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Consumo de cimento cai e volta ao patamar de 2021 após fim do auxílio emergencial; entenda

Setor da construção volta a sustentar compras de cimento depois da inflação e perda de poder de compra das famílias para fazer reformas

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Fernando Castilho

Publicado em 10/05/2022 às 10:30 | Atualizado em 10/05/2022 às 12:59
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A reforma da casa vai ter que esperar. Com os preços do cimento estabilizados num nível alto e as famílias sem poupança para melhorar suas casas, a ideia de dar uma geral na residência está cada vez mais sendo adiada.  

Um ano depois do fim do boom do consumo "formiguinha" de cimento - provocado pelo dinheiro do auxílio emergencial, que fez o Brasil saltar quase 10 milhões toneladas - a indústria cimenteira voltou aos níveis de 2021, quando os preços explodiram os custos da construção civil, mas sem perspectivas de crescimento em 2022.

As vendas da indústria do cimento, no mês de abril, seguiram a tendência de retração do primeiro trimestre de 2022 e registraram queda de 2,9% em comparação ao mesmo mês do ano passado, mas os preços não baixaram.

Na verdade, a comparação com abril de 2021 reflete o pico do consumo, quando o Brasil chegou a quase 65 milhões de toneladas em 12 meses, o que significa dizer que o País estabilizou o seu consumo num novo patamar, de quase 10 milhões acima do consumo antes da pandemia. 

Em termos nominais, foram comercializadas 5,2 milhões de toneladas, de acordo com o Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (SNIC), embora o volume de vendas de cimento por dia útil tenha apresentado alta de 3,8% em relação ao mês de março, influenciado pelos feriados de abril.

Mas o Brasil, de fato, voltou a consumir muito mais cimento que antes da crise do coronavírus.

Em abril de 2020, no auge da crise, a produção anual de cimento medida pelos 12 meses anteriores era de 54,2 milhões de toneladas. Um ano depois, quando as famílias começaram a fazer reformas por conta própria, o consumo saltou para 63,7 milhões, ampliando as vendas do setor em quase 10 milhões de toneladas, explodindo os preços no varejo.

O setor da construção civil, que também voltou às atividades, reclamou do aumento de custos, uma vez que, atrelado a ele, vieram os custos de ferro e todos os demais insumos.

Mas desde maio do ano passado que a média anual de 64,2 milhões de toneladas/ano vem se mantendo, o que indica que a indústria da construção civil ampliou suas compras, uma vez que as vendas do consumo formiguinha despencaram. Mas os preços dos insumos não baixaram.

José Paulo Lacerda/CNI/Direitos reservados
Indústrias, fábricas,Obras de construção, edifício sede do SENAI,construção civil - José Paulo Lacerda/CNI/Direitos reservados

Segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (SNIC), a indústria cimenteira convive com importantes reajustes em seus insumos, tais como: refratários, gesso, sacaria, frete marítimo e rodoviário e coque de petróleo, que encarecem os custos de produção.

Na opinião da entidade, todos esses fatores foram determinantes para que as vendas de cimento apresentassem retração de 2,6% no quadrimestre em relação ao mesmo período de 2021, totalizando 20 milhões de toneladas comercializadas.

O Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (SNIC) aponta também o ambiente de instabilidade geopolítica, somado aos indicadores internos desfavoráveis, como o recorde no endividamento das famílias, juros em patamares elevados (12,75%) e a maior inflação registrada em 27 anos, que continuam a impactar o setor.

Mas os produtores de cimentos acreditam que vai melhorar. O índice de confiança do consumidor avançou em abril e atingiu o maior nível desde agosto de 2021, devido ao arrefecimento da pandemia, à liberação do FGTS, antecipação do 13º salário de aposentados e pensionistas do INSS e melhoria no acesso ao crédito imobiliário pela Caixa, principalmente. Isso pode influenciar na volta do pequeno consumo.

O setor avalia que apesar da alta no número de lançamentos, o volume de unidades vendidas, influenciado principalmente pelo aumento dos juros, registra queda, o que virou um fator de preocupação.

O movimento das taxas de juros fará com que o estoque de imóveis cresça, indicando uma tendência para o futuro de redução de novos empreendimentos, gerando insegurança para a indústria do cimento.

Em um ano com tantas incertezas no cenário político e econômico, nacional e internacional, a indústria do cimento segue cautelosa.

É que o encaminhamento do fim da pandemia, o nível do desemprego estabilizado em um patamar alto e com a inflação acima de dois dígitos, as perspectivas de novos aumentos da taxa de juros são de aumento dos custos de produção do cimento e, por consequência, da construção civil, principalmente em razão da imprevisibilidade do fim do conflito entre Rússia e Ucrânia.

 

ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
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