Morte de Sérgio Falcão continua cercada de dúvidas. Foto: TV Jornal/Reprodução
Cinco anos já se passaram, mas a nutricionista Adriana Miranda, 51, permanece com a mesma dor. É o sofrimento de não ter a morte do marido esclarecida. É o martírio de saber que os possíveis culpados estão em liberdade e podem, inclusive, nunca ser punidos. Após cinco anos em silêncio, Adriana decidiu falar sobre a morte do
empresário da construção civil Sérgio Falcão, 52. Em entrevista exclusiva ao
Ronda JC, a viúva afirmou que ele era muito vaidoso, preocupado com a saúde e, mesmo com sinais de depressão provocada pela crise na Falcão Construtora, jamais pensaria em se matar. Para ela, não há dúvidas de que foi um crime encomendado. Na entrevista, a nutricionista ainda explica como está, hoje, a situação da empresa. Na época da morte de Sérgio, em agosto de 2012, a Falcão Construtora acumulava dívidas e processos judiciais porque vários prédios estavam inacabados - em Pernambuco e em Alagoas - mesmo com os apartamentos já vendidos.
O inquérito policial, concluído pela quarta vez no último dia 25, apontou que Sérgio Falcão foi assassinado por motivação financeira. Dois policiais militares reformados foram indiciados pelo crime. Um deles trabalhava como segurança particular do empresário. Na entrevista, a seguir, Adriana também fala do contato que a família tinha com o PM. Até a próxima semana, o Ministério Público de Pernambuco decidirá se denuncia os PMs, se pede novas diligências - já que a perícia aponta para um suicídio -, ou se arquiva o caso. Ao
Ronda JC, o
promotor André Rabelo confirmou que pode denunciar mais pessoas, pois no inquérito a delegada Vilaneida Aguiar cita possíveis mandantes do crime. Ela, no entanto, decidiu não indiciá-los porque considerou que as provas não são suficientes.
CONFIRA A ENTREVISTA:
Em algum momento você acreditou que o empresário Sérgio Falcão pode ter cometido suicídio? Ou sempre achou que foi morto?
Em momento algum acreditei em suicídio. Sérgio nunca apresentou comportamento suicida, nem mesmo nos piores momentos. Pelo contrário. Era uma pessoa "extremamente" preocupada com a saúde. Chegava a ser exagerado nos cuidados. Tinha acompanhamento geriátrico desde muitos anos.Tomava várias vitaminas diariamente, receitadas pelo médico. Fazia academia diariamente quando estava no Recife, e, às vezes, corria no calçadão. Frequentava academias também quando estava em Maceió. Era muito vaidoso, se preocupava muito com a aparência. Frequentava clínica de estética. Falava com orgulho que viveria até os 100 anos. O curioso é que seu plano de saúde estava em dia. Quem se preocuparia com isso se estivesse pensando em se matar? E o principal: Sérgio tinha medo de morrer, muito medo mesmo. Tanto, que contratou um segurança particular quando se sentiu ameaçado. Acho que tudo isso são provas que enterram a tese de suicídio.
Você conhecia o PM Jailson? Ele fazia a segurança de vocês?
Eu já havia visto Jailson algumas vezes. Sempre na garagem do prédio. Ele nunca havia entrado no nosso apartamento. Não gostava da presença dele. Sérgio chegou a ter outros seguranças antes de Jailson, que não despertaram em mim esse sentimento, e cheguei a comentar isso com Sérgio várias vezes. Jailson fazia a segurança de Sérgio exclusivamente, mas não era diariamente. Quando saíamos juntos, ele não nos acompanhava. Isso só aconteceu em duas ocasiões, mas contra a minha vontade. No aniversário de dois anos do nosso filho, no salão de festas do edifício 14 BIS, Sérgio contratou Jailson sem o meu conhecimento para fazer a segurança da festa. Não cheguei a vê-lo nesse dia, só fiquei sabendo depois. A segunda ocasião, foi um dia em que fomos ao banco fazer um saque de um valor elevado, de um dinheiro que Sérgio manteve em meu nome durante alguns meses. Só concordei em ir na seguinte condição, no meu carro sozinha e Sérgio com Jailson e outro homem, que eu nunca havia visto antes, no carro de Sérgio. Na volta, foi a mesma situação. Voltei sozinha e Sérgio acompanhado dos dois e uma sacola de dinheiro.
Para você, o que motivou o crime? Você acredita que alguém mandou matá-lo?
Acredito seguramente que a motivação do crime foi financeira. Acredito também que foi um crime encomendado.
A Falcão Construção estava realmente em crise financeira? Sérgio tinha contas no exterior?
A construtora estava quebrada, segundo seus (de Sérgio Falcão) relatos. As dívidas eram grandes e ele parecia apavorado com isso. Já não viajava a Maceió, como fazia há anos, toda semana. Mandava em seu lugar uma funcionária. Tinha medo de ir lá, mas não admitia isso pra mim. Sabia dos problemas que enfrentaria e dos riscos que corria. Tomei conhecimento através da delegada, que encontrou troca de mensagens suspeitas de Sérgio, que havia indícios de dinheiro no exterior. Isso reforçou ainda mais a tese de homicídio com motivação financeira. Esse assunto ficou a cargo da delegada e da Justiça. Da minha parte, prestei todos os esclarecimentos de que tinha conhecimento, mas havia muitas coisas na vida de Sérgio que eu desconhecia. Coisas que fiquei sabendo após a sua morte, através do que era noticiado na mídia por advogados e pessoas próximas. Acredito que se for constatada a existência desses valores, a Justiça se encarregará de fazer a repatriação e, finalmente, os débitos deixados pela construtora poderão ser honrados. Assim espero.
Qual a situação hoje da Falcão Construção?
Após a morte de Sérgio procurei dar continuidade ao processo que ele estava tentando iniciar, a Recuperação Judicial da empresa. Fiz isso seguindo as orientações dadas pelos advogados do escritório que estavam à frente das negociações. Segundo eles, essa seria a melhor opção. Resolvi seguir em frente, apesar de não entender do assunto e não imaginar quantos problemas enfrentaria. Eu nunca tive participação nos negócios de Sérgio, éramos casados em regime de separação total de bens. Então, veio uma ação de falência movida em Maceió e essa prevaleceu sobre a Recuperação Judicial. Foi decretada então a falência da empresa, e hoje quem está a frente é o Sindico da massa falida.
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