Em 2022, Americanas aumentou endividamento, fez emissão de R$ 3 bilhões em debentures e prometeu crescimento
Em 2021, a Americanas S.A. tinha 1.012 lojas no formato tradicional e mais 786 no modelo Americanas Express com 51 milhões de clientes ativos e mais de 2.000 fornecedores
Certamente, uma das razões pelas quais os bancos credores da Americanas S.A. decidiram ir à Justiça no final da semana passada e devem prosseguir, a partir de amanhã, quando devem recorrer da decisão do juiz Paulo Assed, da 4ª Vara Empresarial do TJ-RJ, que concedeu uma “tutela cautelar antecedente” para eles não executarem antecipadamente a dívida da empresa está no forte endividamento ocorrido no ano passado.
Deferentemente do ano de 2021, quando a companhia até fez o regate antecipado de debentures, no ano passado até outubro a Americanas S.A. fez duas emissões desses títulos no valor de R$ 3 bilhões.
Debentures é um título de dívida emitido por uma empresa que oferece direito de crédito a um investidor. Funciona como um empréstimo feito para que as companhias consigam realizar capitalização, pagar dívidas de curto prazo e desenvolver seus planos de investimentos.
Elas podem ser simples, conversíveis em ações, permutáveis e existem até as incentivadas são aquelas com isenção fiscal. Ou seja, o investidor não precisa pagar Imposto de Renda sobre a rentabilidade.
No primeiro semestre do ano passado, a Americanas S.A. foi ao mercado no dia 23 de junho emitindo R$ 2 bilhões em debentures com vencimento a partir de 15 de julho de 2033.
Ainda no ano passado, em dia 20 de outubro de 2022, portanto depois do balanço do terceiro trimestre, a empresa fez mais uma emissão no valor de R$ 1 bilhão com vencimento final previsto para 20 de outubro de 2027.
Isso foi motivo de comemoração da companhia que informou aos seus acionistas que realizaram “uma bem-sucedida emissão de debêntures no valor total de R$ 2,0 bilhões, com prazo de vencimento de 11 anos e taxa de 100% do CDI + 2,75% ao ano”. E que a emissão teve o objetivo de reforçar o caixa da companhia em um momento macro mais desafiador, além de alongar o perfil da dívida que atingiu 5,3 anos.
Essa também foi uma mudança de comportamento interessante, em relação ao 2021, quando o CEO Americanas S.A., Miguel Gutierrez festejou o ano como histórico para a trajetória de mais de 90 anos da Americanas S.A.
Segundo Gutierrez, 2021 foi o ano da combinação dos ativos e das bases acionárias de Lojas Americanas e B2W, criando uma só companhia para clientes e investidores, a Americanas S.A. e da criação da VEM Conveniência, joint venture com a Vibra (antiga BR Distribuidora), para unir BR Mania, rede de lojas de conveniência franqueadas em postos BR e rede Local, operada pela Americanas S.A.
Com isso, a Americanas atingiu mais de 3.500 lojas - o dobro de dezembro de 2020 - e com potencial para entregar um forte plano de expansão nos próximos anos, disse o executivo aos acionistas.
Naquele ano, a Americanas S.A. tinha 1.012 lojas no formato tradicional e mais 786 no modelo Americanas Express com 51 milhões de clientes ativos e mais de 2.000 fornecedores. Ela também comemorou um projeto de logística que lhe permitiu fazer 350.000 entregas em favelas.
Então, com esses números, com acionistas de referência como Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, que hoje têm 31% do capital da empresa, mas que, na prática, foram seus controladores nas últimas décadas e até 2021, como suspeitar do problema que a empresa tinha?
O problema é que ocorreram muitas emissões de debêntures da Americanas S.A., incluisave, títulos emitidos lá fora. Caso a empresa, por exemplo, entre em Recuperação Judicial (uma das saídas possíveis), esses credores vão ter que seguir a regra de recebimento estipulada na Recuperação Judicial. Embora possam ter que dar um grande desconto e receber num parcelamento.
Se Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles fizerem o aporte de caixa necessário - e uma verdadeira reestruturação - a empresa sai dessa crise e os credores numa situação melhor do que a dos acionistas já que receberão antes do pagamento de dividendos quando a empresa voltar a dar lucro.
O que deixou os bancos enfurecidos foi o fato de as Americanas S.A. apresentarem um dívida de R$ 40 bilhões dos quais R$ 18,5 bilhões às instituições financeiras na ação judicial. Em setembro, a Americanas S.A. informou que seu endividamento bruto que além das debentures tem os empréstimos e financiamentos de longo prazo era de R$ 17,13 bilhões.
Como a Americanas S.A. é um gigante os bancos estão dispostos a rolar as dívidas da Americanas S.A., mas querem que os acionistas de referência façam um aporte na empresa.Resta saber se Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles que já se comprometeram em colocar R$ 6 bilhões estão dispostos a salvar a empresa colocando mais dinheiro.