Para se entender a agitação da Argentina sobre a criação de uma moeda única para os países do Mercosul, é preciso entender quem a está propondo e quais os seus interesses.
E tudo isso tem a ver com a presença do peronista Sergio Massa, que é o ministro da Economia da Argentina, sendo responsável por comandar um “superministério”, depois que juntou Economia, Desenvolvimento Produtivo, Agricultura, Pecuária e Pesca.
Sérgio Massa está no cargo desde agosto, depois de uma crise que fez o presidente Fernández demitir dois ministros.
Primeiro, Martín Guzmán, vítima de ataques da vice-presidente Cristina Kirchner, o que ajudou numa acentuada desvalorização do peso em relação ao dólar; e depois Silvina Batakis, indicada pela vice-presidente e que ficou no cargo menos de um mês, sendo substituída por Sergio Massa depois de um acordo com o presidente com Fernández.
E qualquer semelhança da presença de Sérgio Massa à frente da economia não terá sido mera coincidência. Ele é uma espécie de Arthur Lira no parlamento argentino, e sua presença no Ministério da Economia é uma garantia de que o congresso não tomará nenhuma atitude para com o presidente Alberto Fernández.
Mas qual o problema da ideia de criar uma moeda comum, que é muito diferente de moeda única, como Sergio Massa fala, e que não está no radar do Brasil?
Moeda única é um projeto muito mais complexo e abrangente, como o que criou o euro, e que leva à perda de soberania monetária pelos países. Na Europa, o processo levou quase 50 anos e não foi uma coisa simples.
Para Sérgio Massa, esse é um tema que interessa muito politicamente. Na semana passada, o ministro da Economia argentino disse ao jornal "Financial Times" que havia um estudo que englobava tudo, "de questões fiscais ao tamanho da economia e ao papel dos bancos centrais".
Conversa. Não tem, nem poderia ter. No Governo Bolsonaro, esse assunto não foi tratado. E o governo Lula só está a três semanas no Governo. Então quem foi que, no Ministério da Economia, analisou esses estudos?
Tanto que a delegação brasileira que acompanha Lula foi enfática em dizer que essa ideia jamais foi cogitada. Pelo simples fato de que ninguém teve tempo hábil de analisar isso dentro da perspectiva do novo governo. Mas fazer o que se Lula e Fernández fizeram dessa reunião uma festa?
Mas isso não quer dizer que o Brasil não possa ajudar a Argentina, que, como se sabe, está com inflação de 98% ao ano e com um nível de reserva de US$ 7 bilhões, contra as US$ 356 bilhões do Brasil.
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O problema é que o Brasil não pode deixar de ajudar a Argentina. Tanto que Fernando Haddad disse que está quebrando a cabeça para encontrar uma solução, algo em comum que permita incrementar o comércio.
A Argentina é um dos países que compram manufaturados do Brasil, e a nossa exportação para cá está caindo. Foi o primeiro; perdeu para os Estados Unidos e depois para a China, que hoje lidera a corrente de comércio.
E, como sempre acontece nesses casos, a proposta é criar um grupo de trabalho para analisar a criação de uma moeda comum - ou unidade de conta comum - para operações de comércio exterior entre membros do Mercado Comum do Sul (Mercosul).
É sempre importante lembrar que, hoje, tudo que o Mercosul conseguiu foi criar uma tarifa única aduaneira. Daí a uma moeda única leva muito tempo, e será necessário ajudar não só Argentina como Uruguai e Paraguai - como foi feito em mais três décadas na União Europeia.
Este ano, Fernández deve disputar as eleições presidenciais, se Sérgio Massa não disputar também, ou compuser como representante peronista na chapa, eliminando a incômoda presença de Cristina Kirchner, que já avisou que quer disputar nova reeleição.
Então é sempre ter muito cuidado com esse “furor uterino” de Alberto Fernández e Sérgio Massa. Os dois olham para as próximas eleições, cujo eleito tomará posse em 10 de novembro próximo.
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