TRANSPORTE PÚBLICO

PRIVATIZAÇÃO DO METRÔ DO RECIFE estaria mais próxima após LULA não retirar CBTU do programa de concessões públicas

Governo federal retirou sete empresas públicas do Plano Nacional de Desestatização (PND), mas manteve a CBTU

Roberta Soares
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Roberta Soares
Publicado em 14/04/2023 às 17:35 | Atualizado em 14/04/2023 às 17:40
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Mantendo a CBTU no PND, a leitura é de que a privatização do Metrô do Recife não foi engavetada pela União - FOTO: GUGA MATOS/JC IMAGEM

A decisão do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de manter a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) no programa de privatizações do governo federal, enquanto retirou outras sete empresas públicas, foi recebida como um golpe certeiro para o futuro do Metrô do Recife.

A leitura que metroviários, especialistas em transporte metroferroviário e gestores públicos estão fazendo é que, pelo menos por enquanto, a sinalização é de que a privatização do Metrô do Recife não foi engavetada pela União, como se esperava e o presidente Lula deu a entender na campanha presidencial de 2022.

E, por isso, poderá estar mais perto do que se imagina. O entendimento é que, mesmo podendo vir a retirar a CBTU do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI) e do Programa Nacional de Desestatização (PND) por decreto presidencial a qualquer momento, a permanência é um claro sinal de que o governo federal vai seguir com a concessão pública.

Para quem não sabe, o Metrô de Belo Horizonte (MG), que também era gerido pela CBTU junto com os sistemas do Recife, João Pessoa (PB), Maceió (AL) e Natal (RN), foi concedido à iniciativa privada no finzinho do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em dezembro de 2022. Foi a gestão de Bolsonaro, inclusive, que incluiu a CBTU no PND.

E o Metrô do Recife tem um estudo de concessão pública que previa um pacote no valor de R$ 8,4 bilhões em 30 anos. Desse total, R$ 3,8 bilhões seriam aportes públicos para reerguer o sistema e cobrir a diferença entre receita tarifária e despesa de operação.

SETE EMPRESAS PÚBLICAS EXCLUÍDAS DO PROGRAMA NACIONAL DE DESESTATIZAÇÃO

Na quinta-feira (6/4), em pleno feriadão da Semana Santa, o governo federal publicou um decreto retirando sete empresas públicas do programa de desestatização.

Entre elas, os Correios e a EBC (Empresa Brasileira de Comunicação). As duas fazem parte de um pacote de mais oito excluídas dos programas de PPI e PND. A lista foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União, na quinta-feira.

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O Metrô do Recife tem um estudo de concessão pública que previa um pacote no valor de R$ 8,4 bilhões em 30 anos. Desse total, R$ 3,8 bilhões seriam aportes públicos para reerguer o sistema e cobrir a diferença entre receita tarifária e despesa de operação. - GUGA MATOS/JC IMAGEM

As medidas já eram esperadas porque, após sua eleição, Lula já havia afirmado em discurso que as privatizações iriam acabar no País. O anúncio, inclusive, provocou reação no mercado financeiro na ocasião. Mas, mesmo assim, a CBTU permaneceu.

“De fato, é um sinal de que o governo federal vai seguir com a concessão pública mesmo. Ainda mais sabendo que existe interesse do setor privado para assumir o metrô. Estamos falando de um investimento superior a R$ 2 bilhões só para atualizar o sistema. Fora o que vai ter que ser destinado para manter a boa operação”, analisa um especialista em anonimato.

“Esse é o problema porque o governo federal não diz nada, absolutamente nada. Nem sobre a privatização nem sobre a situação do sistema. O Metrô do Recife segue na mesma situação difícil do ano passado. Sem recursos para investimento, com valores insuficientes para o orçamento e, o que é pior, sem um planejamento estratégico. O último que tivemos foi para os anos de 2015 a 2019”, critica um metroviário.

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A Coluna Mobilidade não conseguiu falar com Sindicato dos Metroviários de Pernambuco (Sindmetro), entidade que, com articulações políticas, conseguiu convencer, às vésperas das Eleições 2022, o então governador de Pernambuco Paulo Câmara a engavetar a proposta de concessão do sistema construída, inclusive, com técnicos do próprio governo estadual.

COMANDO DO METRÔ DO RECIFE SERIA INTERINO

Nos bastidores comenta-se, inclusive, que a permanência da CBTU no PND é reflexo da disputa política que está sendo travada no governo federal entre os que defendem a continuidade do processo de privatização e os que são contrários.

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“De fato, há visões distintas no governo federal sobre a manutenção ou não da CBTU no PND. Até mesmo a concessão do Metrô de Belo Horizonte gerou divergências. A questão é que não se sabe se a União conseguiria investir mais no metrô”, afirma um gestor público.

