Indicado na cota de nomes proposta pelo presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD-MG) tem um embate com seus ex-colega de plenário Jean Paulo Prates (PT-RN) que deixou de concorrer a reeleição em função de uma promessa do candidato à governadora do Rio Grande do Norte e a ala sindical do PT para a Petrobras, desde a posse do novo comandante da estatal.
Prates, conhecido pela sua vaidade e atuação midiática na imprensa onde defendeu o fim da política de Paridade de Preços Internacional, imprimiu uma política de comunicação institucional que valoriza sua presença nos eventos do qual participa. Ele contrasta com a discrição que a companhia usava desde o escândalo do Petrolão onde seus dirigentes limitavam sua presença na mídia apenas aos assuntos técnicos. Inclusive, seus presidentes.
Prates mudou isso e desde então em fotos, vídeos e entrevistas tem anunciado ações da estatal de forma autônoma o que vem irritando Alexandre Silveira que também deseja ter um protagonismo na pasta cuja empresa mais importante é a Petrobras.
A briga de egos e vaidades explodiu esta semana quando Alexandre Silveira criticou Prates diretamente política de gás natural no Brasil, operada pelo estatal por ocasião de um seminário realizado pelo grupo Esfera Brasil no Rio de Janeiro.
Silveira disse que enquanto o Brasil reinjeta 44,6% do seu gás nas suas plataformas, os Estados Unidos recolocam 12,5% do gás para impulsionar a produção de petróleo, na África, 23,9% e na Europa, 24,7% dizendo que essa ação é desproporcional e que ainda não encontrou uma justificativa plausível.
No mês passado - num seminário em São Paulo - Prates disse que, em 2022 a estatal reinjetou aproximadamente 40% do gás para aumento da produção de petróleo. Mas esclareceu que isso se deve à falta de mercado consumidor (Sistema Norte) e a limitações temporárias de infraestrutura de escoamento, o que deixará de existir com a entrada de operação da Rota 3 no ano que vem.
E esclareceu que o gás do pré-sal contém grande quantidade de CO2 que precisa ser reinjetado de volta nos campos de produção com parte do gás natural. Além disso, devido às condições de pressão dos reservatórios, esse processo proporciona maior produção de petróleo lembrando que captura de CO2 pela Petrobras representa a maior operação desse tipo no mundo.
No Rio de Janeiro, o ministro foi para o lado pessoal e disse que prefere desagradar o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, a ver o fracasso de políticas públicas ligadas ao aumento da oferta de gás para a indústria e suas repercussões em emprego e renda.
“Entre agradar ao Jean Paul e cumprir o compromisso do governo com a sociedade brasileira, de gerar emprego e combater desigualdade, prefiro que ele feche a cara, mas que nós possamos lograr êxito na política pública”, disse.
A troca de farpas vem desde o começo do governo. Em março, numa demonstração de força o Ministério de Minas e Energia (MME) determinou a suspensão das alienações de ativos por 90 (noventa) dias, em razão da reavaliação da Política Energética Nacional atualmente em curso e da instauração de nova composição do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Não precisava. E a estatal respondeu dizendo que Conselho de Administração analisará os processos em curso.
Silveira, entretanto, não atua em sintonia com a Petrobras. Ainda em março ela reuniu Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) e aprovou já na primeira reunião do colegiado na atual gestão, o aumento para 12% da mistura obrigatória de biodiesel ao diesel vendido no Brasil, a partir de abril deste ano. O teor será elevado para 13% (mistura B13) em abril de 2024, para 14% (mistura B14) em abril de 2025 e para 15% (mistura B15) em abril de 2026.
A mistura obrigatória de biodiesel que o Brasil produz é o terror dos caminhoneiros e da indústria automobilística nacional pela qualidade. Aumentar de 10% para 12% como o CNPE aprovou praticamente inutiliza todo a tecnologia embarcada nos novos motores dos caminhões de grande porte que usam os padrões Euro 6.
Mas Silveira atendeu o lobby dos produtores de biodiesel sem ouvir a Petrobras que está investindo pesado no Diesel 10 e do Diesel R um combustível da Petrobras, produzido por coprocessamento de diesel mineral com óleo vegetal, que contém uma parcela de diesel verde (HVO, em inglês), que pode variar de 5% (Diesel R5) até 10% (Diesel R10).
Apesar de apresentar como principal entidade do setor, o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) não contestou a decisão do CNPE e limitou-se a dizer que medida deve vir acompanhada da revisão urgente das especificações atuais do biodiesel, compatíveis com os novos teores, acompanhando a evolução tecnológica dos motores e as metas governamentais de redução das emissões.
Silveira briga com Prates e diz que o gás tem sido tratado como "subproduto" da indústria do petróleo, enquanto fábricas que usam esse insumo como matéria-prima no processo de produção industrial estão fechando.
Ainda não se sabe a opinião do presidente Lula sobre essa briga. Mas tanto Prates como Silveira não tem simpatia de Lula. Prates pela demora com que tratou a questão da nova política de preços só anunciada em 16 de maio como pela exposição de Prates em todos os eventos da companhia onde é sempre apresentado como um popstar.
Mas ele também está irritado com Silveira. O presidente se irritou com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Ligado ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o ex-senador deixou a reunião ministerial de ontem após expor o balanço e as metas de sua pasta.
Ao notar sua falta ele determinou que ele retornasse à reunião ministerial. Alcançado a caminho do aeroporto, o ministro alegou que deixou o encontro porque teve um mal-estar. O presidente disse que, se ele não estava bem, deveria ter procurado a equipe médica do Planalto, e não ido embora.
O problema é que tanto Prates como Silveira são potenciais candidatos aos governos do Rio Grande do Norte (Prates) e Minas Gerais (Silveira) e usam seus postos para estar na mídia.
Pela sua posição estratégica a Petrobras, naturalmente é chamada para tudo no Rio de Janeiro, São Paulo e pelas entidades do setor empresarial. E as vezes ofusca a participação do Ministério das Minas e Energia o que irrita Silveira.
E não raro o próprio presidente. Uma dessas solenidades Jean Paul Prates ofuscou até o presidente Lula quando do lançamento do novo decreto do fomento cultural recebeu um homenagem que não foi previamente combinada como cerimonial de Brasília.