Os olhares da multidão

Histórias dependem de pontos de vista únicos que geram relatos de criação: a escrita nos ritmos, ecos e silêncios do Carnaval

Imagem do autor
Cadastrado por

Fábio Lucas

Publicado em 10/02/2024 às 18:11
Notícia
X

A multidão é um encontro de pontos viventes num mesmo plano temporal. Coletivo de gente. Espelho de faces individuais, passa a ilusão de formar um semblante humano geral. Mesmo que assim pareça, quase nunca é uniforme ou unânime. Nem a ela se aplicam a sabedoria e a estupidez porventura instaladas, como adereços, em seus componentes.
A multidão faz um eco, nem o silêncio escapa à sua reverberação. Alegre ou triste, em rebanho ou revolta, vibra numa faixa diferente daquela dos corpos separadamente animados. Sem anular a dor ou a paixão, a voz ou a solidão de cada um, é como se cada um pudesse se ver de outro ângulo, ou não se enxergar de jeito algum. À luz ofuscante de tantos, os pontos de ser não se apagam, porém esvanecem juntos à sombra que une os aglomerados.
A multidão não escreve um livro, embora se diga que faça a roda do mundo girar. Mas as histórias que guarda e transmite dependem de alguém que as retire da sombra, do anonimato, do eco, do silêncio de muitas vozes, contando em ponto de vista único o relato da criação: é a escrita que vem de um olhar próprio que lhe dá sentido, cria a multidão.

Divulgação
Melina Galete no Carnaval - Divulgação


Cardápio de personagens

Em depoimento à coluna, Melina Galete conta o que lhe traz a vivência da multidão nesses dias de compartilhada folia. “Vivo em Niterói, em uma ponta que invade a Baía de Guanabara, e que fica a quatorze minutos do centro do Rio de Janeiro. Não gosto de Carnaval porque detesto multidões. Mas é quase impossível fugir dessa festa vivendo nessa localidade. Por isso vou a diversos blocos. Não, não sou foliã. Mas sou escritora. E vejo os blocos de Carnaval como grandes laboratórios em que descubro personagens para os meus livros. Fico no meio da folia, escrevendo na nota do celular, que ainda não foi roubado, enquanto observo as atitudes livrescas acontecendo a minha volta. Essa festa, portanto, é o meu cardápio de personagens literárias”. A autora de “Desmemórias de uma aldeia”, publicado pela Bestiário, pode ser encontrada em @melinagalete no Instagram.

 

Divulgação
A escritora entre os livros - Divulgação


Primeiro romance de Clarice Freire

Escritora, coordenadora do curso de Especialização em Escrita Criativa da Cesar School, Clarice Freire está concluindo seu primeiro romance. “É uma obra gestada há alguns anos e, por isso, fico contente ao ver que o tempo das leituras e concepções finais veio logo depois da minha maternidade, depois da chegada do meu primeiro filho. É gestação de corpo, alma, papel e nanquim. Um parto veio e já foi revolução completa. O literário virá quando terminar de tentar imprimir nas letras algo dessa potência que tenho experimentado ao me re-conhecer, em suas graças e desafios. Estou contente. A previsão de lançamento é ainda este ano, em 2024”, conta a escritora, que está no Instagram @claricefreire.


Clube de Leitura Criativa

Começa no próximo dia 22 a proposta de oficina da Fábrica de Cânones, que une clube de leitura e escrita criativa: o Clube de Leitura Criativa terá dois encontros online por mês: no primeiro, a leitura compartilhada de uma obra, e no segundo, os participantes mostram suas criações que dialogam com a leitura. O livro de fevereiro é “[Poemas] Atracados aos pés da cama” de Geruza Zelnys, com a mediação de Juliana Guida. Mais informações no site www.fabricadecanones.com.br.


Como uma árvore

Ana Carolina Mesquita em um curso onde “exercícios de contemplação e escrita se unem”. Segundo a escritora, tradutora e designer, “a escrita serve de trampolim para mergulhar mais profundamente nas nossas experiências do cotidiano: as pequenas, as banais, mas nem por isso menores”. Será na oficina online “Como uma árvore observa a tempestade: atenção plena e escrita”, de 22 de fevereiro a 14 de março, às quintas-feiras. Outras informações e inscrições no site www.lugardeler.com.


Erótica

Em três encontros online, Evelyn Blaut ministra a oficina “Erótica: escrever o sexo na literatura” nos próximos dias 27, 28 e 29, terça, quarta e quinta a partir das 19h. “O sexo aparece na literatura desde sempre, quer como tema, quer como cena, quer como forma de pensar o comportamento humano em suas mais diversas relações. Do romance ao tabu (e aos fetiches!), como o sexo é escrito e descrito na ficção pelos (ditos) grandes autores da literatura mundial” será o foco da oficina, que mencionará obras de Henry Miller, Philip Roth, Nelson Rodrigues, Anais Nïn, Marguerite Duras, Georges Bataillle e Raduan Nassar, entre outros. Para obter mais informações e se inscrever, visite o site www.oastrolabio.com.br.