Reflexo dessa indecisão do governo do presidente Lula seria a indicação do novo superintendente do Metrô do Recife, feita em março. Segundo informações extraoficiais, o eletrotécnico Dorival Martins estaria apenas interinamente no cargo, até que as arrumações políticas sejam feitas em Brasília.

Dependendo da decisão que venha a ser tomada, o metrô seria repassado a um grupo político ou a outro. Se a União decidir que vai tirar a CBTU do PND, a presidência poderia ir para o grupo do senador Humberto Costa (PT), por exemplo, que está pleiteando o cargo para o seu assessor parlamentar e ex-vereador do Recife, Dilson Peixoto (PT).

“Mas, caso a decisão seja por manter a concessão, iriam escolher um partido que topasse tocar o projeto, coisa que o grupo de Humberto Costa não aceitaria. É tudo uma arranjo político”, reforça outro gestor público.

VEJA A LISTA DE EMPRESAS QUE DEIXARAM O PROGRAMA DE PRIVATIZAÇÃO

"Ficam excluídos do PND e revogadas as qualificações no PPI", segundo o DOU

ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos)
EBC (Empresa Brasileira de Comunicação)
Dataprev (Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência)
Nuclep (Nuclebrás Equipamentos Pesados S.A)
Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados)
ABGF (Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias S.A.)
Ceitec (Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada S.A).

"Ficam revogadas as qualificações no PPI", segundo o DOU

Armazéns e imóveis da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento)
Telebras (Telecomunicações Brasileira S.A)
PPSA (Empresa Brasileira de Administração de Petróleo e Gás Natural S.A. - Pré-Sal Petróleo S.A )

METRÔ DO RECIFE TEM UM DÉFICIT ANUAL DE R$ 300 MILHÕES

O Metrô do Recife é, atualmente, um sistema abandonado, sem recursos sequer para garantir uma boa operação diária. Sem falar em investimentos, que inexistem há pelo menos cinco anos. O déficit de custeio anual é de R$ 300 milhões.

E são muitas as consequências do abandono. Mas a principal delas é a quebra e a consequente paralisação do sistema, prejudicando os passageiros que dependem do serviço. Já foram 400 mil pessoas transportadas por dia, nas duas linhas principais do sistema: Linhas Centro e Sul. Agora, são menos de 200 mil passageiros diários (algo próximo a 160 mil).

A crise econômica aliada ao aumento de mais de 180% no valor da passagem - que subiu de R$ 1,60 para R$ 4,25 num período inferior a dois anos - e as quebras provocadas pelo sucateamento espantaram o usuário.

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Na quinta-feira (6/4), em pleno feriadão da Semana Santa, o governo federal publicou um decreto retirando sete empresas públicas do programa de desestatização.Mas manteve a CBTU, que já perdeu o Metrô de BH para a operação privada - GUGA MATOS/JC IMAGEM

Também de acordo com os dados encaminhados pela CBTU, foram nove quebras somente entre janeiro e abril de 2022. Em 2021, outras 22 paralisações. Algumas superiores a 24 horas de interrupção do sistema, o que comprova o grau de desmonte do metrô. A maioria com mais de 10h.

CONHEÇA A PROPOSTA DE CONCESSÃO PARA O METRÔ DO RECIFE

O processo de estadualização e concessão pública do Metrô do Recife seria iniciado ainda em maio de 2022. A modelagem e os valores foram apresentados ao Ministério da Economia no fim de 2021 e já tinham sido validados pela equipe técnica que está à frente dos estudos.

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O governo de Pernambuco seria o gestor do futuro contrato de concessão pública do Metrô do Recife, no valor de R$ 8,4 bilhões e com validade de 30 anos. Desse total, R$ 3,8 bilhões seriam aportes públicos para reerguer o sistema e cobrir a diferença entre receita tarifária e despesa de operação.

Sendo, R$ 3,1 bilhões mobilizados pelo governo federal e R$ 700 milhões pelo governo de Pernambuco. E, dos R$ 3,1 bilhões bancados pela União (Ministério da Economia), R$ 1,4 bilhão seriam recursos que ficariam guardados para serem utilizados pelo Estado ao longo do contrato de concessão pública.

O R$ 1,4 bilhão seria a reserva para garantir o equilíbrio econômico financeiro do contrato, já que os estudos realizados em dois anos já apontaram que a receita gerada pela demanda de passageiros do Metrô do Recife não seria suficiente para cobrir o custo de operação.

O modelo a ser adotado pelo governo do Estado seria de concessão pública simples, sem contrapartida financeira ao longo do contrato.

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