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Comércio teme que sucesso da Black Friday canibalize vendas do Natal com a antecipação de compras em novembro

A ampliação do faturamento na última semana da mês, ou a Black Week, está matando as vendas no mês de dezembro, quando, tradicionalmente, não apenas se vende mais, mas se pratica as melhores margens

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Fernando Castilho

Publicado em 07/12/2021 às 6:40 | Atualizado em 07/12/2021 às 7:30
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O varejo está começando a rever a Black Friday. Agora que as empresas fecharam o faturamento do mês de novembro, ou o Black November, empresários e dirigentes do setor de comércio estão iniciando uma conversa sobre o fenômeno da Black Friday no Brasil.

Isso porque a ampliação do faturamento na última semana do mês, ou a Black Week, está matando as vendas no mês de dezembro, quando, tradicionalmente, não apenas se vende mais, mas se pratica as melhores margens.

A questão está ligada à redução drástica das margens devido à fortíssima concorrência entre as empresas que entram na promoção e a expectativa de vendas no Natal, que nos últimos tempos perderam força, uma vez que o consumidor antecipa a maior parte das compras, reduzindo sua capacidade em dezembro.

O problema é que, ao contrário do que acontece nos Estados Unidos, onde o varejo se desfaz do estoque encalhado realizando um baixo lucro, mas ampliando o capital de giro, no Brasil o comércio está antecipando uma venda certa de final de ano, com perspectivas de margens bem melhores, por uma promoção que comprime o lucro e praticamente inviabiliza as vendas do Natal.

No Brasil, a Black Friday virou um problema de performance para vários setores que travam uma batalha feroz, inclusive com produtos recém-lançados, praticando um canibalismo comercial que perde sentido na medida em que não trabalha com estoque no depósito, para vender produto novo entregue pela indústria numa antecipação não de capital de giro, mas de perda de lucratividade.

O presidente da CDL-Recife, Fred Leal, admite que o varejo está conversando sobre se vale a pena manter a Black Friday brasileira da forma como está. Segundo o dirigente lojista, este ano, a crise levou milhares de empresas a anteciparem suas vendas já na Black Friday, "que virou Black Week", numa inversão da lógica da proposta americana, onde o lojista entra dezembro com estoque novo, com mais capital de giro e vendendo lançamentos com margens maiores, porque é no Natal que o consumidor está com mais dinheiro na mão.

Rovena Rosa/Agência Brasil
São Paulo - Movimento no comércio da rua Teodoro Sampaio, em Pinheiros, durante o Black Friday (Rovena Rosa/Agência Brasil) - Rovena Rosa/Agência Brasil

A expectativa é de crescimento de vendas, mas com redução das margens na ponta devido à briga dos grandes varejistas em ter produtos com preços menores.

Um outro fator que preocupa o comércio é que na Black Week o consumidor brasileiro acaba usando sua margem do cartão de crédito, deixando as pequenas compras para dezembro, para guardar o dinheiro para pagar a fatura integral.

A Black Friday vem se consolidando ano a ano como uma das datas comerciais mais importantes para o varejo nacional.

O comércio eletrônico brasileiro totalizou R$ 4,2 bilhões em vendas, o que representa aumento nominal de 5% em relação a 2020, de acordo com o NielsenIQ|Ebit, referência de mensuração e análise do setor no Brasil.

A instituição também apontou que o ticket médio subiu 16%, para R$ 753 em média, apesar da redução do número de pedidos em 9%. Outro fator interessante é que os consumidores fizeram compras médias com valores mais elevadas.

BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
Compras da Black Friday no Shopping Recife. - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM

A Black Friday também virou o desafio de logística. Os Correios tiveram que colocar toda a sua capacidade logística e rede de atendimento voltadas para atender a maior data do comércio varejista do ano. Os Correios contabilizaram, até a última sexta-feira (3), o recebimento de mais de 18,9 milhões de encomendas nesta Black Friday 2021. Esse volume supera a marca do ano passado em 42%, se comparado com o mesmo período.

Outra coisa sobre o fenômeno da antecipação é o uso de cartões de pagamento da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs). Entre os dias 25 e 26 de novembro, as compras com cartões de crédito, débito e pré-pago superaram R$ 28 bilhões na Black Friday deste ano no Brasil, com crescimento de aproximadamente 22% em comparação com 2020.

Turismo

O fenômeno influencia até mesmo no Turismo. A plataforma Decolar, uma empresa de viagens líder na América Latina – divulga o ranking dos 15 destinos nacionais e 15 internacionais mais procurados durante a campanha da Black Friday, que começou com o Esquenta Black Friday em 22 de novembro e terminou em 28 de novembro.

Nesta edição, os viajantes tinham diversas opções de produtos e serviços com até 60% de desconto no site ou aplicativo.

No levantamento, que considera o interesse por pacotes de viagens nos canais de vendas da Decolar, Natal é destaque no pódio dos destinos nacionais. Outras oito cidades nordestinas aparecem na lista (Maceió, Fortaleza, Recife, Porto Seguro, Salvador, Porto de Galinhas, João Pessoa e Aracaju).

No ranking há também quatro no Sul (Florianópolis, Foz do Iguaçu, Porto Alegre e Gramado) e outros dois destinos no Sudeste (Rio de Janeiro e São Paulo).

BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
MOVIMENTAÇÃO DAS COMPRAS NA BLACK FRIDAY NO RIOMAR RECIFE E NO CENTRO DA CIDADE - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM

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