Policiais dizem que homicídios registrados em anos anteriores não estão sendo investigados. Foto: TV Jornal/Reprodução
Um dia após policiais civis do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no Recife, denunciarem que
os assassinatos registrados antes de 2019 não estão sendo investigados, outra denúncia semelhante vem à tona. Desta vez, são policiais da Delegacia de Homicídios de Olinda que reforçam o coro. Eles contam que a cúpula da Polícia Civil pede que tentativas de homicídio não sejam priorizadas e que apenas as mortes registradas neste ano sejam apuradas. Segundo eles, o objetivo da determinação é dar à população uma sensação de que os crimes estão sendo solucionados rapidamente. O problema, no entanto, é que aquelas mortes violentas mais antigas ficam sem punição aos criminosos.
Um policial civil, que pediu anonimato, fez um desabafo. "Os homicídios dos anos anteriores são deixados de lado. Nós, policiais da área de investigação, sabemos como isso funciona e ficamos revoltados com tudo isso, mas não temos força. O que a cúpula quer é esconder a realidade. Somos cobrados para investigar apenas os homicídios que acontecem neste ano para aumentar a taxa de resolução dos crimes. E as tentativas de homicídio? Tudo parado. Agora, quem sofreu uma tentativa no ano passado, passou a ser vítima de homicídio nesse ano. Mas a tentativa de homicídio não conta como 'produtividade' para a Polícia Civil, por isso os casos são deixados de lado. A proibição não é feita de forma direta, mas, como não temos efetivo suficiente, sabemos que os homicídios deste ano é que devem ser tratados com prioridade", contou.
A produtividade, citada pela policial, é a taxa de resolução dos crimes contra a vida, ou seja, quantos inquéritos de homicídios foram concluídos pela Polícia Civil. Nesse índice só entram aqueles assassinatos consumados. Por isso, segundo os policiais, não há interesse dos gestores em investigar os atentados à vida. Reportagem do
Ronda JC, em março deste ano,
mostrou que mais de 60% dos homicídios contabilizados em 2017 - ano considerado mais violento da história de Pernambuco - continuam sem solução.
OUTRO LADO
Em nota, a Polícia Civil de Pernambuco afirmou que "não há qualquer proibição de investigação de casos mais antigos. O compromisso da Polícia Civil é de investigação e resolução de todos os crimes letais intencionais contra a vida. Todos servidores da PCPE conhecem a filosofia da gestão: É preciso apurar, punir e, principalmente, retirar de circulação aqueles que matam". "É importante esclarecer que os trabalhos investigativos continuam e, em diversos deles, a resolução está próxima. Somente este ano, mais de 500 acusados de homicídios foram capturados", informou a nota.
"Sobre a taxa de resolução de homicídios, é preciso saber analisar esse índice. A de Pernambuco foi de 53% no ano de 2018. A média nacional foi 8%, ou seja, 6,6 vezes menos que a taxa de Pernambuco. A meta, para 2019, é superar os 60% dentro do próprio ano e alcançar o posto de unidade federativa que mais finaliza inquéritos de homicídios com definição de autoria", completou a nota oficial.
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