Presidente que trouxe "de volta" a inflação, Bolsonaro vai "lacrar" até a eleição para agradar sua base digital
O presidente até compra vacinas: este ano, por exemplo, o governo já gastou R$ 17,8 bilhões, mas ele continua achando um desperdício
Esqueça o Passaporte Vacinal. O governo só vai editá-lo depois que Kássio Nunes Marques e André Mendonça - que assumiu semana passada - devolverem o processo após pedirem vista. Não espere que o Ministério da Saúde compre vacinas para crianças. E se acostume com os ataques do presidente a instituições como a Anvisa.
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O presidente não acredita em vacinas e sabe que uma parte de seus apoiadores também não, e fará tudo o que for preciso para manter mobilizada sua base nesse assunto. O presidente até compra vacinas: este ano, por exemplo, o governo já gastou R$ 17,8 bilhões, mas ele continua achando um desperdício, porque ainda acredita que teria sido melhor apostar na tese absurda da imunidade de rebanho natural.
Terem morrido mais 620 mil pessoas, para ele, é o que em linguagem de guerra chama-se "danos colaterais de civis", um eufemismo para se referir às mortes num conflito militar. Portanto, ele vai "lacrar" nesse tom até o Carnaval.
O presidente também sabe que não tem o que entregar na economia. O ministro Paulo Guedes não é o que ele imaginava. Bolsonaro está convencido que o economista não tem liderança, capacidade intelectual e é um grande conversador para explicar erros e não entregar resultado.
Ele já sabe que passará a história como o presidente que trouxe de volta a inflação, embora Dilma Rousseff também tenha despertado o “Dragão da Inflação” que nos levou à crise de 2015 e 2016.
Mas o que consolida essa imagem é a volta da fome. Isso não o incomoda, como não incomodou o absurdo número de mortes por inação do seu governo.
O tema fome só serve para justificar o Auxílio Emergencial, cujo motivo que o moveu foi criar um programa com um outro nome, embora tenha desorganizado o escopo do Programa Bolsa Família, que pagava aos inscritos a partir do compromisso com a escola e de acordo com o número de filhos assistidos.
O Auxílio Emergencial, ao pagar R$ 400,00 para todos os inscritos, comete uma enorme injustiça. Paga R$ 400,00 às mães com três filhos e pessoas inscritas no CadÚnico sem parentes, e que antes recebiam R$ 150,00. De certa forma, o Auxílio Emergencial amplia a fome entre as famílias com crianças.
O presidente não tem uma percepção mais profunda da inflação. Ele acredita que é culpa do mundo depois da reativação da economia, e que o Brasil e seu governo não poderiam fazer nada. Ele vai continuar a dizer que desde o começo de 2020 defende a economia aberta. E que os governadores e o STF o impediram de não fechar emprego.
Não é verdade, mas atribuir a culpa ao mundo ajuda a explicar a volta da fome à sua base. É importante observar que depois de três anos, Bolsonaro tem um base consistente de até 20%, que o segue e aceita, por exemplo, esse argumento de que a inflação voltou porque o Brasil não seguiu trabalhando e sem vacinas.
Finalmente, o presidente acha que seu governo agiu certo em relação às políticas do meio ambiente. Ele tem absoluta certeza de que a Amazônia, “por ser uma floresta úmida”, não queima. É uma estultice, mas ele acredita.
O presidente tem absoluta certeza de que o aumento do desmatamento é super dimensionado pelos institutos do governo que avaliam o clima, e se ressente do ministro da C&T, Marcos Pontes, de não ter mudado tudo e mostrado que a Amazônia não queima, que não tem o desmatamento que ocorreu no seu governo e que há uma conspiração internacional comunista contra o Brasil.
De novo: essa visão é de uma obtusidade córnea, mas a sua base de apoiadores tem essa visão também, que resiste nas redes sociais aos fatos.
O presidente, a partir de agora, vai “lacrar” em todos os assuntos que animarem a sua base. Bolsonaro acredita que poderá repetir o fenômeno de 2018, quando para não votar no candidato de Lula, um terço dos eleitores o escolheram.
Ele acha que em 2022 estará em melhores condições, porque agora o embate se dará com o próprio Lula.
Portanto, o risco não está na eleição de um preposto como teria sido Fernando Haddad, mas no próprio Lula. Bolsonaro acha que se for ao segundo turno, derrota a esquerda pelo perigo que ela representa se voltar ao poder, ainda mais com Lula.
Até porque o discurso de combate à corrupção agora pertence a Sérgio Moro. Por isso, ele vai “lacrar” geral.