Álcool e trânsito: mortes provocadas pela mistura bebida e direção caem no País, mas cresce impacto na população mais velha

A constatação é do anuário "Álcool e a Saúde dos Brasileiros: Panorama 2024", elaborado pelo CISA (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool)

Publicado em 11/07/2024 às 13:14 | Atualizado em 11/07/2024 às 14:20

A Lei Seca e a impaciência de boa parte da sociedade com aqueles motoristas que ainda insistem em beber e dirigir têm - felizmente - reduzido o número de mortes no trânsito provocadas pela mistura álcool e direção. A constatação é do anuário “Álcool e a Saúde dos Brasileiros: Panorama 2024”, elaborado pelo CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool, referência nacional no estudo dos efeitos do álcool para a humanidade e que fez o recorte sobre os sinistros de trânsito atribuíveis ao consumo de bebida alcoólica no Brasil.

O estudo apontou que entre 2010 e 2022 houve uma diminuição de 22,7% no número de mortes, especialmente entre os homens, decorrentes de sinistros de trânsito (não é mais acidente de trânsito que se define, segundo a ABNT) atribuíveis ao álcool. O Brasil saiu de 13.911 óbitos para 10.747 óbitos. E, em relação ao ano anterior (2021), foi observada estabilidade nos números. 

Óbitos por sinistros de trânsito atribuíveis ao álcool no Brasil

Vítimas do sexo masculino:
2010 - 12139
2021 - 9603
2022 - 9457

Vítimas do sexo feminino:
2010 - 1772
2021 - 1251
2022 - 1290

Total:
2010 - 13911
2021 - 10853
2022 -10747

Apesar da redução, Arthur Guerra, psiquiatra e presidente do CISA, alerta para o alto número de pessoas que ainda insistem em beber e dirigir. “Acompanhamos com entusiasmo a queda progressiva da mortalidade por sinistros de trânsito causados pelo consumo de álcool, mas muitos brasileiros ainda bebem e dirigem. Alterações cognitivas e motoras ocorrem mesmo que não sejam percebidas pelo condutor, por isso é perigoso qualquer consumo antes de dirigir”, avalia.

ÓBITOS DE JOVENS REDUZEM E ENTRAM EM CENA OS CONDUTORES MAIS VELHOS

PRF/DIVULGAÇÃO
No anuário, o CISA faz o recorte sobre os sinistros de trânsito atribuíveis ao consumo de bebida alcoólica no Brasil - PRF/DIVULGAÇÃO

Por outro lado, a faixa etária dos condutores mais impactados mudou. Até então, eram os motoristas mais jovens os que mais morriam devido ao consumo de bebidas alcoólicas antes de assumir a condução de um veículo - carro ou moto, por exemplo.

Em 2010, aponta o Cisa, os jovens adultos de 18 a 34 anos lideravam o número de óbitos. Mas, atualmente, a população mais afetada está entre 35 e 54 anos. A morte de jovens condutores, entretanto, seguiu alta - 33,3%, sendo superada por pouco pelos motoristas de 35 a 54 anos, que responderam por 35,4%.

Aqueles condutores com mais de 55 anos também têm peso negativo: responderam por 27% dos óbitos em sinistros de trânsito atribuíveis ao consumo de álcool, segundo op estudo.

Mortes por acidente de trânsito atribuíveis ao álcool no Brasil, 2022, por faixa etária

De 0-17 anos - 4,3%
De 18-34 anos - 33,3%
De 35-54 anos - 35,4%
Mais de 55 - 27,0%

OS CONDUTORES MAIS VELHOS TAMBÉM ADMITEM MAIS QUE BEBEM APÓS DIRIGIR

DIVULGAÇÃO/PRF
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 1,35 milhão de pessoas morrem anualmente em sinistros de trânsito no mundo. No Brasil, a taxa é de 16,1 mortes por 100 mil habitantes - DIVULGAÇÃO/PRF

Outro indicador importante é o comportamento de dirigir após o consumo de bebidas alcoólicas, monitorado desde 2011 pelo Vigitel, levantamento do Ministério da Saúde. A edição de 2023 mostra que, enquanto 5,9% da população relata beber e dirigir, entre as pessoas de 35 a 54 anos, observa-se um aumento na prevalência, de 7% em 2011 para 7,8% em 2023.

Outro dado preocupante é que, no mesmo período, seis capitais registraram crescimento na condução de veículos após uso de álcool: Palmas (TO), Rio de Janeiro (RJ), Boa Vista (RO), Teresina (PI), São Luís (MA) e Campo Grande (MS). Por outro lado, em 19 capitais e no Distrito Federal o anuário aponta que houve uma queda, com destaque para o Nordeste: Natal (RN), Recife (PE) e João Pessoa (PB).

CONFIRA o estudo do CISA na íntegra

”A implementação da Lei Seca estabeleceu uma importante prática, recomendada para outros países. No entanto, a legislação sozinha não muda comportamentos. São necessárias campanhas educativas, fiscalização (como blitzes) e sanções rigorosas para quem descumprir a lei, especialmente onde os indicadores são preocupantes”, alerta Mariana Thibes, doutora em sociologia e coordenadora do CISA.

A análise do CISA tem como metodologia o processamento de dados de mortalidade
(Datasus), sendo aplicadas as Frações Atribuíveis ao Álcool para os sinistros de
trânsito (36,7% entre os homens e 23% entre as mulheres), da Organização Mundial da
Saúde (OMS).

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