Leitura é formação de futuro

Diretora de Inovação e Novos Negócios da Melhoramentos, Carolina Alcoforado aponta o potencial da literatura nas escolas e para a bibliodiversidade

Publicado em 04/01/2025 às 18:20
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A formação de leitores é um pré-requisito para o desenvolvimento do país. Sem investimento público e privado na ampliação e melhoria da habilidade de leitura, continuaremos a sofrer enormes dificuldades para reduzir a desigualdade e embalar num ciclo de crescimento inclusivo e abrangente. Além dos governos em todos os níveis, a expansão da leitura no Brasil depende, cada vez mais, da aproximação do ecossistema do livro – editoras, livrarias, escritores e demais profissionais, bem como as entidades do setor – com as escolas.
Num país onde a leitura precisa ser tratada como inovação, por seu potencial magnífico de mudança da realidade, exemplos de atuação neste sentido devem ser ressaltados e multiplicados. Com o lema “Da árvore ao livro” utilizado a certa altura da trajetória, o grupo empresarial do qual faz parte a Editora Melhoramentos, com tradição de mais de 130 anos de história, investe cada vez mais na formação de leitura nas escolas. O modelo de negócio já foi do plantio do eucalipto e da produção de papel até a editora e livraria. Agora o modelo é outro. Para Carolina Alcoforado, diretora de Inovação e Novos Negócios, a literatura ainda tem um enorme potencial a ser explorado nas escolas, e é nesse nicho que a editora está focando, com produtos de formação de leitura com apoio da tecnologia. Sem desprezar a importância da publicação em papel. E aprofundando uma ligação igualmente antiga com a comunidade escolar. A editora financia uma escola rural, em Camanducaia, no interior de Minas Gerais, há mais de 70 anos: a Escola Rural Particular Alice Weiszflog, onde também funciona uma biblioteca para a comunidade.
Editora licenciada mais antiga da Disney no Brasil, a Melhoramentos guarda em seus arquivos um contrato assinado pelo próprio Walt Disney, e o primeiro livro do Pato Donald publicado. O passado inspira o constante fazer do futuro. “O mercado editorial, em geral, tradicionalmente opera de forma mais reservada, mas queremos seguir um caminho diferente. Queremos abrir portas, ser mais parceiros, por uma bibliodiversidade conjunta”, diz Carolina Alcoforado, em entrevista que pode ser lida na íntegra no site do Livronews, a partir desta segunda-feira. Assim, continua ela, “talvez a gente obtenha melhores resultados, e não resultados tão ruins como o que vimos na Retratos da Leitura”, acredita, em referência à pesquisa que apontou a redução de 11 milhões de leitores no Brasil na última década. Confira alguns trechos da entrevista a seguir.

Divulgação
Carolina Alcoforado, da Editora Melhoramentos - Divulgação


Conexão com as escolas

“A editora está muito conectada à educação, à formação de leitores, e daí se desdobra toda a nossa estratégia como empresa. No caso da editora, a inovação envolve tecnologia. Lançamos um produto novo, que é basicamente um produto com uma linha pedagógica por trás, um projeto de formação de leitores de fato. É um arcabouço interessante para o professor. A literatura tem um enorme potencial a ser explorado nas escolas. Foca-se muito no didático, e as escolas estão começando a perceber que isso tem um preço. Sem formação de leitores, o desempenho dos alunos é pior em várias disciplinas. Isso está ficando tão claro, tão óbvio, que as escolas estão começando a buscar parceiros, ou até desenvolvimentos internos de literatura”.

 

Papeis diferentes

“A literatura e os didáticos possuem características e propósitos bastante distintos. Por mais que os dois sejam livros, e importantes, têm papeis diferentes. A formação da literatura pede uma boa curadoria, não simplesmente entregar um livro para cumprir tabela – a gente precisa de um livro com um conteúdo que de fato vai ser explorado naquela faixa etária, para crianças e jovens. E gere impacto por meio da história”.

 

Bibliodiversidade

“A bibliodiversidade é importante, e fomos atrás de outros conteúdos que não fossem exclusivamente nossos. O nosso papel é de grande curador. Vamos continuar lançando várias obras, tivemos um livro indicado como finalista ao Jabuti em 2024. Uma grande honra, algo especial para a gente, que mostra muito sobre o trabalho do time editorial. Mas nos projetos literários, na formação de leitores, podemos ter um conteúdo mesclado, de forma que consigamos ampliar o acesso a conteúdos diferentes e complementos de formação”.

