Cachorros da raça pitbull são naturalmente agressivos e perigosos? Veja opinião de especialistas
Ataque contra empresária na última sexta-feira (16) em Petrolina reacende debate sobre temperamento de cães da raça pitbull
Tutora da pitbull Brisa, a croupier de poker Thais da Fonte, de 28 anos, sente o preconceito contra a cadela durante os passeios nas ruas. “Costumo sair com ela à noite por ter menos movimento, e vejo que as pessoas atravessam com medo dela. Já fui criticada, inclusive, por ela não estar de focinheira", conta. A tutora afirma que quando casos de ataques de cachorros da mesma raça ganham a mídia - como foi o caso da empresária mordida por um na última sexta-feira (16) em Petrolina, Sertão de Pernambuco - o problema piora; ainda que especialistas defendam que os pits são naturalmente dóceis.
“Ele é um animal forte, mas não é agressivo, é manso; tanto que não é um cachorro de guarda. Quando ataca, é porque existiu algum gatilho ou porque desenvolveu transtornos que não são inerentes à raça e que qualquer animal teria, dependendo da criação. O que acontece é que ele tem uma mordida muito forte, [com impacto] que pode chegar até uma tonelada, por isso os ataques são noticiados, e as pessoas entram em pânico e passam a ter horror da raça”, explica a médica veterinária Cristiane Aguiar.
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O marido da vítima do ataque do cachorro em Petrolina contou à reportagem que o animal andava solto, sem coleira ou guia pela orla da praia, o que, para a adestradora Crislane Santos é um grave erro. “A regra básica para qualquer tutor é que o animal deve sempre estar na guia nos passeios, mesmo que você diga que o cachorro é controlado e que atende quando chama”.
“Esse ataque poderia ter vindo de um vira-lata, golden, de um labrador ou de um shih-tzu, o que muda é o estrago que é feito, porque a mordida de um cão de raça pequena seria imperceptível. O tutor tem que saber o potencial e o temperamento do cachorro e os ambientes em que ele vai”, defende a adestradora.
De acordo com Thais, Brisa, de 2 anos e com 32kg de pura fofura, é tão dócil que até mesmo ajudou no desenvolvimento do filho mais velho, de 6 anos, que é diagnosticado com autismo. “Ele começou a construir frases baseadas em coisas que ela fazia, o que ele não fazia antes. Por causa dela, agora ele tem uma interação muito boa com pessoas e animais, sabe brincar, tem paciência e aprendeu a como respeitar o espaço dela”, narrou.
A cadela ainda vive com uma criança de um ano, e, segundo a mãe, nunca teve um comportamento agressivo contra os filhos. “Ele apronta muito mais com ela do que o meu filho mais velho, chega a puxar rabo, a orelha, o bigode… mas ela percebe que ele é mais frágil”. Mesmo com adultos, Brisa toma cuidado com as brincadeiras. “Ela é forte, então às vezes mesmo sem intenção a brincadeira machuca, então ela percebe e para.”
Entretanto, ainda que o pit tenha crescido em um ambiente ou sob estímulos que o tornaram mais violento, é possível reverter esse quadro, segundo Cristiane. “O comportamento pode ser revertido, não é necessário eutanasiar o animal por isso. Ele deve passar alguns dias em observação, deve ser levado para um adestramento e fazer avaliações com uma veterinária que trabalhe com comportamento animal para entender por que ele está agredindo.”
“Os cães educados dessa forma ficam com traumas e descontrolados, isso não é saudável, eles não são felizes. Mas tem como voltar a uma vida saudável e social sim, com muito cuidado e muito treino, porque o cachorro aprende desde que nasce até morrer”, afirma Crisline.