Bolsonaro diz que não interfere na Polícia Federal. Pouco depois, delegado acusa cúpula da PF de interferência
Em carta, o delegado Bruno Calandrini, que chefiou a operação Acesso Pago, que prendeu o ex-ministro Milton Ribeiro, acusou a cúpula da corporação de interferência: "A investigação foi prejudicada em razão do tratamento diferenciado concedido pela PF ao investigado", disse
Para quem, no passado recente, dizia que colocava "a cara no fogo" pelo então ministro da Educação, Milton Ribeiro, até que nessa quinta-feira (23) o presidente Jair Bolsonaro (PL) estava mais prudente: “Falei lá atrás que botava a cara no fogo por ele. Eu exagerei, mas eu boto a mão no fogo pelo Milton, assim como boto por todos os meus ministros, porque o que eu conheço deles, a vivência, dificilmente alguém vai fazer, vai cometer um ato de corrupção”.
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Ainda assim, a cara ou a mão no fogo do presidente da República, de todo modo, já está chamuscada e tem a ver com outra declaração dada à imprensa.
Tão logo soube da prisão do seu ex-auxiliar, na manhã da quarta-feira, Bolsonaro disse que “isso é sinal de que não interfiro na Polícia Federal”. No dia seguinte, ficou comprovado que houve interferência, “de cima”, embora ainda não se saiba de onde.
Em carta, o delegado Bruno Calandrini, que chefiou a operação Acesso Pago, acusou a cúpula da corporação de interferência. Na ação, foram presos, além do ex-ministro da Educação, dois pastores evangélicos - Gilmar Santos e Arilton Moura - o ex-gerente de projetos do MEC Luciano de Freitas Musse e o ex-assessor da prefeitura de Goiânia (GO) Helder Bartolomeu, suspeitos de corrupção.
"A investigação envolvendo corrupção no MEC foi prejudicada no dia de ontem [quarta-feira] em razão do tratamento diferenciado concedido pela PF ao investigado Milton Ribeiro”, disse Calandrini para completar. A “investigação foi obstaculizada ao se escolher pela não transferência de Milton a Brasília à revelia da decisão judicial".
Pelo que se sabe, até aqui, é que a Polícia Federal teria alegado “risco de segurança e restrições orçamentárias” para não transferir o ex-ministro da Educação para Brasília, como tinha determinado o juiz federal Renato Borelli.
Enquanto isso, o presidente da República não poupou o juiz de críticas. “O juiz que decretou a prisão foi o mesmo que o ano passado deu uma sentença preliminar para cada vez que alguém me visse sem máscara, ia me multar em R$ 2 mil, sem comprovação científica nenhuma sobre a máscara.” Ao contrário do que disse o presidente, a comunidade científica atribui o uso de máscara como importante aliado no enfrentamento da covid-19.
É aquela velha história: se a mensagem não agrada, mata-se o mensageiro.
Pense nisso!