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Fora da macrorregião metropolitana de Pernambuco, 113 cidades contam só com 16% das novas UTIs criadas para covid-19

Em 113 cidades no Agreste, Sertão, Vale do São Francisco e Araripe, estão apenas 45 (16%) das 327 novas vagas abertas para receber pacientes graves com suspeita ou confirmação do novo coronavírus

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 24/04/2020 às 9:49 | Atualizado em 24/04/2020 às 9:57
EDMAR MELO/ACERVO JC IMAGEM
Hospital Mestre Vitalino fica localizado em Caruaru, no Agreste de Pernambuco - FOTO: EDMAR MELO/ACERVO JC IMAGEM

Passados mais de 40 dias da confirmação dos primeiros casos do novo coronavírus em Pernambuco, observamos diariamente a expansão geográfica da doença, que começa a se consolidar levada em direção ao interior. Há pessoas que já foram infectadas em, pelo menos, 98 municípios pernambucanos, além dos registros no Arquipélago de Fernando de Noronha. O número corresponde a 53% do território estadual. O dado representa casos que conseguiram ser detectados, sem contar com o universo de pessoas que não têm acesso a diagnóstico e à assistência pela fragilidade de capacidade de atendimento em regiões mais afastadas dos centros urbanos. Há ainda outro detalhe: a interiorização da covid-19 põe à prova o gargalo de unidades de terapia intensiva (UTIs) no Sistema Único de Saúde.

Fora da macrorregião metropolitana de saúde (área que abrange 113 cidades no Agreste, Sertão, Vale do São Francisco e Araripe), estão apenas 45 (16%) das 327 novas vagas abertas para receber pacientes graves com suspeita ou confirmação da doença. O restante (282 leitos de UTI) estão na metropolitana, que congrega 72 dos 184 municípios pernambucanos, além de Noronha.

Na segunda macrorregião, a do Agreste, que reúne as Regionais de Saúde com sede em Caruaru (reunindo 32 cidades) e com sede em Garanhuns (21 cidades), foram criadas 28 novas de UTI nesta epidemia de covid-19.

No Hospital Mestre Vitalino, em Caruaru, após 20 dias da confirmação do primeiro paciente com covid-19 na unidade, já foram atendidas 20 pessoas infectadas pelo novo coronavírus até ontem. Dois deles foram a óbito (pacientes de Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata, e de São Lourenço da Mata, no Grande Recife), três foram transferidos para uma unidade de saúde privada no Recife, 12 receberam alta para isolamento domiciliar e três deles permanecem internados em UTI: são moradores de João Alfredo e Bonito (ambos municípios no Agreste) e Chã de Alegria (Zona da Mata).

A terceira macrorregião, a do Sertão Central, recebeu apenas cinco leitos de UTI voltados para os pacientes com sintomas de covid-19. Antes mesmo da epidemia, essa área já contava com uma frágil rede de assistência intensiva, com apenas 18 leitos de UTI. Com 35 municípios, essa macrorregião congrega três Regionais de Saúde: uma com sede em Arcoverde, outra com sede Afogados da Ingazeira e mais uma em Serra Talhada. Já na quarta macrorregião, do São Francisco e Araripe, foram implementadas 12 novas vagas de UTI. Delas fazem parte três Regionais de Saúde, com sedes em Salgueiro (reúne sete cidades), Petrolina (sete cidades) e Ouricuri (onze cidades).

“A gente já tinha muitos leitos de UTI antes do novo coronavírus. Poucos deles, devido à ociosidade momentânea, foram deslocados para fazer atendimento à covid-19. Algumas vagas já estão em execução, mas temos projetos para dotar de mais leitos todas as macrorregiões e, assim, estarmos preparados quando se chegar à fase de aceleração da curva epidêmica também no interior do Estado”, disse ontem, em entrevista coletiva online, o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo. Ele ressalta que o momento atual é de explosão de casos no Recife, mas lembra que é inevitável que todas as regiões do Estado, especialmente onde não se cumpre o isolamento social, tenham aumento no número de pessoas infectadas em algum breve momento. “A epidemia chegará mais rápido onde não forem tomadas medidas. É preciso que os municípios atentem para retardarmos a aceleração da curva epidêmica no restante do Estado”, frisou Longo.

Pela mobilidade fácil entre as cidades próximas à capital pernambucana, o secretário se mostra preocupado com a expansão dos casos nos municípios que compreendem a Região Metropolitana do Recife, onde a gestão estadual ainda não identificou agilidade para colocar em prática as vagas prometidas na assistência hospitalar. Ontem ele usou como exemplo a resposta que tem sido dada por Jaboatão dos Guararapes à epidemia. Em números absolutos, é o terceiro município pernambucano com o maior número de casos (282), atrás de Olinda (324) e do Recife (2.062). “Jaboatão dos Guararapes tem prefeitura com tamanho e pujança para buscar seus canais, fazer compras e adquirir respiradores. Não adianta dizer que está sem abrir leitos por causa do Estado. É preciso colocar claramente o que vai poder implantar. Se não vai abrir UTI, deve-se avisar que não tem condições. Que se abra só o leito de enfermaria e garanta assistência à população com a dimensão que pode dar”, ressaltou Longo.

Há duas semanas, Jaboatão dos Guararapes anunciou que estava em processo de estruturação de 41 leitos destinados à covid-19 para entrega imediata e que eles fariam parte do primeiro módulo de um planejamento global de 120 leitos de retaguarda, que funcionariam no local onde era a antiga Ibratec (na Estrada da Batalha). O município também informou que fez requisição administrativa de dez vagas de UTI privadas de um dos conveniados, além de estar estruturando mais 40 vagas que dependiam de respiradores para ficar prontas.

“Reconhecemos que há dificuldade na aquisição de ventiladores. Não nos comprometemos em entregar respiradores a municípios”, destacou André Longo. Ele acrescentou que o Estado compra esses equipamentos prioritariamente para fazer a rede estadual e regional. “Se concretizarmos todas as aquisições previstas, é possível que Pernambuco possa ajudar algum município. Mas aqui falamos de um município com mais de 600 mil pessoas, que tem arrecadação robusta e condições de buscar seus próprios canais de compra. Esperamos bem mais de Jaboatão dos Guararapes do que ele tem dado até agora aos seus munícipes.” Segundo o município, o Centro de Triagem e Tratamento para o Coronavírus, no bairro de Jardim Jordão, terá 131 leitos com respiradores e concentradores de oxigênio, e as obras têm recursos próprios da prefeitura.

Antes da covid-19, veja como eram distribuídos os 1.081 leitos de UTI por macrorregiões de Pernambuco 

1 – Macrorregião Metropolitana: 839 leitos de UTI
2 – Macrorregião do Agreste: 100 leitos de UTI
3 – Macrorregião do Sertão Central: 18 leitos de UTI
4 – Macrorregião do São Francisco e Araripe: 61 leitos de UTI

Nesta epidemia de covid-19, veja como estão distribuídos os 327 novos leitos de UTI por macrorregiões de Pernambuco 

1 – Macrorregião Metropolitana: 282 leitos de UTI
2 – Macrorregião do Agreste: 28 leitos de UTI
3 – Macrorregião do Sertão Central: 5 leitos de UTI
4 – Macrorregião do São Francisco e Araripe: 12 leitos de UTI

* Taxa de ocupação atual dos novos leitos: 97%
* Fonte: Secretaria de Saúde de Pernambuco, com dados atualizados em 23/04/2020

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