O Terminal Integrado Joana Bezerra, localizado na comunidade do Coque, área central da capital, e um dos mais problemáticos da Região Metropolitana do Recife, passa por mais uma tentativa de moralização do acesso de passageiros. Desde o sábado (29/8), a unidade está controlando - com a presença da Polícia Militar - a entrada de pessoas no local e impedindo o embarque sem o pagamento da passagem, hábito comum ao terminal mesmo antes de ser totalmente reconstruído, em 2013. Quase três mil pessoas costumavam acessar o sistema de ônibus e metrô livremente, sem pagar a tarifa, pelos portões sempre escancarados do TI. São os chamados passageiros invisíveis, que colaboram com a superlotação dos coletivos porque não são computados nas projeções de demanda para o dimensionamento da frota.
A operação está sendo feita numa parceria entre o governo de Pernambuco e o setor empresarial de ônibus. O Grande Recife Consórcio de Transportes Metropolitano (CTM) está viabilizando o pagamento de dois porteiros, enquanto a empresa de ônibus Borborema banca outros quatro profissionais, além de bilheteiros e de ter recuperado a estrutura dos portões e da bilheteria, abandonados desde outubro do ano passado, quando a unidade ficou completamente aberta à evasão de receita. É a segunda tentativa de organizar e evitar as invasões do local.
Em 2019, o Estado tentou, também com a Borborema, colocar ordem no TI, mas não deu certo. Agora, a diferença é a presença de PMs no terminal, pagos pelo Programa de Jornada Extra (PJEs), num convênio com a Secretaria de Defesa Social (SDS). “E tem dado certo por isso. Porque os policiais militares estão lá. A presença da PM é fundamental. Se ela não ficar presente, não conseguimos impedir as invasões. Tudo vai por água abaixo. Isso precisa estar muito claro para o governo do Estado, gestor do transporte na RMR. Nossos funcionários, sozinhos, não conseguem evitar as intimidações, muito comuns na região”, ressalta Geraldo Magela, diretor de Operações da Borborema e que vivencia os problemas do TI na pele.
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Para se ter ideia do que o operador diz, levantamento recente do CTM apontou que, em dois dias de movimento antes da pandemia, 2.800 e 3 mil pessoas foram contabilizadas entrando na unidade sem pagar entre as 6h e às 18h. No sábado (28/8), quando os portões passaram a ser controlados, 900 passageiros pagaram a passagem na catraca do terminal, 760 o fizeram no domingo - dia em que a evasão era ainda maior -, e nesta segunda-feira (31/8), 1.200 tinham feito o pagamento da tarifa. Pela unidade circulam mais de 40 mil passageiros. Havia dias em que apenas de cinco a 12 pessoas pagavam a passagem para acessar os ônibus ou o metrô pelo terminal.
Na prática, a operação deflagrada pelo Estado e Borborema nada mais é do que manter os portões do terminal fechados, com acesso apenas para os coletivos, e a reativação da bilheteria, que estava fechada desde outubro do ano passado. “Sabemos que a presença da PM é fundamental e temos a garantia do governo de que ela vai estar sempre presente. Não na linha de frente, mas estará na unidade para atuar no que for preciso. É a primeira vez que tentamos uma ação dessas com a PM. Esse controle é fundamental para o planejamento da operação. O passageiro que entra sem pagar é o que chamamos de fantasma, invisível, e ele é extremamente danoso para todo o sistema porque ele superlota os coletivos. Se não o enxergamos, não temos como projetar uma oferta de serviço suficiente. Ainda mais agora, na pandemia, quando temos trabalhado com uma média de quatro passageiros por metro quadrado”, explica o diretor de Operações do CTM, André Melibeu.
Quem frequenta o TI Joana Bezerra e paga a passagem corretamente aprovou a iniciativa. “Venho de Nova Descoberta e desço do lado de fora do terminal. Ou seja, preciso pagar uma diferença para pegar o metrô. Sempre via as pessoas entrando sem pagar e sentia uma revolta porque eu não acho certo e sempre paguei. O governo já devia fazer isso há mais tempo. E só espero que mantenha porque essas ações nos TIs começam e depois param”, afirmou a diarista Maria José da Silva, que passa pelo menos quatro vezes da semana pelo TI.