INVESTIGAÇÃO

Paulo Câmara: "Trabalho da polícia não atingiu o êxito que gostaríamos", sobre o Caso Beatriz

Assassinato da menina, em Petrolina, no Sertão de Pernambuco, completou seis anos. Em entrevista exclusiva, governador reconheceu que polícia não descobriu autoria do crime

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Raphael Guerra

Publicado em 27/12/2021 às 19:23 | Atualizado em 28/12/2021 às 8:18
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Pela primeira vez, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, reconheceu que a Polícia Civil não conseguiu êxito nas investigações relacionadas ao assassinato da menina Beatriz Angélica Mota, 7, que ocorreu em Petrolina, no Sertão, há seis anos. Em entrevista exclusiva ao Jornal do Commercio, ele afirmou que a autoria do crime, que chocou o Estado, não foi descoberta - mesmo após oito delegados investigarem o caso emblemático. 

"A gente sempre esteve muito atento a este caso da Beatriz, inclusive eu estive com a mãe dela aqui no Palácio (do Campo das Princesas) e em outras oportunidades em Petrolina, mais de uma vez. Desde o início, nós solicitamos uma apuração rigorosa com relação a isso. Infelizmente o trabalho da polícia não atingiu o êxito que nós gostaríamos de ter atingido, que era justamente chegar a autoria e a responsabilidade. Mas estamos à disposição como sempre estivemos", afirmou Câmara.

A declaração foi dada em meio à caminhada que os pais de Beatriz, Sandro Romildo e Lucinha Mota, fazem há 21 dias. Eles saíram de Petrolina, no último dia 05, e vão chegar, nesta terça-feira (28), no Recife. Haverá um protesto em frente ao Palácio do Campo das Princesas, sede do governo estadual. Além de pedir justiça, os pais de Beatriz querem uma reunião com o governador para insistir o pedido de federalização do caso. Para eles, diante de denúncias de irregularidades nas investigações, o ideal é que a Polícia Federal assuma o caso.

"Essa questão da federação nunca foi um tabu para Pernambuco. Outros casos de repercussões foram federalizados. Inclusive, a sua grande maioria chega aos mesmos resultados da nossa polícia. Mas se for para realmente contribuir não vamos nos opor. Esse assunto da federação já tinha chegado a nós. Agora, nós temos que respeitar os ritos e a legislação. Não podemos fazer mais ou além do que esteja dentro das nossas possibilidades. E a polícia entendeu que produziu o que poderia se produzir até hoje, em termos de resultados. Agora qualquer fato novo, qualquer ação que possa ser inserida, nós vamos ser os primeiros a querer que isso seja apurado. Nós queremos também, tanto quanto a mãe, que isso seja apurado, porque é o conforto que ela está esperando e realmente diante de uma perda que não tem volta. A questão da autoria e da prisão é o que a mãe tem dito, que é o grande objetivo dela. Sempre que houver um fato novo e relevante nós vamos utilizar forças para tentar de todas as formas chegar a uma resultado final desse processo", disse o governador Paulo Câmara. 

Beatriz foi morta com mais de 40 facadas durante uma festa de formatura no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, onde ela estudava. A menina deixou a quadra da instituição para beber água e, após os pais desconfiarem da demora, fizeram buscas pelo colégio e encontraram o corpo escondido numa sala desativada.

Atualmente, uma força-tarefa de delegados acompanha o caso. O inquérito, com 24 volumes, foi remetido ao Ministério Público no começo deste mês. Há, ao todo, 442 depoimentos, 900 horas de imagens e 15 mil chamadas telefônicas analisadas. 

Em 2017, polícia divulgou a imagem de um suspeito que possivelmente entrou no colégio durante a festa. Uma câmera flagrou o rapaz do lado de fora, mas nenhuma imagem do lado de dentro teria registrado. Foi oferecida recompensa de R$ 10 mil, mas o criminoso não foi encontrado.

Testemunhas contaram à polícia, na época, que o suspeito teria sido visto tentando se aproximar de outras crianças antes de chegar até Beatriz. Mas ninguém desconfiou.

PEDIDO DE DEMISSÃO

Após quase dois anos e meio de uma denúncia feita pelos pais de Beatriz, a Corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS) concluiu as investigações neste mês. Portaria assinada pelo secretário Humberto Freire, e publicada último sábado, sugere ao governo de Pernambuco a demissão do perito criminal Diego Leonel Costa, que atuou na perícia sobre o assassinato da menina. 

De acordo com as investigações da Corregedoria, Diego participou da criação de um plano de segurança para o colégio, na condição de sócio cotista da Empresa Master Vision. No dia 14 de janeiro de 2016, ou seja, um mês após a morte de Beatriz, ele esteve na instituição de ensino e fez filmagens e fotografias por meio de um drone. Apesar disso, segundo a Corregedoria, o mesmo perito fez parte, posteriormente, da equipe de trabalho de investigação responsável pela apuração do homicídio.

Diego é um dos mais importantes peritos criminais do Estado. Nos últimos anos, atuou como chefe do Núcleo de Perícias do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), órgão subordinado à Polícia Científica de Pernambuco.

O profissional, inclusive, chegou a assinar, como perito revisor, um laudo em 2019 para contribuir com as investigações da polícia no Caso Beatriz. A portaria da SDS aponta que esse fato "situação que causou estranhamento pelo fato deste mesmo perito já ter prestado serviços particulares ao referido colégio e que teve repercussão na mídia, o que acarretou questionamentos acerca da lisura e imparcialidade das investigações policiais do caso em tela, trazendo flagrante prejuízo ao andamento das investigações".

A SDS ainda pontua que Diego é presidente da Cooperativa de Peritos Assistentes Técnicos e Pareceristas, cooperativa que objetiva fazer a intermediação entre peritos e o Poder Judiciário com a finalidade de tais peritos prestarem serviços particulares à Justiça. Além disso, ainda seria sócio de outra empresa, a GD Perícia, Consultoria e Engenharia Ambiental LTDA, onde atuaria como perito particular.

No parecer, sugerindo a demissão do profissional, o secretário Humberto freire destaca que ele "feriu a moralidade administrativa e negligenciou o cumprimento de seus deveres em três ocasiões distintas, em especial ao exercer atividades incompatíveis com a função policial civil, ao desrespeitar a hierarquia e a disciplina, ao não zelar pela dignidade da função policial e ao não observar normas legais e regulamentares".

A decisão final sobre a demissão caberá ao governador Paulo Câmara. Diego Costa ainda não se pronunciou sobre o caso.

 

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