GOVERNO RAQUEL LYRA

Falta de autonomia provoca saída de secretário de Mobilidade e Infraestrutura de Pernambuco

Evandro Avelar deixa precocemente a gestão da governadora Raquel Lyra e surpreende setores e até o próprio governo

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Roberta Soares

Publicado em 26/08/2023 às 12:57 | Atualizado em 26/08/2023 às 16:52
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Em primeiro lugar, é importante afirmar que a saída precoce do secretário de Mobilidade e Infraestrutura de Pernambuco, Evandro Avelar, foi uma perda tanto para a infraestrutura como para a mobilidade no Estado - nesse caso, o transporte público, tanto metropolitano como intermunicipal.

Avelar tem trajetória nos dois setores, sempre em cargos ligados à infraestrutura e ao transporte coletivo. Por isso, perde a população, que será privada de possíveis resultados positivos que sua gestão viesse a alcançar.

Em segundo lugar, é preciso fazer a leitura sobre as causas da saída do secretário, mesmo sem que ele tenha conversado com a imprensa sobre a retirada. Como esperado, Avelar optou pelo silêncio.

Mas sua saída importa porque sinaliza os caminhos que a primeira gestão da governadora Raquel Lyra (PSDB) está seguindo na infraestrutura, transporte urbano e gestão do trânsito. Pessoas próximas ao secretário afirmam que, nos bastidores do processo, sabe-se que a ausência de autonomia do secretariado foi a razão principal.

O sentimento é de que a hierarquia não é respeitada, ficando para os secretários uma função apenas figurativa e o ônus pelos problemas que venham a acontecer. Tendo que lidar com órgãos e empresas que atuam desconectados, revelando uma desorganização institucional e, principalmente, de política de governo. E com os riscos pelos erros desses mesmos gestores que agem sozinhos, sem um planejamento de governo.

A saída de Evandro Avelar, inclusive, deixou perplexos deputados da base aliada de Raquel Lyra. “Ele estava chateado com essa falta de autonomia e não é de hoje”, afirmou um deputado. “Estava cansado, já havia conversado com a governadora para sair e, ontem, decidiu não dar mais tempo”, disse um amigo próximo.

SEM AUTONOMIA, MAS COM RESPONSBAILIDADE PELOS PROBLEMAS

LEO MOTTA/ACERVO JC IMAGEM
A saída de Evandro Avelar, inclusive, deixou perplexos deputados da base aliada de Raquel Lyra - LEO MOTTA/ACERVO JC IMAGEM

No setor de transporte público, um exemplo recente da perda de autonomia que pode ser citado foi a retirada de 200 ônibus da frota da Região Metropolitana do Recife, que o Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitana (CTM) realizou sem que houvesse uma discussão ampla sobre a ação. Mas, quando o problema foi denunciado pelo JC, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) intimou o CTM para dar explicações e a Semobi foi junto, por exemplo.

Na infraestrutura, a ausência de autonomia pode ser exemplificada com o detalhamento dos projetos rodoviários prioritários. Até agora, não se sabe, por exemplo, quais serão as obras que o governo de Pernambuco irá executar com o R$ 1,5 bilhão que o Estado conseguiu financiar em empréstimos com o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Entre outros episódios.

Nem mesmo a participação na indicação dos nomes para o comando do chamado segundo escalão das secretarias foi dada ao secretariado, com poucas exceções.

A saída precoce do secretário Evandro Avelar sinaliza que algo não está bem. E, num setor como mobilidade urbana e infraestrutura, é ainda mais preocupante diante dos desafios a serem enfrentados. Principalmente numa pasta que foi unificada - o transporte público, o trânsito e a infraestrutura foram todos para a Semobi nesse governo - e que gerou uma expectativa positiva quando criada.

EM OITO MESES DE GESTÃO, QUATRO SECRETÁRIOS DEIXARAM O GOVERNO

BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
Evandro Avelar será substituído pelo atual secretário de Projetos Estratégicos Diogo Bezerra - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM

Evandro Avelar será substituído pelo atual secretário de Projetos Estratégicos Diogo Bezerra. O governo do Estado, entretanto, não informou quem assumirá a secretaria em seu lugar.

Antes de Avelar, outros três secretários de Raquel já haviam deixado o governo com apenas sete meses de gestão: a filósofa Regina Célia Barbosa, saiu da Secretaria da Mulher (a administradora Mariana Melo assumiu a pasta); o engenheiro agrônomo Aloisio Ferraz, deixou a Secretaria de Desenvolvimento Agrário, Agricultura, Pecuária e Pesca (agrônoma Ellen Viégas assumiu); além de Silvério Pessoa, que deixou a Secretaria de Cultura, dando lugar a Cacau de Paula.

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