Romoaldo de Souza

Os cargos de confiança e a desconfiança na hora da votação

Leia a coluna Política em Brasília

Romoaldo de Souza
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Romoaldo de Souza
Publicado em 07/02/2023 às 21:37 | Atualizado em 07/02/2023 às 21:37
José Cruz/Agência Brasil
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reúne com os governadores dos 26 estados e do Distrito Federal - FOTO: José Cruz/Agência Brasil

Os 400 metros que separam o Palácio do Planalto [sede do Poder Executivo] e o Congresso Nacional [onde trabalham 513 deputados e 81 senadores] nunca foram tão percorridos como nos dias atuais. “Já estou pra furar o chão de tanto ir e vir”, reclama o líder do governo na Câmara dos Deputados, João Guimarães (PT-CE). “E o pior é que quando você chega num canto, já tem que voltar em cima dos pés”, lembra enquanto enxuga o suor que cai do rosto.

Guimarães é apenas de um entre tantos líderes que fazem esse percurso diariamente, várias vezes ao dia. “Comigo não tem disso não. Nem pensar de ir a pé”, sentencia o senador Jaques Wagner (PT-BA). Ele tem léguas de vantagem sobre Guimarães. Os senadores, ao contrário dos deputados, podem mandar seus motoristas estacionarem na garagem do Planalto. “É uma senhora diferença”, brinca o político baiano.

Mas, aí, você poderá me perguntar: “o que essa gente faz pra lá e pra cá”? Cargos, minha gente. Muitos cargos. É o leva e traz de pedidos que chegam aos líderes. Estimativas da ONG Contas Abertas apontam que o governo federal tem, por baixo, 10 mil cargos para distribuir entre deputados e senadores aliados. 10 mil novos funcionários que vão inchar a máquina pública sem que seus integrantes percam sono para passar em concurso. Ou como diz o ditado popular “quem tem padrinho forte não morre pagão”. Não passa aperreio.

Uma fatia desses milhares de postos no serviço público vai para os partidos aliados, aqueles que estavam desde o começo da campanha eleitoral. Outra parte fica com quem deu apoio esporádico só aguardando o resultado das urnas para virar governista de primeira hora.

“É comum o governo receber esses pedidos. Nem sempre chega [cargos] para todo mundo. Às vezes, o deputado, o senador quer que apresse (a nomeação), pra que a coisa fique mais certa, mas ninguém vai dar cambalhota para fazer isso”, resume Jaques Wagner.

Nem sempre as negociações são tão transparentes assim, como sugere o líder do governo. “Se eu que apoiei o presidente desde os tempos da [operação] Lava Jato não conseguir empregar alguns aliados no meu estado, o que eles vão dizer de mim? Que eu não tenho prestígio”, confidencia um parlamentar goiano, depois de apresentar três indicações para órgãos ambientais no Centro-Oeste.

Como diz Luiz Gonzaga (1912 - 1989) no seu delicioso “Forró de Mané Vito”. “Seu delegado, sem encrenca eu não brigo. Se ninguém bulir comigo, eu num sou homem pra brigar”. Se o governo conseguir equacionar pedidos de cargos com números de nomeações entre quem apoiou a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e quem esperou o resultado das eleições, dificilmente “sai briga”.

Agora, por outro lado, se um, basta um, aliado voltar de mãos abanando, o jeito é retornar ao “Forró de Mané Vito". “Puxei do meu punhá, soprei o candieiro, botei tudo pro terreiro, fiz o samba se acabar”. É sinal de que o governo será derrotado na primeira votação importante no Congresso Nacional. Mas sem problemas, outros 5 mil cargos estarão reservados no terceiro escalão do governo para uma próxima ocasião.

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