LINHAGEM AFRICANA

Pesquisadores baianos identificam nova linhagem do zika vírus circulando no Brasil

O país, até então, só havia registrado a presença da linhagem asiática do vírus e agora identificou também a linhagem africana

Carolina Fonsêca
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Publicado em 24/06/2020 às 19:26 | Atualizado em 24/06/2020 às 19:37
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A linhagem africana do zika é mais virulenta, ou seja, tem sintomas mais fortes. - FOTO: Foto: Pixabay

Com informações do Correio da Bahia

Uma nova linhagem do zika vírus está circulando no Brasil. A informação foi descoberta por pesquisadores do Centro de Integração de Dados para Saúde (Cidacs) da Fiocruz Bahia e publicada neste mês no periódico International Journal of Infectious Diseases.

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Até então, o país tinha registros de circulação apenas da linhagem asiática do zika - causador da epidemia da doença em 2015. A partir da checagem de dados de uma ferramente de monitoramento genético desenvolvida por pesquisadores vinculados aos Cidacs, notou-se a presença da linagem africana, que já ocorria em outras regiões do mundo, mas até então não havia chegado ao Brasil.

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"Nosso trabalho consistiu em pegar todas as arboviroses - dengue, zika, chicungunha e febre amarela - e vasculhar o banco de dados biológico disponível online. A gente pega essa sequência de DNA, e quando pegamos os dados do Brasil sobre a zika, vimos que havia uma linhagem que estava variando. Percebemos que em 2019 apareceu essa linhagem africana que não havia antes no Brasil", explicou Artur Queiroz, coautor do estudo.

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De acordo com os cientistas, há duas linhagens do vírus zika: a asiática e a africana (sendo subdividida em oriental e ocidental).

Neste novo estudo, os pesquisadores analisaram 248 microrganismos que foram encontrados no Brasil e notaram que, até 2018, o vírus da zika era majoritariamente (mais de 90%) cambojano (asiático). Em 2019, a proporção mudou e passou a compreender 89,2% das sequências submetidas ao banco genético.

A surpresa ficou por conta do aparecimento do tipo africano do vírus da zika no Brasil. Esta linhagem foi identificada no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro. "O que significa, pela distância entre os estados, que o vírus está circulando há um tempo por aqui", destacou Artur.

Por se tratar de uma linhagem até então inédita no país, os pesquisadores não conseguem afirmar se quem já teve o tipo asiático da doença está protegido do tipo africano e uma epidemia como a de 2015 pode se repetir. "Ainda não temos informação suficiente", afirmou.

Sintomas mais fortes

Os estudos já mostram, porém, que a linhagem africana do vírus é mais virulenta, ou seja, causa sintomas mais fortes.

"Já há trabalhos mostrando que essa linhagem do vírus pode causar sintomas mais fortes, uma febre mais intensa, dores no corpo mais intensas. Estou começando outro estudo para avaliar se o diagnóstico que fazemos hoje é capaz de identificar que se trata desta linhagem. Mas, se tratando de sintomas iguais (só que mais intensos), também pode causar microcefalia em bebês de mães que tiverem zika durante a gestação", detalhou Queiroz.

O que pode ser feito no momento?

Em meio ao enfrentamento de uma pandemia, os brasileiros - e todo o mundo - têm sofrido com um cenário de crise e incertezas causadas pelo novo coronavírus. O aparecimento de um novo tipo de zika vírus, igualmente perigoso, acende vários alertas.

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Mas, para evitar uma nova epidemia, a orientação dada por Artur Queiroz já é conhecida por todos: identificar e eliminar focos de água parada, ambiente propício para o desenvolvimento do mosquito do Aedes aegypt e do "primo" dele, o Aedes albopicuts, um hospedeiro diferente identificado como abrigo da linhagem africana.

"No momento, o que pode ser feito é identificar focos do mosquitos e eliminá-los. Também não há vacina para a zika, chicungunha ou dengue - apenas para um dos quatro subtipos da dengue", alertou.

Epidemia de 2015

No dia 23 de outubro de 2015, o Jornal do Commercio teve conhecimento do aumento incomum no número de recém-nascidos com microcefalia. Em outubro de 2015 Pernambuco registrou 437 casos de bebês que nasceram com complicações possivelmente relacionadas à infecção pelo zika vírus - entre os casos notificados, houve cerca de 150 mortes.

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