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Após receber produtores de cana-de-açúcar, Bolsonaro autoriza importação de etanol. Indústria não acha necessário

Governo acredita que a medida vai acabar arrefecendo a dinâmica de crescimento dos preços na ordem de R$ 0,20

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Fernando Castilho

Publicado em 22/03/2022 às 11:00 | Atualizado em 22/03/2022 às 12:35
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Minutos após receber o presidente da Federação dos Plantadores de Cana do Brasil (Feplana), Alexandre Andrade Lima, enquanto debatia várias pautas do setor com os ministros da Economia; Agricultura; Minas e Energia; Meio Ambiente e Turismo no Palácio do Planalto, o governo autorizou a importação de etanol, surpreendendo o setor, que está iniciando a colheita da nova safra do Sudeste e Centro Oeste.

Andrade Lima dirige a entidade, que apoia Bolsonaro, e pediu a audiência para solicitar apoio da base do governo para a aprovação de um PL que inclui o setor no recebimento de CBios, além da garantia da continuidade da produção de cachaça de cana oriunda do corte manual e queima.

PRESIDENCIA FEPLANA
Bolsonaro recebeu Alexandre Andrade Lima enquanto presidente da Federação dos Plantadores de Cana do Brasil (Feplana), - PRESIDENCIA FEPLANA

E, certamente, ele ainda estava em Brasília quando o ministro Paulo Guedes anunciou que estava zerando o imposto de importação do etanol e de seis produtos alimentícios: café, margarina, queijo, macarrão, açúcar e óleo de soja. A medida passa a valer a partir da próxima nesta quarta-feira (23), quando for publicada no Diário Oficial da União.

Segundo o Fórum Nacional Sucroenergético, que representa a agroindústria produtora de etanol, açúcar e bioeletricidade em quinze estados produtores no Brasil, o setor se manifesta contra a medida de isenção de tarifa de importação do etanol, oriundo do exterior e notadamente dos Estados Unidos, sem que haja a devida contrapartida para nossas exportações de açúcar, cuja importação é fortemente taxada pelos americanos.

O governo calcula que zerar a alíquota do etanol vai fazer o preço da gasolina cair R$ 0,20 na bomba. “Nós temos uma estimativa que isso poderia levar a uma redução do preço da gasolina da ordem de 20 centavos na bomba. Isso é uma análise estática. Na prática, essa medida vai acabar arrefecendo a dinâmica de crescimento dos preços na ordem de R$ 0,20”, disse o secretário de Comércio Exterior, Lucas Ferraz.

Em nota distribuída na manhã de hoje, o segmento afirma que existe uma correlação no Brasil entre a produção de açúcar e etanol e a indústria americana, em que se usa milho tanto para a produção de etanol quanto para xarope de milho, adoçante usado naquele país.

E que está preparado para competir, mas as relações de comércio internacional devem ser bilaterais e com total equilíbrio em reciprocidade. Além disso, a entrada de produto estrangeiro pode afetar o planejamento das unidades de produção.

Minutos antes do anúncio do Ministério da Economia, Alexandre Andrade Lima destacou a ligação de Bolsonaro e o segmento dos fornecedores de cana ainda na pré-campanha, em função da sinergia pela defesa do agronegócio e família. Lima fez uma pequena retrospectiva e oficializou a posição da Feplana em apoiá-lo outra vez, agora em busca da sua reeleição à Presidência.

Mas segundo o Fórum Nacional Sucroenergético, o setor teme que intervenções no mercado sem que se tenha a devida análise de causas e consequências, venham a ter repercussão negativa para a geração de investimentos no nosso setor, justo em um momento em que o Brasil assume postura ousada no incentivo à produção e consumo de biocombustíveis, após a conferência do clima COP-26 em Glasgow.

A decisão de importar etanol surpreendeu o setor porque na segunda-feira Jair Bolsonaro participou do lançamento de medidas de incentivo à produção e ao uso sustentável do biometano. O combustível renovável é obtido pela purificação do biogás e pode substituir o gás natural, o diesel e a gasolina.

O programa dá ainda isenção a novos projetos da cobrança de PIS/Cofins para aquisição de máquinas, materiais de construção e equipamentos.

 

Isac Nobrega
Bolsonaro no lançamento do programa de biometano no Brasil - Isac Nobrega

Curiosamente, ele tem mais potencial nos estados produtores de etanol. O total de investimento previsto é superior a R$ 7 bilhões, com geração de pelo menos 6.500 empregos, na construção e operação das novas unidades. A ideia é construir 25 novas plantas em seis estados (SP, RS, SC, GO, MT, MS).

A União Nacional do Etanol de Milho (Unem) também se manifestou contra a decisão do Governo Federal de zerar a alíquota para importação do etanol. A entidade acredita que a medida poderá gerar efeitos adversos e indesejados num momento de instabilidade do mercado, tais como a insegurança jurídica, aumento de custo para indústria nacional, inibição da geração de emprego e o processo de desinvestimento.

Segundo o Governo, a redução do imposto sobre o etanol ajudará na queda do preço da gasolina, já que o combustível vendido no posto precisa estar misturado com o produto. Cada litro de gasolina precisa ter pelo menos 25% de etanol, conforme a legislação brasileira.

Os produtores ficaram surpresos porque não foi feita nenhuma consulta técnica. Segundo o consultor Plínio Nastari, o etanol tem demonstrado sua força competitiva agora, diante da escalada de preço da gasolina e da recuperação parcial da safra de cana, prejudicada pela crise hídrica.

"O mix de produção da safra de cana deve ser mais alcooleiro, o que vai fazer com que o etanol chegue ao consumidor a preços mais competitivos. Esperamos que a queda do preço chegue rapidamente ao consumidor, na bomba. Isso é fundamental. Fundamental não apenas para o consumidor, mas para o país como um todo", disse.

Ele lembrou que o etanol fez o país economizar 25% da nossa reserva — nesse período, uma economia, em divisas, de US$ 610 bilhões.

DIVULGAÇÃO
CORTE DE CANA DE AÇÚCAR CUJA SAFRA COMEÇA EM MAIO - DIVULGAÇÃO

Na verdade, o preço do etanol está subindo já a partir das usinas que ainda têm o estoque antes de iniciar a safra 2022/2023. As cotações dos etanóis hidratados e anidros subiram no mercado spot do estado de São Paulo na semana passada, conforme dados do Cepea apontam.

Entre 14 e 18 de março, o Indicador Cepea/Esalq semanal do hidratado fechou a R$ 3,2827/litro, alta de 3,86% frente ao do período anterior. No caso do anidro, o Indicador fechou a R$ 3,6256/litro, avanço de 8,38%.

Indicador Semanal do Etanol Hidratado Combustível Cepea/Esalq revela que o preço do etanol nas usinas estava em R$ 2,8743 em fevereiro, e subiu para R$ 3,1215 esta semana.

Esse aumento, segundo os postos, tem pressionado repasses ao preço da gasolina mesmo sem reajustes nas refinarias. Segundo a ANP, o preço médio da gasolina no país subiu 0,2% esta semana, para R$ 6,092 por litro. Em um mês, o produto aumentou 4,1%.

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