Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

JC Negócios

Por Fernando Castilho
[email protected]

Informação e análise econômica, negócios e mercados

Coluna JC Negócios

Sem gerar poupança, Pernambuco vive ciclos de crise e crescimento medíocre quando não toma empréstimos

Nos últimos três governos (de oito anos), governadores alternaram fartura no caixa com dividas de empréstimos

Fernando Castilho
Cadastrado por
Fernando Castilho
Publicado em 15/02/2022 às 22:00
DIVULGAÇÃO/PSB
CICLOS Eduardo Campos recebeu dívidas deixadas pelo governo Jarbas, arrumou a casa, fez investimentos, mas deixou novos débitos para seu sucessor - FOTO: DIVULGAÇÃO/PSB
Leitura:

Independentemente de quem seja o próximo governador de Pernambuco, a perspectiva de acelerar um pouco mais o crescimento já está dada, uma vez que nos últimos 24 anos repetiu-se um padrão onde o eleito recebe o Estado em crise, organiza as contas e o entrega ao sucessor.

Este, por sua vez, acelera os investimentos - com base em empréstimos e transferências da União - e o entrega, em crise, ao sucessor, que por sua vez reinicia o processo de restauração até que o novo eleito vai poder gastar de novo.

O ciclo já dura 24 anos. Começou com as administrações Jarbas Vasconcelos/Mendonça Filho, que recebeu o Estado em grave crise após o terceiro governo Miguel Arraes.

Jarbas conseguiu alavancar recursos com a venda da Celpe, mas pagou um valor equivalente ao que recebeu pela empresa em dívidas deixadas por Arraes e, oito anos depois, entregou o Governo com as contas organizadas a Eduardo Campos, a quem apoiou na campanha.

Eleito no segundo governo Lula, e com forte apoio dele, Eduardo Campos catapultou os investimentos já no primeiro mandato. Mas fez isso com empréstimos contraídos em dólar e com um expressivo volume de transferências voluntárias do Governo Federal.

Foi o período de maior crescimento em 30 anos, com a chegada de investimentos como o Estaleiro Atlântico Sul (negociando ainda por Jarbas Vasconcelos), seguido da PetroquimicaSuape (PQS) e da Refinaria Abreu e Lima, cuja pedra fundamental tem as digitais de Lula, Hugo Chávez e Eduardo Campos.

O sucesso de sua administração o levou a disputar a presidência da República em 2014, na condição de ter feito uma administração revolucionária nos sete anos em que esteve à frente do Governo de Pernambuco.

DIVULGAÇÃO/PSB
PERNAMBUCO Eduardo Campos foi o único governador na história recente a conseguir eleger o sucessor - DIVULGAÇÃO/PSB

PAULO HERDOU AS DÍVIDAS

Escolhido para continuar sua obra, Paulo Câmara sofreu - com os pernambucanos - a dor da perda de um dos políticos de maior perspectiva num trágico acidente aéreo.

Mas a entrega do Governo a Paulo Câmara, depois do período de transição com João Lyra Neto, veio junto com a repetição do desastre nas finanças que Jarbas herdara de Miguel Arraes, agravada com a crise do segundo Governo Dilma Rousseff, que nos legou o segundo processo de Impeachment do Brasil em menos de 30 anos.

O fenômeno da “conta herdada” a pagar se repetiu. O atual chefe do Executivo pernambucano cumpriu diligentemente a missão de pagar os empréstimos contratados e tentar refazer as finanças públicas como, aliás, na época fez o secretário da Fazenda, Jorge Jatobá, e depois a secretária Maria José Briano, no governo Jarbas.

Desta forma, quando se observa o foco do governo Paulo Câmara na Economia, é possível observar a quantidade de energia que ele gastou, ao lado do secretário da Fazenda, Décio Padilha, apenas para pagar os empréstimos contratados em dólar feitos pela gestão anterior.

Para completar, ele precisou atravessar a crise de 2015 e 2016, quando Pernambuco - que teve taxas de crescimento semelhantes à China – viu desaparecer 50 mil empregos no seu Estado. Além de ver paralisada a construção de projetos como a Refinaria e da PetroquímicaSuape, esta vendida ao grupo empresarial mexicano Alpek, que está finalizando o projeto com sucesso.

O governo Paulo Câmara também viu a paralisação dos negócios do Estaleiro Atlântico Sul eliminando os sete mil empregos que chegou a ter, além dos 20 mil da refinaria, que também parou no meio do caminho e hoje funciona apenas com a metade de sua capacidade projetada.

Clara Gouvêa / JEEP
Fábrica da Jeep - Clara Gouvêa / JEEP

JEEP MUDA PIB INDUSTRIAL

Felizmente, Pernambuco tinha conquistado a planta da Jeep, depois FCA e atual Stellantis, que com o seu sucesso de mercado, definitivamente, ajudou que a queda no nosso parque industrial não fosse mais acentuada.

Apesar de tudo, e depois de seis anos de deserto, parece claro que Paulo Câmara pode respirar num pequeno Oasis.

