Greve de ônibus: silêncio do governo de Pernambuco sobre a greve dos motoristas é constrangedor
Indiferença dos prefeitos do Grande Recife ao impacto da greve dos rodoviários também incomoda, mas o silêncio do Estado é, de fato, inaceitável
A Região Metropolitana do Recife entrou no segundo dia de greve dos motoristas de ônibus nesta terça-feira (13/8) com mais tensão e violência nas ruas, terminais e garagens e, mesmo assim, o governo de Pernambuco segue em silêncio. Embora a greve dos rodoviários tenha sido anunciada desde o dia 7/8 pelo sindicato da categoria, até agora o governo do Estado não se posicionou. A governadora Raquel Lyra - por incrível que pareça - não se colocou diante do problema, que tem afetado diretamente 1,6 milhão de passageiros e, indiretamente, todo o Grande Recife.
Nem mesmo nas redes sociais, onde tem sido comum os políticos brasileiros se posicionarem sobre tudo e qualquer coisa, a toda hora. Nem mesmo as redes sociais oficiais do governo, como a do Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano (CTM), têm um único comunicado sobre a greve. Nem mesmo uma orientação aos passageiros.
GESTÕES ESTADUAIS SEMPRE SE POSICIONARAM AO MENOS PELOS CANAIS OFICIAIS
Faz muito tempo que o Estado deixa de ter um posicionamento oficial em greves do transporte público. A única nota oficial emitida até agora pelo governo, via CTM, é uma que já ficou velha porque informa apenas que o órgão determinou a garantia da prestação do serviço de transporte público. Confira abaixo:
“O Grande Recife Consórcio de Transporte (CTM) informa que oficializou o Sindicato dos Operadores de Transporte e o Sindicato dos Rodoviários sobre a necessidade da continuidade parcial dos serviços durante o período de greve. O Grande Recife definiu que seja mantida 70% da operação programada para o mês de agosto, durante os horários de pico, e 50% da operação para fora dos horários de pico, de modo que seja garantido o direito constitucional de greve, como também a continuidade do serviço essencial de transporte público”.
GREVE DOS RODOVIÁRIOS NO RECIFE; segundo dia causa transtorno:
A ausência do Estado é ainda mais sentida quando se sabe que o gestor do sistema de ônibus da RMR é o governo de Pernambuco. Não que os prefeitos do Grande Recife - principalmente os de cidades como Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Camaragibe e Paulista - também não estejam sendo omissos quando apenas acompanham a greve dos rodoviários, mas o silêncio do governo de Pernambuco é constrangedor.
A participação do Estado no processo de negociação entre empresários e motoristas tem sido, inclusive, cobrada com veemência pelos rodoviários, que até protesto em frente ao Palácio do Campo das Princesas fez nas últimas semanas. Mas, assim como aconteceu com outros governadores, de diferentes partidos políticos, o governo de Pernambuco segue vendo o transporte público ainda como um serviço privado.
Por isso o silêncio. O entendimento segue sendo resumido à seguinte frase: “É uma questão entre empregadores e empregados, o Estado só pode acompanhar”, dita por muitas e muitas gestões.
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Vale destacar que, no mundo onde o transporte coletivo - mesmo com problemas - é prioridade de gestão, ele é visto como um serviço público essencial, apenas operado pelo setor privado.
Não estamos aqui falando de decidir por aumentos ou benefícios aos rodoviários. O que se cobra é postura e posicionamento. Uma demonstração à população que está sofrendo com a paralisação do serviço de ônibus de que o Estado está, sim, presente e preocupado com o que acontece no Grande Recife devido à greve dos motoristas.
Seria o mínimo e foi feito por muitas outras gestões.