Práticas de letramento

A Revista Emília abriu inscrições para o curso “Práticas dialógicas de letramento: ressignificando a formação de leitores”, com Dianne Melo. Serão quatro encontros online, de 7 a 28 de março, sempre das 18h30 às 21h. O objetivo é “criar um espaço de diálogo e reflexão crítica acerca do fazer pedagógico para que os participantes ressignifiquem as práticas de leitura literária com crianças, adolescentes e jovens”. Outras informações no site www.emilia.org.br.


Prêmio Ruth Guimarães

Estão abertas até o dia 15 de março as inscrições para o Prêmio Ruth Guimarães de Crônicas, da União Brasileira de Escritores (UBE). Cada candidata ou candidato pode inscrever no máximo duas crônicas. As 20 selecionadas serão publicadas em um livro, com destaque para as três primeiras colocadas. Mais informações e inscrições no site www.ube.org.br.


Encontro de autores

Elieni Caputo é uma das confirmadas no encontro de autores independentes no próximo sábado, 17, na Livraria Na Nuvem, em São Paulo, a partir das 4 da tarde. A escritora leva seu livro “As coisas de verdade habitam as pedras”, publicado pela Editacuja. Participam do mesmo evento: Alex Xavier, André Diasz, Carolina Grohmann, Ednilson Toledo, Fábio Fernandes, Michelli Provensi, Mário Cardinale, Nathalie Lourenço e Paula Valéria Andrade. Saiba mais no Instagram @livrariananuvem.

 

Nubra Fasari
Uma década de carreira literária - Nubra Fasari


Maíra Gomes

Celebrando 10 anos de carreira literária, Maíra Gomes apresenta seu livro mais recente, que narra o desparecimento de um vaso da Dinastia Ming: “O Mistério Misterioso do Sumiço Desaparecido”. O livro “é inspirado em uma história que eu escrevi aos 10 anos de idade e que se tornou peça de teatro na escola”, conta a escritora carioca para a coluna. “Reescrever esta história, mais de 20 anos depois, foi muito desafiador, principalmente pela narração em segunda pessoa, o que não ocorria na versão original. É bastante emblemático trazer para o público uma ideia que eu tive tão pequena. Apesar das incertezas da publicação independente, estou muito satisfeita com o resultado. O livro me lembra que mesmo antes de levar a escrita a sério, ela já fazia parte de quem eu sou”, diz a autora, que mantém o perfil @mairagomes_oficial no Instagram.


Deu a louca nos signos

Personagem que assina a página de astrologia mais acessada no Instagram brasileiro, com 4,5 milhões de seguidores, Maria Talismã transporta para o livro “Deu a louca nos signos” um guia bem-humorado do zodíaco. Além de dados técnicos e traços de personalidade, o livro reúne dicas práticas, como sugestões de presentes para cada signo. A publicação é da BestSeller. Siga no Instagram a página @astroloucamente.


Design ganha editora

Victor Zanini e João Paulo Villa Mello criaram a Editora Brauer, de livros especializados em design. De 10 lançamento previstos para este ano, dois estão chegando ao mercado: “Designer & Líder”, uma reedição de obra de Victor Zanini, e "Princípios de UX", de Daniel Furtado. Visite o site www.editorabrauer.com.br para saber mais.


Pequenos gestos

Com tradução de Diogo Cardoso, a Ameli traz para o Brasil o livro ensaio da italiana Chiara Carrer, “Pequenos gestos”. Abordando a arte de colecionar para crianças e adultos, a obra reúne imagens de acervos, inventários e coleções. Mais informações no site www.helloameli.com.


Distância de resgate

A editora Fósforo publica “Distância de resgate”, da argentina Samanta Schweblin. Com tradução de Joca Reiners Terron, a obra de suspense é escrita toda em forma de diálogos, e mescla reflexões ecológicas com questões de maternidade. O livro foi adaptado para o cinema sob o título “O fio invisível”, disponível na Netflix.

 

Divulgação
A consagrada escritora Maryse Condé - Divulgação


Ivan & Ivana

Com tradução da premiada escritora Natalia Borges Polesso, e prefácio de Djamila Ribeiro, a Rosa dos Tempos publica “O fabuloso e triste destino de Ivan & Ivana”, de Maryse Condé, autora também de “Eu, Tituba: bruxa negra de Salem” pela mesma editora. Para Djamila Ribeiro, a obra “promove um mergulho profundo na complexidade humana”. Natural de Guadalupe, Condé publicou mais de vinte livros, e é professora emérita nas universidades de Columbia e Harvard, nos Estados Unidos.

Tags

Autor