Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

JC Negócios

Por Fernando Castilho
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Mergulhada em mais uma crise, Argentina se constrange com pobreza até na sua "querida" Buenos Aires

O presidente Alberto Fernández tenta fazer controle do câmbio para tentar segurar a inflação, quando a dolarização virou uma prática nacional.

Fernando Castilho
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Fernando Castilho
Publicado em 17/07/2022 às 20:00 | Atualizado em 17/07/2022 às 20:49
Agustin Marcarian
Catadores de lixo empurram seu carrinho em frente ao Palácio Presidencial Casa Rosada, em Buenos Aires - FOTO: Agustin Marcarian
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Quando em 1994, os economistas do Plano Real, liderados por Pérsio Arida (o grupo incluía André Lara Resende, Gustavo Franco, Pedro Malan, Edmar Bacha e Winston Fritsch), definiram que a paridade do dólar com a nova moeda seria rápida, eles tinham observado atentamente os efeitos dessa decisão na vizinha Argentina que - pressionada por governos populistas - estendeu a dolarização por oito anos e mergulhando o país numa crise da qual até hoje não se recuperou.

O peso argentino, como se sabe, hoje tem cotação de 1:25 reais numa proporção que faz os brasileiros encherem os aviões e se mandarem para a barata Buenos Aires numa Argentina com sua economia em frangalhos.

Dolarizar é permitir que a moeda estrangeira assuma algumas das funções do dinheiro, reduzindo a integridade da moeda nacional. Tanto que ainda em 1995, o Brasil começou a sair da paridade 1:1 para chegar a 1:2, em 1999.

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Mas entre 1991 e 2001, a Argentina adotou o chamado “currency board”, que é a limitação das emissões em moeda nacional ao lastro em dólar no BC com o ministro da Economia da Argentina, Roque Fernández conhecido pela sua imodéstia.

Nenhuma autoridade norte-americana viu como uma possibilidade factível a dolarização unilateral e imediata da economia argentina que não havia sido acordada nem mesmo com os Estados Unidos.

Mas Fernandez não se preocupou com as advertências do presidente do FED (o banco central norte-americano), Alan Greenspan.

Ele sabia que esse era um apelo forte demais para os orgulhosos argentinos.

Nos anos 40, Argentina tinha a sexta renda per capita do mundo. Praticava um sofisticado padrão cultural e educacional. Absorveu uma imensa emigração europeia.

Eles lembravam do seu tango como a música do século e a Belle Époque estava povoada nas fantasias dos milionários platinos que olhavam para o Brasil comum um país de chucros. A ideia de ter o peso argentino comprando um dólar era fascinante demais.

Foram oito anos de ilusão com a paridade cambial, avaliou dez anos depois, o professor Carlos Lessa dizendo não entender o porquê da fantasia de ter riqueza e renda em dólar quando os argentinos poderiam ser felizes em pesos.

Agustin Marcarian
Juntos apenas na posse Alberto Fernández-Cristina Kirchner - Agustin Marcarian

Quando se observa a curva de crescimento do PIB da Argentina pode observar que é uma repetição de zigue-zagues desde 1981. Nesses 40 anos, a recessão foi registrada em 18. No ano de 2021, houve recuperação do tombo de 9,9% no PIB de 2020, por força da pandemia corona vírus.

Um dos maiores problemas do país é a dependência da Argentina da moeda dos Estados Unidos o que impacta na sua dívida externa e, portanto, reflete na sua economia.

O problema é que o país, naturalmente, não pode emitir dólar e a sustentabilidade da dívida ganha um forte fator de dúvida. O “currency board” , como o tango virou um drama argentino.

Mas a desvalorização do peso é apenas um problema grave da economia argentina que o descontrole total de preços.

No passdo recente, a atual vice-presidente Crisitina Kershner então loderando Governo (sem poder controlar a inflação) decidiu controlar o Instituto Nacional de Estatística e Censos da República Argentina (INDEC) que calculava o índice.

Hoje, o atual presidente Alberto Fernández tenta fazer controle do câmbio para conseguir segurar a inflação, assim como o fenômeno de “dolarização” da economia que virou uma prática nacional.

O professor de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie(SP), Josilmar Cordenonssi, que há anos estuda a economia do país vizinho diz que o argentino trabalha com duas moedas, o peso e o dólar e toda a poupança eles transformam em dólar. “o mercado negro de dólar” que opera no país, “e muito superior, 40% acima do câmbio oficial, criando mais distorções.”

