Se é que é possível tirar alguma conclusão desse imbróglio do retorno da tributação dos combustíveis é que o país está distante de enfrentar, com responsabilidade, o que faz o dinheiro do contribuinte desaguar pelo ralo, que é a falta de responsabilidade fiscal. O receio de que o aumento de tributos sobre a gasolina e o etanol pudesse ressuscitar uma onda de inflação não passou de um cortina de fumaça.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chegou à mesa de reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mostrou-lhes alguns apontamentos, ganha daqui, estica acolá e fechou que a nova taxação dos combustíveis vai injetar no caixa do governo algo em torno de R$ 28 bilhões, por ano. Dependendo de quem estivesse sentado à mesa de reunião, poderia se aplicar a teoria do copo meio cheio ou meio vazio. Dá no mesmo. O contribuinte vai pagar mais do que paga hoje pelo combustível que compra.
Esse falso dilema de que Lula estaria fritando o seu ministro da Fazenda para fortalecer a tese defendida pela presidente do Partido do Trabalhadores, Gleisi Hoffmann (PT-PR), não se sustenta porque os petistas sabem que sem afiar a tesoura do corte de gastos é improdutivo falar em crescimento econômico ou até mesmo em “definir uma nova política de preços para a Petrobras”, conforme recomendou a líder petista. “E isso será possível a partir de abril, quando o Conselho de Administração [da Petrobras] for renovado, com pessoas comprometidas com a reconstrução da empresa e de seu papel para o país”, disse. É aguardar.?
Como presidente da importante legenda como é o PT, bastaria a deputada Hoffmann fazer um esforço de memória para recordar que foi no governo da presidente Dilma Rousseff (PT) que ocorreram dois decisivos fatores para colocar a Petrobras na berlinda. O primeiro deles, nacionalmente chamado de “Petrolão” um dos mais memoráveis esquemas de corrupção a que a empresa foi submetida. Relatório do ministro Benjamin Zymler, do Tribunal de Contas da União (TCU), aponta que “24 empresas que comprovadamente fizeram parte desse cartel causaram prejuízo à Petrobras de R$ 12,3 bilhões. Esse valor atualizado e com juros é hoje superior a R$ 18 bilhões”.
Da mesma maneira é inequívoco que a política de governos do PT, sobretudo de Dilma Rousseff, de manter o preço dos combustíveis congelados, por puro deleite eleitoral, tornou vulnerável as contas da Petrobras que, aos poucos, está se recuperando. Imaginar que no atual governo há uma divisão entre as alas técnicas e as alas políticas é ignorar que no Brasil é possível governar sem uma “misancene” que de um lado ruge feito um leão, dizendo à sociedade que as propostas de campanha serão cumpridas, e do outro, sendo prudente porque o presidente Lula não tem a bala de prata do crescimento econômico. Quer dizer, até que tem, mas aí não seria Lula se ele optasse por cortar gastos.?