Fenearte em dezembro foi boa, mas artesãos querem voltar para calendário tradicional em julho
Em dez dias de evento, a maior feira de artesanato da América Latina recebeu mais de cinco mil expositores em 700 espaços, numa área de 30 mil m²
Maior feira dedicada ao artesanato no Brasil, a Fenearte 2021 foi realizada este ano em dezembro, com o objetivo de retomar o calendário de modo a não desagregar a memória que adquiriu nas 20 mostras anteriores. Foi quase um ato de resistência à covid-19.
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De fato, para uma feira que tradicionalmente é um motor de tração para a produção do setor no segundo semestre, em função das encomendas de atacado que acontecem na mostra, foi um sucesso.
Em dez dias de evento, a maior feira de artesanato da América Latina recebeu mais de cinco mil expositores em 700 espaços, numa área de 30 mil m². O governo gastou R$ 7 milhões e a mostra gerou cerca de 2,5 mil vagas de empregos temporários, movimentando próximo de R$ 38 milhões ao longo da feira.
O Governo do Estado comemora um maior ticket médio das vendas feitas aos 180 mil visitantes (número bem menor que outras edições), sabendo que fazer a mostra em dezembro não é o melhor momento.
Tanto que a próxima voltará ao mês de julho com outro desafio: travar a pauta do Centro de Convenções por menos dias, já que, em breve, ele será gerenciado por empresa privada que terá datas muito mais apertadas.
O problema da Fenearte é que ela é uma feira onde o expositor só chega com seus produtos dois dias antes da abertura. O Governo, na prática, cuida de tudo. A locação do Centro de Convenções não é uma operação normal de locação entre empresas, cuja média é de 10 dias entre a entrada dos montadores de estande e fechamento e entrega da área desocupada.
Isso acaba travando a pauta do Centro de Convenções para o mês. Num período de pressão por datas, como é julho num ano normal, seria perder ao menos duas outras datas de feiras no espaço da Fenearte.
Para a Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (Adepe), que a promove a feira, está na hora de rever uma série de ações. Em especial, as rodadas de negócios que, na prática, asseguram a produção dos artesãos por ao menos um semestre e que, este ano, foram quase nulas.
O Governo de Pernambuco naturalmente comemora. Segundo a Adepe, a Rodada de Negócios realizada pelo Sebrae no Estado gerou cerca de R$ 5 milhões, entre negócios diretos e previstos para os próximos 12 meses. E foi até maior que a expectativa inicial de R$ 2 milhões, ocorrendo 126 encontros entre 20 empresas compradoras e 106 artesãos.
Mas todos reconhecem que não faz sentido fazer a feira em dezembro e disputar mercado com as compras de Natal. O objetivo da Fenearte é gerar receita imediata, mas capital de giro para manter a produção a ser entregue até outubro, de modo que ela esteja espelhada pelo Brasil em novembro e dezembro.
Mas este ano, a Fenearte 2021 foi uma feira de varejo para o consumidor final.
Deu venda para artesãos com peças autorais com maiores valores, mas não gerou pedido no atacado. Mas a questão é como, na volta ao calendário de julho de 2022, vender mais no atacado; apresentar novos talentos e dar visibilidade ao artesanato local - que pela diversidade, é a estrela da feira. Isso não quer dizer que os artesãos de outros estados e distribuidores do produto de outros países não devam estar ali.
O presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (Adepe), Roberto Abreu e Lima comemora, reafirmando a homenagem ao Movimento Armorial. Com o tema “É Festa no Reino da Arte”, o evento foi palco para a demonstração mais genuína das nossas riquezas culturais. Arte, decoração, gastronomia, cultura popular, moda e música.
Mas não se pode esquecer que a Fenearte é uma mostra do que Pernambuco produz. O fato de ocupar 22 mil m² só constata o que os artesãos do Estado são capazes de fazer. Eles são as estrelas.
Roberto Abreu e Lima avalia que a questão da venda de atacado que a Fenearte gera, e que foi um dos motivos de sua criação, precisa ser revista porque, além de segmentos que usam a mostra para assegurar produção, hoje já desenvolveram canais próprios de contatos, que aliás ficaram mais estreitos com as vendas online durante a pandemia.
Mas ele reconhece que a mostra é um grande showroom para os compradores identificarem novos talentos que a feira sempre apresenta. Isso ajuda que as novas gerações sejam incluídas na vitrine para atrair grandes compradores. Mas não se pode dizer que agradou a todo mundo.
Um dos setores que não alcançaram vendas de atacado na Fenearte foi o de têxteis. Tacaratu, maior centro de redes artesanais, teve dificuldades porque disputou mercado com as compras de fim de ano, além de uma localização inadequada no pavilhão de feiras.
A presidente da Cooperativa dos Artesãos Têxteis de Tacaratu, Cleonice Araújo, se queixa da colocação do estande diferente dos anos anteriores e da permissão da presença de atravessadores vendendo seus produtos como se fossem de outro município.
A Fenearte também é um showroom de empresas mais organizadas que têm proposta diferentes. Este ano, uma indústria de redes da Paraíba ocupou um espaço central que era reservado aos produtores de Pernambuco. Tudo bem que mostrou a produção de um estado do Nordeste. Mas é importante não esquecer que a mostra é para o artesão pernambucano em primeiro lugar.
Isso não é esquecido, até porque a riqueza da produção pernambucana ajuda os organizadores da mostra. E o artesanato foi a principal estrela da Feira: dividiu espaço com uma programação diversificada que contou com Salão de Arte Popular Ana Holanda, Salão de Arte Popular Religiosa, Galeria de Reciclados, Espaço Janete Costa, Alameda dos Mestres.
Também teve a Passarela Fenearte e um Boteco de Cervejas Artesanais da Associação Pernambucana de Cervejarias Artesanais (Apecerva), além da Exposição Fotográfica “O Caminho do Artesanato de Pernambuco” de Fred Jordão, e a Cozinha Fenearte, numa nova praça de alimentação e oficinas gratuitas.
A Fenearte ficou muito grande e talvez seja necessário rever a presença de participação internacional, que acaba repetindo o que já é mostrado na cidade em mostras de outros locais ao longo do ano, em outros espaços.
Embora esse seja um segmento que agrade muito ao público de menor renda, que este ano não esteve presente como nos anos anteriores, revelando a queda de renda da população.
Mas, como resume o Mestre Evilásio Leão, filho do Mestre Baé, "para uma feira atípica, representa muito para a gente na expectativa que no ano que vem, a Fenearte volte para o calendário tradicional de julho".