Em maio, o Banco Central Argentino, comunicou que inflação acumulou 29,3% entre janeiro e maio de 2022, e de 60,7% entre maio 2021 e maio 2022.

O BCA estimou que a inflação do país deve fechar em mais de 65% este ano. Em abril, a inflação fechou em pouco mais de 5,5%.

É um número muito alto. Só perde para a Venezuela no ranking regional de inflação segundo o FMI. Se confirmados serão 15 pontos acima de 2021 e será a maior variação anual desde 1991 quando o país abandonou a ideia da paridade com o dólar, portanto, há 30 anos.

O cenário de 2022 com o desastre da gestão Alberto Fernández-Cristina Kirchner está fazendo os orgulhosos cidadãos argentinos viverem o seu pior momento. E isso está mexendo com a autoestima do país.

Um relatório do Instituto para o Desenvolvimento Social da Argentina calculou que a que mais de 27 milhões estão em situação de pobreza.

São quase 60% dos 46 milhões de argentinos. Na verdade, 40% (18,6 milhões) da chamada classe média acomodada, com salários acima do equivalente a R$ 15 mil por mês e poupança em dólar se sente mais protegida.

O problema talvez esteja na visão das políticas econômicas dos peronistas. No começo do mês (2) o ministro da Economia argentino, Martín Guzmán, renunciou. Foi ele quem conduziu a (sexta) renegociação da dívida argentina com o Fundo Monetário Internacional, aprovada em março de 2022.

Mas Guzmán, um jovem economista não resistiu as críticas da vice-presidente Cristina Kirchner que vinha responsabilizando o ministro pelos rumos econômicos do presidente Alberto Fernández que a própria Cristina escolheu como seu substituto.

No dia seguinte (3), Fernández anunciou a ministra do Interior, Silvina Batakis como a nova ministra da Economia. Não antes uma conversa telefônica entre Cristina Kirchner e Alberto Fernández.

Silvina Batakis é vista como escolhida por Cristina e não à toa estava no ministro que cuida das ações populistas do governo.

 

Agustin Marcarian
Silvina Batakis a nova ministra da Economia escolhia por Cristina Kirchner - Agustin Marcarian

Talvez a economista possa cumprir a promessa de Alberto Fernández que, na campanha, prometeu à mesa das famílias argentinas “el asado” (carne/churrasco) que teria sido retirado por Mauricio Macri que em 2005 fundou o Proposta Republicana (PRO) de centro direita e que varreu as antigas lideranças da Argentina.

A promessa de devolver aos argentinos o poder de comprar de “el asado” (aumentou 92% em 12 meses, conforme o Índice de Preços ao Consumidor daquele país) foi o mote da chapa Fernández-Kirchner bem ao estilo peronista.

Apostaram o fato de que a extrema pobreza chegou a aproximadamente 5 milhões de pessoas, 10,5% dos argentinos. E no fato de pobreza alcançou 42% da população, cerca de 20 milhões de pessoas, conforme o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec).

A Argentina tem hoje 73% das famílias de classe média com algum tipo de dívida. Mais de 42 mil microempresas (uma marcada economia argentina) quebraram na pandemia e não voltaram a operar.

Cristina Kirchner quer voltar a ela própria comandar o país no próximo ano quando o país terá novas eleições com o velho discurso populista de que a Argentina poder voltar a ser o país mais desenvolvido da América do Sul.

No fundo, a Argentina parece sofrer com o tango assim como sofre com a morte de seu maior ídolo político Juan Domingo Perón e sua icônica esposa Evita ainda hoje idolatrada como uma santa.

Esse fanatismo pelo passado elegeu, em 1974, a última esposa de Peron, María Estela Martínez de Perón conhecida como Isabelita Perón que fez um governo desastroso especialmente pela crise do petróleo daquele ano.

Mas depois de tantos anos difíceis parece claro que a Argentina gosta da saudade de ter sido entrada do século XX, a Buenos Aires de Torquato di Tella, ou a Paris do Novo Mundo como eles se autodefinam e adoram passear na Avenida 9 de Julho sua mais imponente avenida.

Eles ainda considerem os, hoje endinheirados brasileiros, chucros que compram barato produtos e serviços com seus reais que valem 25 pesos argentinos. Embora prefiram mesmo “cambiar” com o dólar que vale 128 pesos.

Fazer o que? 

 PEPE MATEOS/VEJA
Brasileros ivandem, Argentina com cambio favorável -  PEPE MATEOS/VEJA

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