Paulo Câmara assina demissão de perito criminal do Caso Beatriz
Investigação da Corregedoria da SDS apontou que Diego Leonel Costa prestou serviço de segurança privada para colégio onde menina foi morta, em Petrolina
O governador de Pernambuco, Paulo Câmara, demitiu o perito criminal Diego Leonel Costa, que prestou consultoria de segurança ao Colégio Nossa Senhora Auxiliadora após o assassinato da menina Beatriz Angélica Mota, há seis anos, em Petrolina, no Sertão do Estado. Investigação da Corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS) apontou que o perito era sócio de uma empresa de segurança que foi contratada pela escola. Posteriormente, ele participou da investigação do caso. A informação sobre a demissão foi dada por Paulo Câmara ao receber os pais de Beatriz no Palácio do Campo das Princesas, nesta terça-feira (28). A exoneração será publicada no Diário Oficial do Estado desta quarta-feira (29).
De acordo com as investigações da Corregedoria, Diego participou da criação de um plano de segurança para o colégio, na condição de sócio cotista da Empresa Master Vision. No dia 14 de janeiro de 2016, ou seja, um mês após a morte de Beatriz, ele esteve na instituição de ensino e fez filmagens e fotografias por meio de um drone. Mesmo assim, segundo a Corregedoria, o mesmo perito fez parte, posteriormente, da equipe de trabalho de investigação responsável pela apuração do homicídio.
"Ficou comprovado que esse profissional, esse perito, prestou serviço privado, o que é vedado aos agentes policiais. Em virtude disso, foi proposta a demissão dele, como prevê a legislação nesse tipo de infração disciplinar. O governador analisou, junto com sua assessoria jurídica, e, na data de ontem (27), decidiu pela efetivação do ato demissionário", explicou o secretário de Defesa Social, Humberto Freire.
Diego é um dos mais importantes peritos criminais do Estado, atualmente. Nos últimos anos, atuou como chefe do Núcleo de Perícias do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), órgão subordinado à Polícia Científica de Pernambuco, sob o comando da também perita criminal Sandra Santos.
O profissional, inclusive, chegou a assinar, como perito revisor, um laudo em 2019 para contribuir com as investigações da polícia no Caso Beatriz. A portaria da SDS aponta que esse fato "situação que causou estranhamento pelo fato deste mesmo perito já ter prestado serviços particulares ao referido colégio e que teve repercussão na mídia, o que acarretou questionamentos acerca da lisura e imparcialidade das investigações policiais do caso em tela, trazendo flagrante prejuízo ao andamento das investigações".
A SDS também descobriu que Diego é presidente da Cooperativa de Peritos Assistentes Técnicos e Pareceristas, cooperativa que objetiva fazer a intermediação entre peritos e o Poder Judiciário com a finalidade de tais peritos prestarem serviços particulares à Justiça. Além disso, ainda seria sócio de outra empresa, a GD Perícia, Consultoria e Engenharia Ambiental LTDA, onde atuaria como perito particular.
A denúncia dos pais de Beatriz consta em um dossiê feito por eles para contribuir com as investigações da Polícia Civil, que não avançaram para prender o assassino da menina. No documento ainda consta nomes de outros profissionais de perícia e da própria Polícia Civil que teriam atrapalhado as investigações, a exemplo de outro perito que teria ficado, durante meses, com um HD com imagens do colégio e, depois, afirmado que não havia como recuperar o conteúdo.
ASSOCIAÇÃO SE PRONUNCIA
Em defesa de Diego Costa, a Associação de Polícia Científica de Pernambuco (Apoc-PE) enviou nota oficial. No texto, a categoria afirma que "está atenta a todos os desdobramentos do caso, para adotar todas as providências voltadas para a defesa dos interesses do perito criminal Diego e de toda categoria, tanto no âmbito administrativo, quanto no judicial, se necessário for."
A nota ainda diz que a associação "seguirá na defesa incansável dos interesses dos Peritos Criminais que estejam sendo vítimas de decisões administrativas desarrazoadas e desproporcionais, como no caso em tela, e que venham a malferir o direito do servidor público ao devido processo legal, ao contraditório e à ampla defesa. Também não permitirá que seja maculada a reputação de profissionais responsáveis e probos".
APOIO À FEDERALIZAÇÃO
Após reunião com os pais de Beatriz Angélica Mota, o governo do Estado anunciou que apoiará a federalização das investigações. Uma nota oficial foi divulgada na tarde desta terça-feira (28).
"Presto total solidariedade à família e amigos de Beatriz, que estão empenhados há seis anos na luta pela punição dos responsáveis pelo crime. O governo de Pernambuco se manifesta favoravelmente à federalização do caso e assegura, ainda, que prestará toda a colaboração necessária, ciente de que cabe à Procuradoria-Geral da República ou ao Ministério da Justiça avaliar se estão presentes os requisitos legais para a referida federalização", informou texto assinado pelo governador Paulo Câmara.
A reunião ocorreu no Palácio do Campo das Princesas, sede do governo de Pernambuco.O secretário de Defesa Social, Humberto Freire, também esteve presente no encontro. Na saída, falou com a imprensa.
"Vamos manter o esforço, com a força-tarefa (de delegados), até que a gente tenha elementos suficientes para indiciar algum responsável e apresentar ao sistema de justiça. E nos colocamos, como sempre estivemos, à disposição da família. Assumimos o compromisso de explorar qualquer linha investigativa que nós possamos porque nosso compromisso é em elucidar esse crime bárbaro e chegar efetivamente a essa culpado", afirmou.
Os pais de Beatriz Mota chegaram no Recife, após caminharem cerca de 720 km em busca de justiça. Ele saíram de Petrolina no último dia 5 de dezembro, passando por diversas cidades em uma verdadeira cruzada por respostas sobre o caso da filha. Foram 23 dias de caminhada.
Sobre o pedido de acesso aos conteúdos da investigação por parte de uma empresa privada americana, sem qualquer vínculo com o Governo dos EUA ou suas representações diplomáticas no Brasil, a Secretaria de Defesa Social esclareceu que esse tipo de cooperação não encontra respaldo na legislação brasileira.
Em entrevista exclusiva ao Jornal do Commercio, publicada nessa segunda-feira (27), o governador admitiu que o trabalho da Polícia Civil "não atingiu o êxito" esperado.
"A gente sempre esteve muito atento a este caso da Beatriz, inclusive eu estive com a mãe dela aqui no Palácio (do Campo das Princesas) e em outras oportunidades em Petrolina, mais de uma vez. Desde o início, nós solicitamos uma apuração rigorosa com relação a isso. Infelizmente o trabalho da polícia não atingiu o êxito que nós gostaríamos de ter atingido, que era justamente chegar a autoria e a responsabilidade. Mas estamos à disposição como sempre estivemos", afirmou Câmara.