Ironia administrativa. Em 2002, Fernando de Noronha veio para Pernambuco por estar abandonada pela União
O problema de Noronha é que a ilha custa caro e dá trabalho para administrar. Mas para Pernambuco é um cartão de visitas tão importante quanto Porto de Galinhas
Foi assim. Em 2002, o então governador Jarbas Vasconcelos (MDB) foi ao então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) para numa conversa com o então vice-presidente pernambucano Marco Maciel (PFL) falar dos problemas que estavam acontecendo no arquipélago de Fernando de Noronha.
Motivo: o arquipélago, então sob gestão da União, estava abandonado.
No governo José Sarney, ele foi entregue ao ex-assessor de comunicação Fernando Cesar Mesquita, que transformou o arquipélago num destino de finais de semana de autoridades federais.
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Pouca gente sabe, mas até então, o território de Fernando de Noronha tinha o mesmo tratamento dos quatro territórios que vieram a se transformar em estados e que ainda hoje têm a maior parte das suas despesas pagas pela União.
Fernando Henrique despachou na hora. Fernando de Noronha virou uma parte de Pernambuco administrada pelo governo do Estado.
O problema de Noronha é ele custa caro e dá trabalho para administrar. Mas para Pernambuco é um cartão de visitas tão importante quanto Porto de Galinhas.
Exige transporte de tudo e até mesmo um modelo de agricultura orgânica nunca pode ser ampliado lá pelos custos que poderia ter.
Para muita gente, Noronha deveria ser o showroom de todas as tecnologias de energia renováveis e um grande laboratório de ciências do mar.
Mas certamente não é nisso que o Governo Bolsonaro está pensando quando quer anular o "Contrato de Cessão de Uso em Condições Especiais da Ilha de Fernando de Noronha", assinado em 2002
Quando se fala de Nordeste, o nome Fernando de Noronha está entre os temas mais comentados. E para Pernambuco é mesmo um espaço estratégico.
Pode não ser para a União, já que a volta para uma gestão federal poderia prejudicar como prejudicou no passado os cuidados com a ilha.
Noronha foi administrada sempre como um problema para a União. Foi prisão militar, sofreu com entrada de plantas e animais que não pertenciam ao seu frágil ecossistema e ainda hoje sofre para administrar isso.
Especialmente depois que, assim como o Ibama, o ICMBio foram desmantelados. Ou seja, é muito pequeno para ser um estado e muito grande para ser um arquipélago com abrolhos. Tem gente morando e exige investimento.
Do ponto de vista econômico, é um polo interessante pela visibilidade internacional que a sua preservação feita por Pernambuco dá ao Brasil.
Desde a posse de Bolsonaro que Noronha está no radar do ministro do Turismo, Gilson Machado. Ele acredita que poderia potencializar o turismo de forma mais agressiva.
O que abre uma perspectiva de que tenha mesmo dado uma colaboração na decisão da AGU. Talvez pensando em devolver a ilha como uma unidade militar como foi no passado.
Ou talvez pensando em localizar ali um dos cassinos se a nova lei de jogo passar no Senado.
Há pouca chance de se ter um desfecho nos próximos dias. Mas ao menos a petição serviu para a imprensa tirar o foco do ministro da Educação, Milton Ribeiro, para colocar os olhos em Noronha.