Ano passado, por exemplo, ele conseguiu investir R$ 1,8 bilhão. É bem menos que estados como o vizinho Alagoas, que catapultou a receita de investimentos com a venda da sua companhia de saneamento (Casal) com um ágil que surpreendeu o mercado.

Mas um estudo (RROE do 6º Bimestre de 2022) da Secretaria Nacional do Tesouro, ainda não disponível para consultas e antecipado, na semana passada, a assinantes do site Poder 360, revela que Pernambuco foi o 17º em investimentos em 2021. Atrás de estados menores como Alagoas (R$ 3,9 bilhões) e Piauí (R$ 1,9 bilhão).

Tudo isso apenas reforça o modelo de como o Estado de Pernambuco não consegue se libertar da incapacidade de gerar poupança suficiente que o habilite a se colocar como um player regional capaz de acelerar o crescimento sem depender tanto da ajuda da União e de empréstimos em dólar.

Mas o governador teve um pouco de sorte, em 2021, quando o dólar explodiu. É que a desvalorização do real pegou Pernambuco com a conta já no final dos empréstimos de modo que ele hoje tem um endividamento de 36,14% de sua Receita Corrente Líquida. Imagina uma valorização do dólar quando, em 2015, Pernambuco devia 72,77% do que arrecadava no ano?

Assim, na próxima eleição, o sucessor de Paulo Câmara terá situação semelhante à que Eduardo Campos encontrou, ao menos, em capacidade de empréstimos.

Heudes Regis/SEI
Paulo Câmara na PE-275, em Jabitacá, distrito de Iguaracy, pela estrada.... - Heudes Regis/SEI

O governador espera entregar, além dos R$ 1,8 bilhão de 2021, mais R$ 3,2 bilhões este ano, perfazendo um total de R$ 5 bilhões em dois anos.

É importante pontuar que o próximo governador terá algumas vantagens.

Os projetos da PetroquímicaSuape, em Suape e da Jeep (Stellantis), em Goiana estão consolidados. A RNEST já tem a decisão de ser concluída ainda no final do mandato do próximo governador.

E ela que está mudando a presença do Estado no segmento de petróleo no Brasil, por ser a mais moderna refinaria da Petrobras e focada 70% na produção de diesel, receberá US$ 1 bilhão (R$ 5,2 bilhões) para concluir sua planta.

E Pernambuco ainda tem o mérito de ter gasto bem na estruturação de uma rede de escolas de tempo integral que, nos próximos anos, fará a diferença em termos de educação de ensino médio.

Entretanto, o resultado desse ciclo é que, mesmo tendo elevado o tamanho do PIB em duas décadas, Pernambuco não conseguiu gerar poupança suficiente que o permita a não depender de empréstimos e da boa vontade do governante de plantão na União.

BRIGA COM TRÊS PRESIDENTES

Ao longo dos dois mandatos, Paulo Câmara brigou com Dilma, Temer e fez oposição a Jair Bolsonaro.

Ele viu as transferências voluntárias da União caírem, travando a capacidade de crescimento e sem poder contrair empréstimos. Entre 2013 e 2014, por exemplo, o Governo Lula transferiu voluntariamente R$ 1, 777 bilhão para Pernambuco. Em 2020 e 2021, foram apenas R$ 486 milhões.

Bom, ele ao menos pode comemorar que entregará o Estado com as contas em dia, mas longe de ter gerado um grande programa de investimentos.

Na verdade, ao menos até agora, o Governo de Pernambuco não consegue sinalizar para a sociedade aonde quer estar em 2030 e 2040.

 

BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
A principal novidade do marco legal é liberar um novo regime ferroviário no País, chamado de autorização - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM

Mesmo contando com ferramentas importantes como o complexo Portuário de Suape e os demais projetos de investimentos em energia limpa, que nos colocam entre os cinco maiores polos de investimentos de energia solar e eólica, para onde estão previstos investimentos de mais R$ 20 bilhões.

E existe a perspectiva de que possa ter a Transnordestina chegando ao Porto de Suape, além de um pacote de geração de energia de hidrogênio verde.

Talvez falte a capacidade intelectual de o Estado embalar um discurso de futuro.

Com menos que isso, o Ceará, por exemplo, consegue ter uma imagem muito mais de futuro que Pernambuco, já que o estado não pode se comparar o que planeja a Bahia.

Talvez isso se deva ao perfil do próprio Governo de Pernambuco, formado, essencialmente nos últimos 20 anos, por uma elite burocrática, ancorada nos quadros do TCE, da Secretaria da Fazenda e da Procuradoria Geral do Estado, sem a presença de empresários ou de quadros acadêmicos que possam ter visões de mundo mais amplas.

O próximo governador, portanto, herdará a parte do ciclo que ajudou Eduardo Campos. Mas também sem poupança para um maior crescimento, o obrigando a novos financiamentos. E, certamente, contratando uma conta a ser paga pelo sucessor.

 HÉLIA SCHEPPA / SEI
No Agreste Setentrional, Paulo Câmara anunciou investimentos de mais de R$ 57 milhões com o Plano Retomada - HÉLIA SCHEPPA / SEI

Comentários

Últimas notícias