 

Contato físico com o livro

“Há escolas que nunca vão ser 100% digitais. A gente também não acredita em produtos 100% digitais o tempo todo. A primeira infância exige o contato com o livro físico. É uma questão de memória afetiva, tátil, de coordenação motora fina, na ação de virar a página. Na primeira infância, não pode ser só digital. Mas o leitor com certa intimidade com o livro, que já teve o engajamento com o mundo digital e levou para o livro, ele consegue, quando mais velho, consumir mais conteúdo de maneira digital”.


ImaginaMundo e Literama

“Dentro do nosso portfólio, os projetos literários são o ImaginaMundo, para o Fundamental 1, físico e digital, e o Literama, para o fundamental 2, só digital. Para alunos que já têm familiaridade com o livro. É uma biblioteca virtual, que passou por uma curadoria. Não são 100 milhões de livros. Há um direcionamento. Para cada série, uma biblioteca disponível, curada especificamente para aquela idade, para uma leitura direcionada. E o professor pode escolher também. A gente dá opção, para cada ano, de 20 livros, por exemplo, para o professor, para que ele escolha quais os 5 ou 6 que deseja trabalhar ao longo do ano em sala de aula com os alunos. A criança vai ter acesso aos livros obrigatórios, e a outros, se tiver interesse. A leitura é associada a uma gameficação, obviamente, para fazer o engajamento do aluno, com perguntas sobre a história. Ele precisa ter avançado na história para conseguir algumas premiações dentro do jogo, e andar. A professora pode escolher se trabalha o livro em sala de aula e o game vai para casa, ou se eles mesmos fazem uma dinâmica dentro da sala de aula. Isso funciona para o ImaginaMundo e para o Literama, é a mesma base. Os dois são no metaverso”.

 

Engajar o aluno

“O nosso papel também é apoiar a escola e o professor a engajar o aluno, uma das maiores dificuldades que eles têm hoje. Ao mesmo tempo, com uma curadoria de qualidade, com inclusão, diversidade, sustentabilidade. Todos os nossos livros estão nesse segmento. E dar a chancela, para facilitar um pouco mais a escolha. Como a gente falou, não necessariamente só com títulos nossos, mas outros títulos para fazer a composição e apoiar a escola em uma maior qualidade de leitura”, diz Carolina Alcoforado. Entrevista completa, a partir de segunda, no site www.livronews.com.br.


Live com Rafael Dias

Escritor e doutor em Filosofia, Rafael Dias faz live nesta segunda, 6, com a jornalista Mariana Oliveira e participação da Livraria Imperatriz, sobre o seu novo livro de poesia “Débeis Brumas”. A obra publicada pela Urutau terá dois eventos de lançamento no Recife: sessão de autógrafos na sexta, 10, na Imperatriz do Shopping Recife às 19h30, e roda de conversa no Instituto Ploeg, na Boa Vista, no sábado, 11, às 2 da tarde. A live nesta segunda poderá ser acompanhada no Instagram, a partir das 7 da noite, pelos perfis @rufusdias e @mariolacomunicacao.


Filosofia em poesia

No texto para a orelha de “Débeis Brumas”, Fernando de Mendonça avisa: “Rafael Dias, nesta seleta, pergunta-se sobre o informe, o vago, o transitório e o fugidio, tanto de coisas e seres viventes quanto de sentimentos e lembranças. Além disso, a bruma, a névoa, o nevoeiro, enfim, tudo o que se dissipa em seu vórtice ancestral, parece ter decaído: tornou-se poeira – estão débeis, debilitadas, fracas, tênues e, por fim, breves. Unindo filosofia, poesia e mitologia, aqui os versos perscrutam os sons, as imagens, o nous e as cores que rondam tais entidades”.


Antropoceno para água

Estão abertas as inscrições para a Residência Artística e Literária Campo de Heliantos, “Antropoceno para água”, que visa “investigar sobre a relação do corpo com a água e as modificações dessa relação na Era Antropoceno”. O evento ocorre de 16 a 21 de abril, na Fazenda Cachoeira, em Santo Antônio do Amparo (MG). Entre as atividades previstas, caminhadas, banhos de cachoeira, oficinas de escrita, ateliê, bordado, gravura e performance. Outras informações no Instagram @campodeheliantos.


Escreviver a mãe

A Fesp de São Paulo promove o curso online “Escreviver a mãe: Sobre Igiaba Scego, Maryse Condé e Scholastique Mukasonga”, com Maria Carolina Casati. O objetivo é apresentar e debater como as três autoras negras “escrevivem suas mães e, assim, constroem obras de valor histórico e literário”. Os encontros virtuais serão de segunda, 27, a sexta, 31 de janeiro, das 7 às 10 da noite. Inscrições e outras informações em https://fespsp.org.br/cursos/escreviver-a-mae/.


Borges e o infinito literário

A Escrevedeira traz novo curso online com Jacques Fux: “Jorge Luís Borges e o infinito literário”. A ampliação dos limites do texto pelo autor argentino, através da elaboração de várias camadas de ficção literária, será explorada em trechos de obras como “O Aleph” e “Ficções”. De 16 de janeiro a 5 de fevereiro, às quartas, das 19h30 às 21h30. Inscrições no site www.escrevedeira.com.br.


Livro ilustrado

O curso de pós-graduação online em Criação de Livro Ilustrado da Casa Tombada está com as inscrições abertas até o próximo dia 20. As coordenadoras são Cristiane Rogério e Clara Gavilan. Serão oferecidos repertórios e experimentações para produções autorais. Mais informações em www.cursos.acasatombada.com.br.

 

Eugenio Savio
Afonso Borges e o caráter local dos festivais literários - Eugenio Savio


Dinâmica local

Com os três festivais literários em Minas Gerais confirmados para este ano – Flitabira, Fliaraxá e Fliparacatu – o escritor e empreendedor cultural Afonso Borges resume a essência dos eventos: interação com a comunidade e cultura própria. “Os nossos festivais têm um compromisso fortíssimo com as características das cidades. Em Itabira, por exemplo, Drummond é a chave; Araxá, os escritores locais e da região - o festival do ano passado levou quase 150 autores espontaneamente; e Paracatu, a vocação literária com foco em Afonso Arinos e a preservação do patrimônio histórico. O segredo é este: se a cidade não entender que o Festival Literário é feito, em primeiro lugar, para ela, não tem futuro”, diz Afonso Borges. O elo é estimulado desde a organização: “Em todas as cidades, quem cuida da relação com os escritores são os curadores locais. Eles são importantíssimos”.


Agenda dos eventos

Os três eventos criados e coordenados por Afonso Borges acontecem no segundo semestre. O Fliparacatu será de 27 a 31 de agosto, o Fliaraxá, de 1 a 5 de outubro, e o Flitabira, entre 29 de outubro e 2 de novembro. No primeiro semestre, está prevista a realização do Flipetrópolis, na cidade histórica do Rio de Janeiro, de 21 a 25 de maio – mas este depende ainda de confirmação.


Calendário literário

Pelo menos outros 12 grandes eventos acontecem ao longo de 2025, e as datas previstas são: a Feira Literária Internacional de Tiradentes (Fliti), de 9 a 13 de abril; o Festival Literário Internacional de Poços de Caldas (Flipoços), em edição especial de 20 anos, de 26 de abril a 4 de maio; a Feira do Livro de Brasília, de 2 a 11 de maio; a Bienal Mineira do Livro, em Belo Horizonte, de 3 a 10 de maio; a Feira do Livro de Joinville, de 29 de maio a 8 de junho; a Bienal do Livro do Rio de Janeiro, de 13 a 22 de junho; a Feira do Livro, em São Paulo, de 14 a 22 de junho; a Bienal do Livro do Paraná, de 25 de setembro a 5 de outubro; a Bienal do Livro de Pernambuco, de 3 a 12 de outubro; a Bienal do Livro de Alagoas, de 31 de outubro a 9 de novembro; a Feira do Livro de Porto Alegre, de 31 de outubro a 16 de novembro; a Feira Literária Internacional de Campina Grande (Flic), de 10 a 16 de novembro.

 

Fernando Rabelo
Conceição Evaristo ganhou a primeira biografia - Fernando Rabelo


Voz insubmissa

A Rosa dos Tempos lançou a primeira biografia sobre a escritora Conceição Evaristo, assinada pela jornalista Yasmin Santos para a Coleção Brasileiras, que já publicou “Niéde Guidon: Uma arqueóloga no sertão”, de Adriana Abujamra, e “Patrícia Galvão: Pagu, militante irredutível”, de Maria Valéria Rezende. Em “Conceição Evaristo: Voz insubmissa”, a autora investiga os caminhos que tornaram a imortal da Academia Mineira de Letras uma referência de autoria negra e “uma das mais influentes literatas do movimento pós-modernista no Brasil”, segundo a divulgação. A coleção tem curadoria de Josélia Aguiar.

 

REPRODUÇÃO
Virginia Woolf - REPRODUÇÃO


100 anos de Mrs. Dalloway

Publicado originalmente em 1925, o clássico romance de Virginia Woolf ganha edição especial e comemorativa pela Autêntica, com tradução revisada por Tomaz Tadeu. Na nova capa, pintura em aquarela assinada por Guacira Lopes Louro. “Neste livro tenho ideias até demais. Quero apresentar a vida e a morte, a sanidade e a insanidade; quero criticar o sistema social”, disse a autora inglesa, falecida em 1941.

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