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Bolsonaro diz que não interfere na Polícia Federal. Pouco depois, delegado acusa cúpula da PF de interferência

Em carta, o delegado Bruno Calandrini, que chefiou a operação Acesso Pago, que prendeu o ex-ministro Milton Ribeiro, acusou a cúpula da corporação de interferência: "A investigação foi prejudicada em razão do tratamento diferenciado concedido pela PF ao investigado", disse

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Romoaldo de Souza

Publicado em 24/06/2022 às 8:43
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Para quem, no passado recente, dizia que colocava "a cara no fogo" pelo então ministro da Educação, Milton Ribeiro, até que nessa quinta-feira (23) o presidente Jair Bolsonaro (PL) estava mais prudente: “Falei lá atrás que botava a cara no fogo por ele. Eu exagerei, mas eu boto a mão no fogo pelo Milton, assim como boto por todos os meus ministros, porque o que eu conheço deles, a vivência, dificilmente alguém vai fazer, vai cometer um ato de corrupção”.

Ainda assim, a cara ou a mão no fogo do presidente da República, de todo modo, já está chamuscada e tem a ver com outra declaração dada à imprensa.

Tão logo soube da prisão do seu ex-auxiliar, na manhã da quarta-feira, Bolsonaro disse que “isso é sinal de que não interfiro na Polícia Federal”. No dia seguinte, ficou comprovado que houve interferência, “de cima”, embora ainda não se saiba de onde.

Em carta, o delegado Bruno Calandrini, que chefiou a operação Acesso Pago, acusou a cúpula da corporação de interferência. Na ação, foram presos, além do ex-ministro da Educação, dois pastores evangélicos - Gilmar Santos e Arilton Moura - o ex-gerente de projetos do MEC Luciano de Freitas Musse e o ex-assessor da prefeitura de Goiânia (GO) Helder Bartolomeu, suspeitos de corrupção.

"A investigação envolvendo corrupção no MEC foi prejudicada no dia de ontem [quarta-feira] em razão do tratamento diferenciado concedido pela PF ao investigado Milton Ribeiro”, disse Calandrini para completar. A “investigação foi obstaculizada ao se escolher pela não transferência de Milton a Brasília à revelia da decisão judicial".

Pelo que se sabe, até aqui, é que a Polícia Federal teria alegado “risco de segurança e restrições orçamentárias” para não transferir o ex-ministro da Educação para Brasília, como tinha determinado o juiz federal Renato Borelli.

Enquanto isso, o presidente da República não poupou o juiz de críticas. “O juiz que decretou a prisão foi o mesmo que o ano passado deu uma sentença preliminar para cada vez que alguém me visse sem máscara, ia me multar em R$ 2 mil, sem comprovação científica nenhuma sobre a máscara.” Ao contrário do que disse o presidente, a comunidade científica atribui o uso de máscara como importante aliado no enfrentamento da covid-19.

É aquela velha história: se a mensagem não agrada, mata-se o mensageiro.

Pense nisso!

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