Só um time de auxiliares de alto nível fará Fernando Haddad ser acreditado pelos agentes econômicos na Fazenda.

O desafio de Haddad é formar um time que seja respeitado por um mercado financeiro e agentes econômicos que hoje prestam contas a acionistas, e cujos CEOs têm metas para cumprir
Fernando Castilho
Publicado em 09/12/2022 às 17:40
Lula põe Fernando Haddad no ministerio da Fazenda para contrapor a preocupação do mercado financeiro. Foto: DIVULGAÇÃO


Ex-prefeito de São Paulo (2013 a 2016), Fernando Haddad conseguiu a proeza de no cargo perder a reeleição. Ele também perdeu a eleição para governo de São Paulo. Gente boa, figura querida na Academia, o ex-ministro da Educação (2005 a 2012) é aquele sujeito que todo mundo queria como diretor da escola do seus filhos, pela confiança que passa como educador.

No ministério da Fazenda é outra coisa. E isso explica por que os agentes econômicos não apostam um bitcoin nele. Não é porque não seja minimante capacitado. Mas é porque quando se olha para Haddad as pessoas só veem Lula da Silva.

E pouca gente acredita que Lula possa ser um bom ministro da Fazenda num País com a complexidade econômica como o Brasil - pelo que ele pensa sobre dinheiro. Especialmente dinheiro público.

Isso passa ideia de que, assim como aceitou ser candidato a presidente da República no lugar de Lula, em 2018, Fernando Haddad aceitou o ministério da Fazenda como tarefa do chefe mais um vez. Sem discussão e sem impor condições.

Pode dar certo? Pode! E tomara que dê mesmo. Mas vai ter que se provar. E isso começa hoje quando começar a montar sua equipe.

Se cercar -se de gente de qualidade e capacidade comprovada, decola rápido. Se aceitar os nomes que Lula "também" escolher ou a banda radical do PT, que julga saber tudo de economia, aí já era.

Vai apanhar muito em nome das escolhas de Lula.

Em 2002, quando Aloisio Mercadante, eleito senador, recusou o convite de Lula para o ministro da Fazenda, ele queria sentir o gosto de ser senador por São Paulo. Lula escolheu Antonio Palocci que - junto com ele  e José Dirceu - tinham assinado a Carta aos Brasileiros. E Palocci, com aquele jeito do paulista do interior já tinha se tornado um importante interlocutor com diversos setores, até porque José Dirceu – que se comportava como primeiro-ministro - era difícil no trato.

Naquele tempo, o Brasil tinha empresa com o nome do dono da porta da fábrica e banco com o nome da família controladora na placa nas agências. A sigla CEO não existia na economia brasileira. Assim, o que Palocci dizia aos senhores da Fiesp tinha fé de ofício.

O que pouca gente lembra é que Palocci, escorado na sombra de Henrique Meirelles com aquele currículo de classe mundial de ex-presidente mundial do BankBoston e deputado federal eleito pelo PSDB, que renunciou ao mandato para ser presidente do Banco Central, conseguiu formar um time no segundo escalão que era muito melhor que a maioria dos ministros do primeiro governo de Lula.

Estavam lá, Bernard Appy, na secretária-executiva (um espécie de vice-ministro); Arno Augustin como secretário adjunto; Marcos Lisboa, na Secretaria de Política Econômica, Joaquim Levy na Secretaria do Tesouro, Otaviano Canuto, na secretária de Assuntos Internacionais, Edmundo Machado de Oliveira Assessoria de Assuntos Estratégicos além de manter na Receita Federal, Jorge Antonio Rachid, um dos adjuntos de Everardo Maciel, que foi convidado e não quis ficar no novo governo. Era um time diferenciado e bem diverso nas suas opiniões. Mas todo mundo tinha currículo.

Isso permitiu que Palocci virasse um ministro respeitado até brigar com Lula, em 2005, no meio de uma crise antes do Mensalão quando Mercadante disse no Senado que estava “pronto para desempenhar qualquer que seja a função necessária ao partido ou ao presidente da República”.

O ministro da Fazenda foi a Lula e disse: “Estou fora”.

O problema de Haddad, portanto, é formar um time que seja respeitado por um mercado financeiro e agentes econômicos que hoje prestam contas a acionistas e cujos CEOs têm metas para cumprir. E que dos antigos interlocutores de Lula poucos ainda estão entre nós. E cujos filhos não têm qualquer ligação com o presidente eleito.

O próprio Haddad não tem, porque sua geração é anterior aos “meninos” que hoje pilotam os bancos, as empresas e as mesas de corretoras de investimentos. Na verdade, também com Haddad temos um problema geracional. O Brasil da Faria Lima é digital e a sensação que Haddad passa, como Lula, é de ser analógico.

E essa conversa de que estará concentrado no estabelecimento de uma nova regra fiscal, em substituição ao teto de gastos, a retomada de acordos internacionais e a reforma tributária não interessa a esses moços, ao menos, até que ele prove que tem um plano de voo no curto prazo.

O problema de Haddad - e sua futura equipe - não é formar um time que se apresente com uma proposta consistente . O desafio é encontrar gente de nível quando o próprio Lula entende que “Governo sério não precisa de teto de gastos”.

Para ocupar as secretarias do ministério da Fazenda tem uma lista maior de interessados maior que o número de chamados pra o governo de Transição. Mas quem tem currículo e já foi testado num cargo na pasta?

Há duas semanas, o professor Rogério Werneck, da PUC Rio disse num artigo no Estadão que Lula emula o que pensa o PT sobre a questão do controle de gastos públicos depois de longa reflexão.

A de se pensar que o novo Governo já esteja “firmemente decidido a não se deixar tolher, de nenhuma forma, seja pelo teto de gastos, seja por novas regras fiscais que têm sido aventadas para substituí-lo” disse Werneck.

Se isso é verdade, Fernando Haddad é mesmo o ministro ideal para Lula. O que será provado (ou desmentido) quando ele anunciar seu time.

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