Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

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Por Fernando Castilho
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ENTREVISTA BOLSONARO JORNAL NACIONAL: presidente aproveitou o que pôde na entrevista na Globo e até falou de economia

É importante não ser injusto com Bolsonaro e achar que foi péssimo na entrevista do Jornal Nacional. Não foi. E até surpreendeu quando começou a capitalizar os seus ganhos na economia. E mentiu também

Fernando Castilho
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Fernando Castilho
Publicado em 22/08/2022 às 23:30 | Atualizado em 23/08/2022 às 8:20
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Bolsonaro em entrevista ao Jornal Nacional - FOTO: REPRODUÇÃO/TV GLOBO
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O presidente Jair Bolsonaro surpreendeu muita gente que achava que ele não suportaria a pressão dos entrevistadores e âncoras do Jornal Nacional, daria um murro na mesa e sairia cantando “Amor febril pelo Brasil”.

Mas parece claro que Bolsonaro percebeu que aquele poderia ser um momento para consolidar suas posições e não perder um só voto favorável. E sem querer fazer aqui análise política, mas o fato é que ele foi para bancada para cuidar dos seus. E como está no noticiário, mentiu e insistiu em colocar seus pontos de vistas equivocados.

Pode-se dizer que ele poderia alargar seus apoios e passar a ideia de que é um presidente que agora quer ser "o presidente de todos os brasileiros" num eventual segundo mandato.

Puro engano. Bolsonaro não vai mudar porque ele pensa exatamente tudo que disse na noite dessa segunda-feira (22). E justiça seja feita, ele nunca quis enganar a ninguém com suas opiniões.

Tanto que reconheceu que não poderia governar sem o Centrão. Embora tenha exagerado no momento que disse que quando era do grupo, não havia esse sentido pejorativo.

Mas é importante não ser injusto com Bolsonaro e achar que foi péssimo. Não foi. E até surpreendeu quando começou a capitalizar os seus ganhos na economia.

Pode-se discordar, mas Bolsonaro conseguiu, no Jornal Nacional, dar alguns recados sobre o que obteve na economia, embora tenha se escudado na falta de uma performance melhor por causa da pandemia.

ECONOMIA

O problema de Bolsonaro é que ele é muito ruim de fala quando o assunto é economia.

Ele gastou mais de R$ 240 bilhões com uma colossal transferência de renda, em 2020, o auxílio emergencial, e nunca soube capitalizar isso politicamente.

Quando os bancos se recusaram a emprestar dinheiro às micro e pequenas empresas, seu governo, através do Pronampe, salvou quase 180 mil empresas e emprestou R$ 92 bilhões graças ao BNDES FGI – Fundo Garantidor para Investimentos. Mas ele nunca sobre puxar isso como uma conquista de sua administração.

Por isso, ontem, quando ele começou a falar de economia e dizer seus ganhos como Auxílio Brasil e as atitudes para assegurar a importação de fertilizantes, surpreendeu. E quando reconheceu que as promessas foram frustradas pela pandemia, por uma seca enorme que tivemos no ano passado e também pelo conflito da Ucrânia com a Rússia.

Ou quando disse que "o Brasil será uma grande potência fornecedora de energia hidrogênio verde, como já temos atestado, né, no limite máximo, temos até o equivalente a 50 Itaipus na costa do Nordeste. E nós vamos exportar esse hidrogênio verde para a Europa toda".

E quando fala das isenções, atendeu a um discurso que parte dos empresários que lhe apoiam queria ouvir.

Claro que não estava ali para conquistar um só voto de ninguém que já não vote nele. Assim como mentiu em vários temas e fugiu de outros, especialmente quando insiste numa visão torta do que seja Amazônia e meio ambiente. Ou quando avalia que foi ele quem comprou vacinas e ajudou salvar vidas.

Ora, quem poderia comprar vacinas era o presidente mesmo. Fez sua obrigação, embora atrasado.
Fez. Mas o diabo é que fez isso empurrado e seguindo conselhos de pessoas desequilibradas. Mas ele acha isso mesmo e, de certa forma, fez o que tinha que fazer, embora tenha (de novo) perdido a oportunidade de capitalizar o fato de ter comprado 500 milhões de vacinas.

Para quem achava que Bolsonaro seria um desastre, ou que ele seria um tipo "paz e amor", ele surpreendeu. Talvez até porque tenha seguido o conselho de algum assessor que lhe advertiu que, além de ser candidato à reeleição, quem estaria na bancada do JN também era o presidente da República. O que explica o comportamento civilizado para o padrão Bolsonaro.

Mas ninguém deve achar que ele foi ali para ser diferente. Foi para cuidar de sua banda de apoiadores.

Além disso, ignorou Lula, evitando o que o ex-presidente desejava: um confronto pós-entrevista.

Até porque é muita pretensão de qualquer analista achar que uma entrevista, mesmo em rede nacional, poderia mudar os rumos de uma eleição.

Portanto, Bolsonaro foi "presidente Bolsonaro" na entrevista que abriu a série da TV Globo. Não se pode dizer que foi um desastre. E se a maioria diz que ele não se queimou, isso para a sua campanha já é positivo. Até porque o jogo pesado só está começando.

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