INVESTIGAÇÃO

Secretários de Defesa Social viam câmeras do Recife no momento da manifestação e agressão policial

Antônio de Pádua precisa esclarecer quem deu a ordem para que o Batalhão de Choque avançasse contra os manifestantes

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Raphael Guerra

Publicado em 30/05/2021 às 17:38 | Atualizado em 31/05/2021 às 9:30
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Atualizada às 22h30

Pouco antes do meio-dia do sábado (29), imagens do Batalhão de Choque avançando contra manifestantes no Centro do Recife começaram a inundar as redes sociais e grupos de WhatsApp. No mesmo horário, o secretário de Defesa Social de Pernambuco, Antônio de Pádua, e o executivo, Humberto Freire, estavam no Centro Integrado de Comando e Controle Regional (CICCR) com comandantes da Polícia Militar. Todos acompanhavam, em tempo real, as câmeras da SDS.

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Minutos depois, um vídeo de poucos segundos publicado no Instagram oficial da SDS mostrava a cúpula reunida numa mesa em frente ao telão onde é possível visualizar os principais pontos do Recife - inclusive a área central.

Às 12h31, quando várias cenas de violência policial eram publicadas na internet e criticadas, Pádua, ainda no CICCR, concedia entrevista à TV Globo. Tranquilo, mostrava imagens de câmeras da Zona Sul do Recife. "É isso. Todo monitoramento de câmeras da cidade da cidade são feitas aqui (sic). Daqui, observamos o que está acontecendo", declarou o secretário, ao vivo, à repórter Bianka Carvalho. Nenhuma menção foi feita à ação policial no Centro do Recife.

No meio da tarde, com a situação insustentável, Pádua seguiu para o Palácio do Campo das Princesas, sede do governo de Pernambuco. Lá, houve uma reunião com o governador Paulo Câmara. Horas depois, em vídeo enviado à imprensa, o chefe do Executivo afirmou: "A Corregedoria da Secretaria de Defesa Social já instaurou procedimento para investigar os fatos. O oficial comandante da operação, além dos envolvidos na agressão à vereadora Liana Cirne, permanecerão afastados de suas funções enquanto durar a investigação".

Mas quem deu a ordem para o Batalhão de Choque e policiais da Radiopatrulha avançarem contra os manifestantes? O comandante da operação, cuja identidade é mantida em sigilo pelo governo estadual, não foi autorizado pelo comandante geral da Polícia Militar de Pernambuco? O que o secretário Antônio de Pádua fez ao observar as lamentáveis cenas de pessoas recebendo tiros nos olhos? Nada foi dito até agora.

Em meio ao caos na capital pernambucana, que já durava mais de meia hora, o secretário optou por falar das praias vazias ao invés de tentar minimizar a desastrosa e violenta ação policial. Como explicar tal atitude?

Até o momento em que esse texto foi finalizado, neste domingo (30), a cúpula da SDS permanecia em silêncio. A assessoria da SDS foi procurada, pela manhã, para explicar se os envolvidos na ação policial seriam investigados criminalmente (haja vista que a Corregedoria da SDS só apura a conduta dos servidores no âmbito administrativo). Nenhuma resposta foi dada.

Ao programa Fantástico, da TV Globo, às 22h30, houve uma breve resposta: quatro policiais da Radiopatrulha afastados, após prestarem depoimentos no sábado. Além do oficial que comandou a operação. 

Se o secretário estava monitorando todas as câmeras, como o próprio afirmou ao vivo, ele precisa esclarecer quem, de fato, deu a ordem para que o Batalhão de Choque e policiais da Radiopatrulha avançassem contra os manifestantes, que, até aquele momento, se mantinham pacíficos.


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