Hoje eu quero convidar o leitor a fazer comigo uma viagem secular, e aterrissarmos no fim do ano de 1904, na capital federal, Rio de Janeiro.
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O objetivo é para que você possa sentir que nos dias de hoje pouca coisa mudou, quando o tema é uma vacina que pode salvar vidas.
O então presidente do Brasil, Rodrigues Alves (1848 — 1919), enfrentou a primeira manifestação popular do século 20, que ficou conhecida como a Revolta da Vacina. Foram sete dias de enfrentamento com um saldo de 30 mortos, mais de 100 feridos, certa de mil pessoas presas e centenas deportadas.
Tudo começou quando o governo decidiu por em prática um ambicioso plano traçado pelo médico sanitarista Oswaldo Cruz, que consistia em vacinar a população da capital federal para enfrentar a febre amarela e a peste bubônica.
Pelo decreto do governo os pais de família só poderiam matricular filhos nas escolas com a comprovação da vacina. Trabalhadores não poderia ser contratos se não tivessem sido vacinados. Até os cartórios receberam orientação para não fazer o casamento de ninguém que não estivesse com a vacina em dia.
Houve uma reação violenta de militares e civis contra a obrigatoriedade da vacina, mas finalmente o plano de Oswaldo Cruz foi posto em prática e muitas vidas foram salvas.
Na terça-feira, quando o Ministério da Saúde informava que 122.586 brasileiros tinham morrido infectados pela covid-19, o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), se encontrou com uma apoiadora que gritou: “presidente, o senhor não deveria fazer esse negócio de vacina porque seria perigoso”, se ferindo à obrigatoriedade da vacinação. O presidente declarou: “ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina”.
Acontece que foi o próprio Bolsonaro quem assinou uma lei, em fevereiro deste ano (nº 13.989/20), que diz a vacinação obrigatória é uma das medidas que serão adotadas pelas autoridades para enfrentar a covid-19.
Ou o presidente não leu o que assinou ou Bolsonaro está jogando para a platéia e faz cara de desentendido. Todos os especialistas dizem que a vacinação não é uma decisão individual porque em tempos de pandemia as pessoas que ficarem sem tomar a vacina poderão ser vetor de propagação da doença. E tudo o que o Brasil precisa hoje é de por um fim na pandemia. Nem que tenha de obrigar, inclusive o presidente, a tomar a vacina.
Pense nisso!
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