A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) suspendeu o leilão para a compra de até 104,034 mil toneladas de arroz importado beneficiado e polido agendado para esta terça-feira (21). A empresa disse numa nota que a data de realização será publicada oportunamente.
Pode ser, mas pelo comportamento do mercado nas últimas semanas vai levar um tempo para que o governo cumpra, ao menos, uma parte da promessa de adquirir 1 milhão de toneladas de arroz no mercado externo, como prometeu o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.
E a primeira explicação é bem simples. Os países do Mercosul relacionados pelo presidente Lula numa viagem na semana passada ao Nordeste (Bolívia, Paraguai, Uruguai e Argentina para baixar o preço do produto no Brasil.) não tem produção para exportar uma vez que juntos todos os países da América do Sul produzem menos que o Brasil sozinho.
A Bolívia, por exemplo, só produz por ano 600 mil toneladas e importa regularmente do próprio Brasil. A Argentina produz 1,5 milhão de toneladas ano.
Assim, a ideia de comprar o produto que seria distribuído a pequenos varejos das regiões metropolitanas e chegaria ao máximo a R$4,00 o quilo ao consumidor final ficou inviável. A primeira remessa seria destinada para São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará, Pará e Bahia. O produto deveria ser empacotado em embalagem de 2 kg padronizada, com a logomarca do governo federal.
Na verdade, não há grandes possibilidades de faltar arroz no mercado interno. A safra de 2024 já foi colhida e a região onde aconteceram as cheias é responsável por menos de 10% da produção do Rio Grande do Sul que responde por 75% de toda produção nacional.
Entretanto, o anúncio do governo acabou provocando efeito contrário e os produtores começaram a subir os preços porque sabem que sem poder importar do Mercosul o governo teria que comprar arroz dos produtores do Brasil ou importar da Tailândia cujo preço internacional é bom, mas que para chegar ao Brasil levaria dois meses. Ou seja, o arroz importado só estaria disponível em agosto próximo.
Para fazer a importação, o governo decidiu zerar a Tarifa Externa Comum até o fim do ano de modo a que o preço do arroz importado se tornasse competitivo.
Essa tarifa é de 10,5% de modo a que importadores brasileiros possam comprar o produto e oferecer ao governo. Mas parece claro que os preços que o governo apostava não serão obtidos e por isso o leilão da Conab foi adiado.
Mas mesmo que venha a ser feito, dificilmente a importação se houver chegaria a 1 milhão anunciado por Carlos Favaro. E o governo corre o risco de comprar um arroz tão caro que para vendê-lo a R$4,15 teria de pagar um subsídio igual a esse valor com os custos da importação.
Por outro lado, os produtores brasileiros afirmam que não há risco de falta do produto e que não deve haver importação. O que pode ter levado ao governo aceitar o fato de que a proposta de comprar arroz barato ou por um preço mais competitivo para tentar formar um estoque regulador não deu certo, pois no final o próprio governo acabou provocando especulação e aumento de preços.
O cenário é que nas próximas semanas, o governo até possa fazer um leilão de comprar arroz da Tailândia. Mas apenas para marcar uma posição, já que a ideia de 1 milhão de toneladas se tornou inviável e desnecessária. Embora as redes de supermercados devam continuar limitando as compras a seis quilos.