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Sigilo sobre conversas de pastores com Bolsonaro revelam que ministro Milton Ribeiro falou a verdade sobre diálogos

Os pastores Gilmar e Arilton se reuniram com Bolsonaro ao menos três vezes no Palácio do Planalto e uma no Ministério da Educação, com a presença de Milton Ribeiro

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Fernando Castilho

Publicado em 13/04/2022 às 13:29 | Atualizado em 13/04/2022 às 14:21
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Como evangelizador e, portanto, um pastor que jamais deve mentir aos seus, o então ministro da Educação, Milton Ribeiro, falava rigorosamente a verdade quando, num encontro, disse a prefeitos que recebeu "um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar."

Ribeiro pediu demissão, a oposição articula uma CPI no MEC, mas a decisão do Gabinete de Segurança Institucional, ao negar um pedido do jornal O Globo para revelar, por meio da Lei de Acesso à Informação, a relação das entradas e saídas dos dois pastores no Palácio do Planalto, incluindo os registros que tiveram como destino o gabinete presidencial, indica que se essas informações forem divulgadas, o presidente passaria por constrangimentos.

Claro que, ao contrário do que diz o GSI, que alega como justificativa da recusa da solicitação que a divulgação dessa informação poderia colocar em risco a vida do presidente da República e de seus familiares, não faz qualquer sentido. Imagina a esposa do presidente e os seus quatro filhos correndo risco de vida porque o calendário de visitas dos pastores ao presidente foi revelado?

Ainda mais quando, esta semana, a AGU, numa manifestação ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), disse que o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro fez "menção indevida" ao nome do presidente Jair Bolsonaro (PL) no áudio.

DIVULGAÇÃO
Milton Ribeiro com o pastor Gilmar Santos - DIVULGAÇÃO

Uma coisa é Milton Ribeiro reconhecer para jornalistas o diálogo gravado. Outra bem diferente é o AGU dizer que ele está mentindo num documento oficial.

Na verdade, o que ficou claro é que o chefe do Executivo disse ao seu ministro para priorizar demandas dos pastores Gilmar dos Santos e Arilton Moura nas políticas públicas da pasta.

Tanto que o ministro adverte que "a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar". Nada mais verdadeiro para um "homem de Deus", como o ministro se apresenta.

O preocupante é o que veio depois. O general Augusto Heleno, do GSI, tem razão em decretar sigilo. Vai ver que numa dessas visitas se descobre o dia da ordem do presidente e as testemunhas?

Os pastores Gilmar e Arilton se reuniram com Bolsonaro ao menos três vezes no Palácio do Planalto e uma no Ministério da Educação, com a presença de Milton Ribeiro.

O problema é o que Gilmar Santos e Arilton Moura fizeram com essa informação. Eles instalaram um gabinete paralelo e saíram vendendo facilidades.

É importante não confundir as coisas. Nenhum prefeito ligado a qualquer deputado do Centrão teve problema para receber dinheiro do FNDE. Eles tratavam disso direto com o presidente do fundo, Marcelo Lopes da Ponte, ao lado do seu deputado.

AGÊNCIA SENADO
DEPOIMENTO Marcelo Lopes foi convidado pela comissão devido a denúncias de que os pastores Gilmar e Arilton pediram propina a prefeitos em troca da liberação de recursos do fundo - AGÊNCIA SENADO

O que esses pastores malas fizeram foi aproveitar o “mercado” que existia entre os prefeitos que não tinham padrinho ou que seus deputados eram da oposição.

Era nesse nicho que Gilmar Santos e Arilton Moura atuavam em nome de Ribeiro, dizendo que tinham prestígio com o presidente.

E tinham mesmo. Imagina o prefeito aflito precisando de uma obra que não saía e aparece um “homem de Deus” abrindo esses caminhos?

E a dupla achava que estava empoderada mesmo. Por exemplo, sabe-se hoje que nos últimos quatro anos, Arilton Moura esteve ao menos 90 vezes na Câmara entre janeiro de 2019 e março de 2022.

Dentre os destinos registrados no sistema de segurança estão ao menos dez gabinetes de parlamentares de diferentes legendas — e o do deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente.

Então, o que ficou claro com a decisão do GSI é que o evangelizador Milton Ribeiro não pecou. Falou a verdade. Agora, se Gilmar Santos e Arilton Moura agradeciam a Deus a comida do jantar com os prefeitos e depois falavam abertamente em propina, o pecado é deles.

E para a lei dos crentes, os dois vão arder no mármore do inferno.

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