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Maio Amarelo: os ciclistas estão nas ruas. Só não vê quem não quer

O preço das passagens - reajustadas nas principais capitais mesmo com a crise econômica e de emprego da pandemia de covid-19 - jogou muita gente para as bikes. Além daquelas pessoas que já queriam adotar a bicicleta pela questão de saúde e sustentabilidade

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Roberta Soares

Publicado em 22/05/2022 às 11:52 | Atualizado em 22/05/2022 às 11:53
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É impossível não perceber que o número de pessoas usando a bicicleta para se deslocar nas ruas das cidades aumentou. No Brasil e em Pernambuco. Pelo menos na Região Metropolitana do Recife e, comprovadamente por cálculos, na capital.

E como a presença de mais pessoas se deslocando no trânsito a pé ou de bike exige mais atenção de todos, especialmente dos motoristas, a discussão é necessária no mês do Maio Amarelo, época em que a segurança viária e a preservação de vidas no trânsito ganha destaque.

O preço das passagens - reajustadas nas principais capitais mesmo com a crise econômica e de emprego da pandemia de covid-19 - jogou muita gente para as bikes. Além daquelas pessoas que já queriam adotar a bicicleta pela questão de saúde e sustentabilidade.

Os números do sistema de compartilhamento de bicicletas públicas operado pela Tembici, com patrocínio do Banco Itaú, comprovam esse crescimento. A primeira quinzena de abril de 2022, comparada ao mesmo período de 2021, registrou aumento médio de 18% no número de viagens.

Os índices têm sido observados em todas as praças atendidas pela Tembici no Brasil: Recife (Bike PE), São Paulo (Bike Sampa), Rio de Janeiro (Bike Rio), Salvador (Bike SSA) e Porto Alegre (Bike POA). A empresa aposta que o uso mais intenso das bicicletas em seus sistemas se deve a uma mudança gradual de comportamento das pessoas.

Vulnerabilidade dos ciclistas aumentou no trânsito

Mas o maior impulsionador do uso das bikes seria, de fato, o custo. A Tembici diz que, de acordo com a Calculadora de Trajetos, um percurso diário de cinco quilômetros, por exemplo, pode sair por mais de R$ 1.200 no mês, quando feito de carro. Se realizado no transporte público, o gasto seria, em média, de R$ 230. Enquanto que, com a bike compartilhada, pode custar R$ 29,90 por mês.

THIAGO LUCAS/ ARTES JC
JC-CID0522_CICLISTAS - THIAGO LUCAS/ ARTES JC

Esse custo de quase R$ 30 seria referente ao plano mensal dos sistemas de bike share, que permite o uso diário de 1h ou 2h (aos domingos e feriados), respeitando apenas os intervalos de 15 minutos entre as corridas. Em algumas praças, como Salvador e Porto Alegre, por exemplo, é ainda mais barato: R$ 15.

O Bike PE possui, atualmente, 960 bikes e 90 estações distribuídas no Recife (a grande maioria), Olinda e Jaboatão dos Guararapes.

RODOLFO LOEPERT/PCR/IMAGEM ILUSTRATIVA
O Dia Mundial Sem Carro será marcado no Recife com a implantação e requalificação de ciclofaixas em Santo Amaro, na área central, e a oferta de 500 vouchers para viagens de bicicleta no sistema de compartilhamento Bike-PE - RODOLFO LOEPERT/PCR/IMAGEM ILUSTRATIVA

MAIS CICLOFAIXAS

Pelo menos no caso do Recife, a ampliação da malha cicloviária interfere diariamente - a capital conta atualmente com 160 km de ciclofaixas (em sua grande maioria) e tem feito conexões estratégicas entre os equipamentos que permitem, em alguns bairros da cidade, compor rotas inteiras para quem quer usar a bicicleta como meio de transporte.

Não é mais acidente de trânsito. Agora, a definição é outra nas ruas, avenidas e estradas do Brasil

Embora ainda não tenha enfrentado as grandes avenidas, o Recife tem visto o número de ciclistas aumentar consideravelmente. Contagens frequentes realizadas pela Ameciclo mostram esse crescimento. Em alguns pontos, ultrapassou os 80%, como o registrado no cruzamento da Avenida Rui Barbosa com a Rua Amélia, na Zona Norte da capital.

CONTAGEM NO RECIFE

Avenida Rui Barbosa com Rua Amélia, Zona Norte do Recife

Aumento de 83%

2.629 ciclistas em 2022
1.431 ciclistas em 2013

Avenida Abdias de Carvalho com Avenida General San Martin, Zona Oeste do Recife

Aumento de 57%

3.706 ciclistas em 2021
2.354 ciclistas em 2016

Aumento de 35%

2.733 ciclistas em 2019

Avenida Domingos Ferreira com Avenida Antônio Falcão, Zona Sul do Recife

Aumento de 17%

1.441 ciclistas em 2021
1.199 ciclistas em 2019

Avenida Recife, Zona Sul do Recife

Aumento de 26%

2.292 ciclistas em 2021
1.694 ciclistas em 2016

Varadouro, em Olinda


Aumento de 40%
2.126 ciclistas em 2021
1.300 ciclistas em 2018

Avenida do Forte com Rua Miguel Vieira, Zona Oeste do Recife
Aumento de 10%
3.961 ciclistas em 2022
3.561 ciclistas em 2013

* Fonte: Ameciclo

YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
Com o reforço, o sistema passa a operar com 960 bicicletas e 90 estações - YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM

CRESCIMENTO É NACIONAL

O cenário nacional é semelhante. O Perfil do Ciclista 2021, estudo realizado pelo Transporte Ativo e pelo Laboratório de Mobilidade Sustentável da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Labmob-UFRJ), apontou que 26% dos entrevistados usam a bicicleta como meio de transporte há menos de dois anos, ou seja, começaram a pedalar em seus deslocamentos diários durante a pandemia de covid-19.
É o mesmo que dizer que um em cada quatro entrevistados adotaram a bike. Os pesquisadores entrevistaram mais de 10 mil ciclistas, em 16 cidades do País - o Recife entre elas -, entre setembro e novembro de 2021.

ALGUNS DADOS DO ESTUDO

Principais destinos:

Trabalho: 75,4%
Social: 63,6%
Compras: 50,6%
Escola/Faculdade: 15,4%

Motivação para pedalar:

Rapidez/praticidade: 35,4%
Saúde: 30,5%
Custo: 23%
Consciência ambiental: 4,7%
Outros: 6,1%
Sem resposta: 0,4%

Estímulo para pedalar mais:

Infraestrutura: 55,6%
Segurança no trânsito: 26,8%
Segurança pública: 7,3%
Outros: 6,2%
Arborização/sombreamento: 2,5%
Sem resposta: 1,6%

Fonte: Perfil do Ciclista Brasileiro 2021


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