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Morte de ciclista expõe urgência de uma ciclovia na Avenida Caxangá, no Recife

Equipamento foi previsto ainda na execução do Corredor de BRT Leste-Oeste e, depois, no Plano Diretor Cicloviário (PDC), ambos na gestão do governador Eduardo Campos. Mas nunca foi executado

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Roberta Soares

Publicado em 04/11/2021 às 16:28 | Atualizado em 05/11/2021 às 14:36
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Promessa antiga e reivindicação prioritária de ciclistas que usam a bicicleta como meio de transporte, a implantação de uma ciclovia na Avenida Caxangá - um dos principais eixos viários do Recife e ligação com a Zona Oeste da Região Metropolitana - voltou a ganhar força na cidade após o violento atropelamento de um ciclista na avenida. Como o fazem muitos, a vítima (Flávio Antônio, 42 anos) estaria pedalando no corredor de BRT para se proteger do tráfego. Foi praticamente esmagada por um motorista conduzindo uma caminhonete que, segundo as primeiras informações, estaria em alta velocidade quando um dos pneus estourou. O impacto foi tão forte que o carro teve sua lateral toda arrancada ao colidir na Estação de BRT Engenho Poeta. O ciclista, como informado pela perícia técnica, teve o crânio aberto com a violência.

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FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
Apesar do alto número de sinistros de trânsito, a Avenida Caxangá é um dos corredores da cidade que mais têm ciclistas circulando - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

Sob a ótica da bicicleta, a Avenida Caxangá é um dos eixos mais importantes para quem pedala e, ao mesmo tempo, extremamente temido. Dados da Associação Metropolitana de Ciclistas do Recife (Ameciclo) e da própria Prefeitura do Recife confirmam essa importância e temor. Apontam que a Caxangá tem uma média superior a 100 registros de colisões e atropelamentos em geral por ano - considerando ferimentos e óbitos. Em 2016, desse total, 6 foram com ciclistas; em 2017, 10; em 2018, 9; em 2019, 9; e em 2020, 15. Totalizando 49 registros com ciclistas nos cinco anos, uma média de 10 por ano. “Os números mostram que é quase uma colisão por dia envolvendo ciclistas. 3% das colisões em geral do Recife acontecem na avenida. Isso representa muito”, alerta Daniel Valença, da Ameciclo. Considerando os sinistros de trânsito, a Caxangá é a quinta pior via do Recife.

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As estatísticas ainda apontam, acreditem, que a violência no trânsito na Avenida Caxangá aumentou durante a pandemia. Enquanto em 2016 a avenida representava 5,31% dos sinistros envolvendo ciclistas no Recife, em 2020 pulou para 9,74%. Ao mesmo tempo, a via é um dos corredores da cidade que mais têm ciclistas circulando. E que mais cresce: segundo contagem da Ameciclo, eram 3.067 em 2015 (contagem no cruzamento com a Avenida San Martin, em San Martin) e pulou para 3.976 em 2019. Já no cruzamento com a Avenida Afonso Olindense, na Várzea, foram 3.890 em 2020. Já nas contagens da Prefeitura do Recife, o número de ciclistas circulando é ainda maior, alcançando os 5 mil em dois pontos de contagem.

Carlos Simões/TV Jornal
Colisão aconteceu nesta quarta-feira (3/11). O impacto foi tão forte que o carro teve sua lateral toda arrancada ao colidir na Estação de BRT Engenho Poeta. O ciclista, como informado pela perícia técnica, teve o crânio aberto com a violência - Carlos Simões/TV Jornal

PROMESSAS E MAIS PROMESSAS

Por isso a necessidade de uma estrutura que proteja os ciclistas na Avenida Caxangá. Talvez, é verdade, nem mesmo uma ciclovia evitasse a morte de Flávio Antônio - já que, pela destruição do veículo e violência do atropelamento, a velocidade era altíssima. Mas talvez o ciclista não estivesse naquele local quando houve a colisão. Estivesse pedalando na estrutura se ela existisse. O fato é que, independentemente do que poderia ter acontecido ou deixado de acontecer, a ciclovia na Avenida Caxangá é uma dívida dos gestores públicos com a população que usa e que defende a ciclomobilidade.

ARTES/JC
. - ARTES/JC

Em debate na Rádio Jornal, a CTTU chegou a prometer que as grandes avenidas da capital ganharão estruturas para bicicletas

Constava ainda do projeto do Corredor de BRT Leste-Oeste, que corta a Zona Oeste do Recife e conecta Camaragibe, na RMR, ao Centro da capital, em 16 km. A promessa, ainda na primeira gestão do governador Eduardo Campos, também do PSB, era um equipamento ao longo de toda a avenida. Mas nada aconteceu. “O projeto existe e chegamos a analisá-lo ainda em 2013. Mas ficou apenas no conceito paisagístico”, confirma Valença.

Em 2014, depois que o Estado gastou quase R$ 1 milhão para executar o Plano Diretor Cicloviário da RMR (PDC), também sob a gestão e com o aval de Eduardo Campos, mais uma vez a Avenida Caxangá foi indicada para receber uma ciclovia. Mas nada até hoje. Nem ciclovia na Caxangá, nem ampla implantação do PDC, que segue, sete anos depois, com menos de 16% executado.

FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
Considerando os sinistros de trânsito envolvendo ciclistas, a Caxangá é a quinta pior via do Recife - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

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