DE MIL DONOS
Tomar conta de uma empresa com mais de 2,2 mil não é fácil e nem simples. Claro que, como a Unimed Recife vem performando bem, a vida da diretoria liderada por Dra. Lurdinha é menos tensa. “Mas exige ainda mais transparência”, lembra.
Há quatro anos, quando a Unimed Recife inaugurou o Unimed III - que agora virou um complexo com hospital geral e uma ala de alta complexidade -, a cooperativa virou referência nacional ao automatizar os procedimentos da portaria ao destino de resíduos.
O sucesso do Unimed III abriu as portas para um projeto de interligação de todas as demais unidades de modo a que, em breve, o paciente seja acompanhado em tempo integral, mirando a prevenção que, na outra ponta, resulta em menos tempo de internação quando necessário.
“Aceleramos esse controle com a assistência pós-covid-19. E inicialmente estamos mirando o público 70+. Hoje, todo paciente da Unimed Recife que precisa de uma internação entra no programa de controle e acompanhamento. É a forma de passamos a cuidar diretamente para ajudá-lo a não precisar ser internado novamente."
FORTE NA TELEMEDICINA
Medicina preventiva no Brasil é um desafio enorme. Mas a covid-19 abriu um grande espaço quando o setor médico patinava com resistências mútuas de médicos e pacientes. Mas quando os pacientes não puderam ir ao consultório e a covid-19 se instalou, as duas partes mudaram de opinião.
“A telemedicina é uma tendência global que veio para ficar. Mas numa Unimed ela tem desafios maiores de uma empresa privada”, afirma Dra. Lurdinha.
“Não basta atender o cliente pelo smartphone, tablet ou a TV da sala conectada à internet", diz Maria de Lourdes lembrando que, embora hoje, 75% dos procedimentos médicos sejam feitos em unidades próprias, o paciente tem direito de escolher ou não um serviço alternativo prescrito pelo seu médico.
Ter um quarto de seu faturamento feito por terceiros significa mais controle nas despesas dentro de casa. A Unimed Recife tem 3.800 funcionários - que ela só se refere como colaboradores - e a implantação de novas unidades exige investimento pesado permanente em TI.
URGÊNCIA DE INVESTIMENTOS
E os números estão ficando altos. O Complexo Hospitalar Unimed Recife (CHUR) é um hospital tem foco em procedimentos de alta complexidade, investimentos de R$ 40 milhões de dinheiro próprio em equipamentos, sendo R$ 25 milhões apenas num robot. Também sem financiamento bancário. A CHUR tem 20 leitos de UTI, sendo dois de isolamento; 90 de enfermaria; 90 apartamentos, onde cinco deles são voltados para o isolamento dos pacientes e além de seis apartamentos dedicados especificamente ao transplante de medula óssea.
Ela aproveita para contar um exemplo das dificuldades das cooperativas médicas do Nordeste em obter financiamento no sistema bancário brasileiro.
Há cinco anos, a cooperativa decidiu construir um novo hospital maternidade. Não consegui financiamento nem nos bancos públicos. A cooperativa decidiu fazer sozinha se autofinanciando. "Passamos a reter entre 9% e 10% das faturas dos nossos cooperados por alguns anos. Hoje, o nosso HDMI está pago e funcionando", comemora. O Complexo Hospitalar Geral Materno Infantil junto com a expansão do Hospital Unimed Recife I (HUR I), que fica na Praça Chora Menino, na Ilha do Leite.
REFERÊNCIA NA ONCOLOGIA
Mas em complexos como o que junta o Unimed III e o CHUR também se abriu uma oportunidade de edifícios construídos por investidores sob demanda (build to suit) que a cooperativa aproveitou.
“Mas eu só loco o prédio”, esclarece Doutora Lurdinha, “do mobiliário ao equipamento de ponta tudo nós compramos e sem financiamento.
A questão das dificuldades de financiamento fizera instituições apostarem no crescimento de cooperativas de crédito, a Unicreds que hoje são grandes parcerias das cooperativas médicas.
Foi uma decorrência do mercado e desejamos que elas se fortaleçam e que aproveitem esse momento que as startups surgem a todo momento e que o sistema cooperativista também quer se beneficiar, aposta a executiva.
CONTORNANDO A FALTA DE CRÉDITO
Segundo a médica, apesar das dificuldades do financiamento dos planos oferecidos pela rede de medicina suplementar por força da perda de poder aquisitivo das pessoas, o sistema cooperado está mostrando que as empresas podem confiar nele pelo seu compromisso.
Está no DNA do médico cooperado ser um profissional que ver o paciente com muito mais cuidado e atenção. Talvez esse seja o novo maior diferencial competitivo, o que explica o crescimento de nossa participação no mercado.
A pandemia, reconhece, ajudou o brasileiro a cuidar da saúde. E o número de adesões mostra que as cooperativas cresceram.
“Mas isso se deu porque o Brasil desenvolveu, além do SUS, um ambiente regulado para a medicina suplementar. E foi estratégico ter uma ANS que aprendeu e ajudou a fortalecer as empresas transparentes”, analisa a executiva.
A Unimed Recife está comemorando 50 anos com quase 170 mil vidas, tornou-se a terceira maior companhia do segmento cooperado no mercado e este ano deve passar de R$ 1,2 bilhão de receitas.
Para Dra. Lurdinha, a marca chega numa hora de grandes movimentações no mercado privado com novas empresa, companhias abertas e players internacionais.
“Nós crescemos na dificuldade. O dinheiro sempre foi curto. Vamos continuar crescendo com certeza. Talvez porque o nosso diferencial no mercado seja o compromisso dos nossos médicos com o paciente. Isso é a marca da Unimed, garantir que ele seja atendido pelo dono”, resume a executiva lembrando o slogan das Unimeds.