Neste momento em que a obrigatoriedade do uso da máscara se tornou ainda mais clara, com possível penalização de quem descumprir a regra, uma mensagem se faz importante: a utilização generalizada desse equipamento de proteção individual pode manter a transmissão da covid-19 em níveis controláveis de epidemias nacionais e prevenir ondas futuras da doença, se combinada com outras medidas de proteção, como higienização das mãos e distanciamento social. "Cada pessoa que deixa de usar máscara, negligencia o uso ou a utiliza inadequadamente, está fazendo uma escolha. As máscaras interrompem em até 70% a transmissão entre pessoas se forem usadas adequadamente. Então, sociedade tem responsabilidade sobre essa questão. Não estou dizendo que as pessoas individualmente tenham que assumir a carga (de responsabilidade) dessa doença, mas cada um de nós individualmente temos que fazer escolhas certas; cada um de nós somos responsáveis pela nossa proteção e a do outro", diz a médica epidemiologista Ana Brito.
Pesquisadora da Fiocruz Pernambuco, ela sempre tem nos ajudado a colocar às claras muitas das interrogações sobre o novo coronavírus e agora, numa conversa sobre o uso da máscara para limitar a transmissão, ela nos faz refletir sobre pontos importantes neste momento de convivência com um agente infeccioso ainda cheio de enigmas.
"Até o momento, as medidas não medicamentosas têm impedido locais do mundo, onde houve controle dessa pandemia para níveis que possibilitaram um retorno progressivo às atividades de vida (escola, comércio, mobilidade e interrupção das barreiras sanitárias entre países), a ter retorno de níveis altos de transmissão. Onde realmente se trabalhou de forma cuidadosa e criteriosa para reduzir a transmissão e o contágio, houve um distanciamento rigoroso, uso de máscara obrigatório em todos os lugares, adoção da etiqueta respiratória e das medidas de higienização", diz a especialista.
Para ela, a utilização de máscaras é importantíssima nos lugares onde há transmissão ativa alta e nos locais onde já se estabeleceu um controle mais confortável da doença, considerando as áreas em que não há mais a ocorrência de novos casos autóctones (transmissão ocorrida na localidade de residência do infectado). "Por mais que, no Recife e na Região Metropolitana, haja redução no número de mortes e de casos, essa queda se estabilizou num patamar bastante elevado, refletindo num adoecimento coletivo e numa carga de morte ainda alta no nosso Estado. Então, nós não podemos prescindir da obrigatoriedade do uso da máscara. Diferentes setores devem exigir que as pessoas estejam usando-a e de forma correta."
A médica ressalta que tem observado, mesmo entre pessoas bem esclarecidas e com acesso ilimitado às máscaras, que há uma utilização incorreta do acessório, principalmente na hora de falar. "Vejo em locais seguros, que adotam todas as medidas de biossegurança e de higienização, como há pessoas que colocam a máscara no queixo para falar. E é justamente na hora da fala em que ocorre maior possibilidade de transmissão (do novo coronavírus). