A realidade quando eternizada

Encontro de escritores e editoras em livraria no Recife se debruça sobre as dores e os prazeres de se estar no mundo para a literatura

Publicado em 18/01/2025 às 20:45 | Atualizado em 20/01/2025 às 12:05
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O que se inscreve e se extrai dos livros não altera a essência da atualidade – mas perturba a sua composição. O instante atual vai mudando sutilmente enquanto teclo, redijo ou leio uma frase, uma página, esta tela ou um volume saído da gráfica – que pode não conter letras reunidas além do título, sendo formado inteiramente pela arte da ilustração. No movimento que ecoa a toada de um tique-taque, ou de contração e expansão como na sístole e diástole do coração, a inscrição (letra ou arte) e a leitura (alfabética ou não) fazem da literatura reflexo do real que não se perde do tempo de antes, nem se desprende do que vem depois.
A atualidade perturbada pela literatura remete ao que o real é – mas também ao que não é, e ao que poderia ser. Nesse ponto de tangência com a potência do tempo, a realidade se eterniza com a literatura, pela soma de olhares e de vozes sobrepostas ao olhar e à voz de quem cria um livro. Em qualquer época: os clássicos lidos e relidos ao longo dos anos, muito após a morte do autor, contam histórias, traduzem visões encaixadas em diversas atualidades. São reais, como continuam sendo atuais as exímias obras de arte da música e da pintura de artistas de séculos passados.
Mas a eternidade da arte não tem nada a ver com o congelamento da realidade, cuja essência mutante permanece. Numa imagem, o eterno seria um oceano em constante movimento, feito o universo ao nosso redor, ativo em todas as direções. No exercício da literatura e demais formas artísticas, a observação da eternidade nos aproxima da realidade para além do atual, e nos lança de volta à atualidade com outras percepções. Viajamos sem sair do lugar, mas temos a convicta impressão de termos saído.
Se na arte vemos a imitação da vida, na sístole há isolamento, e na diástole, congraçamento. A criação pode ser sistólica ou diastólica, assim como a apreensão da obra. Apolo e Dionísio se revezam, para os que preferem a chave de Nietzsche. Precisamos dessa distinção, desse distanciamento a nos vincular e desvincular ao real. Sendo seres eternos no instante, temos na arte uma chance de enxergar a eternidade na duração.
Como em animada conversa à tarde na Livraria Pó de Estrelas, no Recife. A residência artística de Fernanda Zanelli na capital pernambucana foi a ocasião que permitiu o encontro de gente que vive para os livros – e para o que os livros propiciam do lado de fora das páginas. Estiveram presentes, além da escritora de São Paulo e sua mãe, o poeta e músico João Melo, o escritor e historiador Henrique Inojosa, a poeta e professora Madu Sansil, a escritora, editora e professora de escrita criativa, Bruna Borges, e as anfitriãs, escritoras e editoras, Patrícia Vasconcellos e Gabriela Vasconcellos.
A conversa informal fluiu pelas trilhas das dores e alegrias da realidade eternizada na literatura. E da atualidade percebida pela experiência e pelo horizonte de cada um – espiando e compartilhando o que imaginamos ter visto, guardando as palavras do futuro, que sempre começam a ser escritas agora.

 

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Fernanda Zanelli no Morro da Conceição - Divulgação


Jornada no Recife

A jornada de Fernanda Zanelli contou com a companhia de sua mãe, Edileuza Maria Fragoso, que retorna, pela primeira vez em 60 anos, à cidade onde nasceu. O projeto recebeu o apoio de um edital de aprimoramento artístico do governo do estado de São Paulo, pela Lei Paulo Gustavo. Graças a esse apoio, as duas puderam viajar para o Recife e visitar locais da capital pernambucana, sobretudo em Casa Amarela, bairro onde Edileuza viveu até os 10 anos, época em que seus pais trabalharam na antiga fábrica Macaxeira. Grávida da segunda filha, Fernanda disse que “a viagem ao passado e ao presente da cidade é também a busca por um fio de meada capaz de traçar as linhas de um novo romance” em processo de criação. “As histórias da minha avó sobre a vida dela em Pernambuco sempre povoaram meu imaginário, porque elas guardavam uma vitalidade de origem e, ao mesmo tempo, algumas sombras. São lembranças que se desbotaram com a vinda deles para o Sudeste, quando meu avô perdeu o emprego na fábrica”, diz, em matéria que pode ser lida na íntegra no portal do Livronews.


Prêmios literários

A Biblioteca Parque Villa-Lobos, em São Paulo, recebe neste domingo, 19, debate sobre prêmios literários, com Lilia Guerra, Airton Souza e Ana Cristina Braga Martes. A mediação será de Tarso de Melo. A partir das 3 da tarde.

 

Guilherme Freire
Clarice Freire leva o novo livro em turnê - Guilherme Freire


Clarice Freire em turnê

O romance de estreia de Clarice Freire terá lançamento oficial esta semana, em São Paulo e no Rio de Janeiro. “São cidades que fazem parte da minha vida na literatura com muita intensidade e beleza. Nelas encontrei leitores, editei meus primeiros livros. Abri, no Rio e em São Paulo, as portas do mundo da palavra no lugar de autora e nunca mais fechei. Não estou somente animada para o lançamento do meu primeiro romance nessas cidades, como também me sinto emocionada, achando que a vida presta. Estou muito feliz”, conta a escritora pernambucana. Na terça, 21, Clarice bate-papo com Daniela Arrais na Livraria da Tarde, em São Paulo. E na quinta, 23, a conversa será com Lucas Telles na Janela Livraria do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. Nos dois dias, a partir das 7 da noite.


Dança da escrita

Daniela Arrais comenta o evento de lançamento de Clarice Freire em São Paulo, nesta terça: “Muito entusiasmada de bater esse papo com Clarice. Nossa amizade surgiu a partir da escrita, de uma troca muito sensível, profunda, sem filtro enquanto ela escrevia o “Para não acabar tão cedo” e eu escrevia meu livro de estreia. Nesta conversa, vou resgatar um pouco dessas trocas, que serviram de apoio fundamental e selaram uma amizade tão bonita. Quero saber como essa história chegou pra ela, como o Tempo virou o narrador, que dança ela fez ao escrever seu romance de estreia, enquanto se desdobrava em tantos papéis, não só o de escritora, como também o de coordenadora de pós-graduação em escrita criativa, voluntária no Projeto Vincular, mãe de Vicente... Quero que a gente fale também de tudo que envolve fazer um livro acontecer, as pressões, as redes sociais, as trocas com os leitores. E, também, de como a gente defende um tempo para a escrita e para a leitura nesse mundo cada vez mais veloz”.


Palavras e imagens

De Lucas Telles, editor da Record, sobre a obra: “A linguagem poética da Clarice Freire está bem marcada ao longo das páginas de “Para não acabar tão cedo”, seja nas belíssimas imagens que ela cria com as palavras ou na narrativa que se quebra eventualmente em versos. A trama é também extremamente criativa, tendo o Tempo, com um senso de humor bastante peculiar, como narrador. É fascinante ver o que Clarice criou em seu romance de estreia, e quem já a conhecia de suas poesias mesclando palavras e imagens da época do Pó de lua vai se surpreender com esse desdobramento ao mesmo tempo natural e desafiador do seu trabalho, escrito com primor.”


Sisson, 200 anos

Termina na quarta, 22, na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, a exposição em homenagem ao artista francês Sebastien August Sisson. A mostra reúne mais de 170 retratos, entre os quais, os de Dom Pedro II, da Princesa Leopoldina e do escritor José de Alencar. Também integram o acervo algumas gravuras de paisagens e monumentos da antiga capital federal, charges e caricaturas de periódicos da época, e ainda, a versão original de “O Namoro, Quadros ao Vivo”, primeira HQ da história do Brasil, publicada em 15 de outubro de 1855. No terceiro andar da Biblioteca Nacional, das 10 da manhã às 5 da tarde.


Um Brasil leitor

O debate de lançamento do Instituto Caminhos da Palavra será nesta quarta, 22, com a participação de José Castilho e Otávio Junior, em conversa com o fundador do Instituto, Henrique Rodrigues. A partir das 7 e meia da noite, ao vivo pelo site www.caminhosdapalavra.com.br.

 

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Osman Lins tem obra rara em nova edição da Cepe e da UFPE - Divulgação


Osman Lins

Será na sexta, 24, no Museu do Estado, no Recife, o lançamento da terceira edição de obra rara de Osman Lins, “Guerra sem Testemunhas: o escritor, sua condição e a realidade social”, cuja última edição foi impressa há 50 anos. A publicação é da Cepe e da Editora da UFPE, com organização de Fábio Andrade, para quem “como intelectual latino-americano, Osman Lins sempre insistiu na necessidade do escritor engajar-se no enfrentamento dos problemas e desafios de seu país”. O evento terá debate do organizador com Eduardo César Maia, a partir das 19h30.


Coisas óbvias sobre o amor

Elayne Baeta dá início neste sábado, 25, em Salvador, à turnê de lançamento do novo romance, publicado pela Galera Record. Serão percorridas 8 cidades até maio, e em cada evento serão arrecadadas doações para ONGs de acolhimento a pessoas LGBTQIAPN+ nos encontros para a promoção de “Coisas óbvias sobre o amor”. O livro anterior da escritora, “O amor não é óbvio”, vendeu mais de 100 mil exemplares. Na Livraria LDM do Shopping Vitória Boulevard, a partir das 3 da tarde. Depois a autora segue para Maceió (8/2), Belo Horizonte (15/2), Curitiba (15/3), Recife (22/3), Fortaleza (29/3), São Paulo (12/4) e Rio de Janeiro (10/5).

 

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O jornalista Sidney Gusman - Divulgação


Gusman na Bienal do Rio

Com a curadoria de Sidney Gusman, editor do Universo HQ, a Bienal do Livro do Rio de Janeiro, em junho, contará entre os espaços de destaque com o Artists Alley, dedicado a HQ e cultura pop em uma área de 300 metros quadrados. “Temos muito carinho por este espaço porque muitos dos leitores começam sua experiência se aventurando pelas histórias em quadrinhos”, enfatiza Tatiana Zaccaro, da GL, organizadora do evento, em parceria com o SNEL. Quem tiver interesse em ocupar o Artists Alley, as inscrições estão abertas até 16 de fevereiro. Para mais informações: www.bienaldolivro.com.br.


Prêmio Cepe

Encerradas as inscrições para a oitava edição do Prêmio Cepe Nacional de Literatura e a quinta edição do Prêmio Cepe Nacional de Literatura Infantil e Infantojuvenil. Foram inscritas 1.075 obras para a categoria adulto, nos gêneros romance, conto e poesia, e 665 para infantil e infantojuvenil. O resultado será conhecido em 31 de julho.

 

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O escritor Mailson Furtado publica pela Moinhos - Divulgação


Litígio

A Moinhos lança nos próximos meses a nova obra de Mailson Furtado. “Litígio compila 15 narrativas curtas, a desnudar vivências de tantos personagens dos sertões do Nordeste brasileiro – o vendedor de picolés nas ruas vazias guardadas pelo sol, o pescador que conversa com as águas do açude, o contador de histórias à beira das calçadas a inventar os dias, os que evocam a não-realidade em suas ações, tidos como únicos, estranhos, e ao mesmo tempo tão próximos de todos”, apresenta o autor. “Os contos marcados por uma oralidade em carne viva realçam o vivenciar de um tempo-espaço rico em uma dinamicidade própria, costurado entre o real e o fantástico, que se somam, amplificando o poder simbólico da universalidade a partir de sutis singularidades de tantas histórias guardados nos sertões do Brasil”.


Um pé lá, outro cá

Prossegue a campanha de pré-venda do primeiro livro de crônicas de Anthony Almeida, a ser publicado pela Aboio. “Um pé lá, outro cá” forma “um mosaico de histórias e sensações, capturando o olhar atento de quem transita entre culturas e paisagens. Da aridez do interior paulista ao calor pulsante das ruas de Caruaru e Recife, o autor cria um percurso literário íntimo, mas universal. Suas palavras nos convidam a caminhar junto, sentindo as nuances de cada lugar, reconhecendo-se nos detalhes, e refletindo sobre o que significa estar entre mundos”, de acordo com a divulgação. Para apoiar, acesse: Benfeitoria - Um pé lá, outro cá – Anthony Almeida.

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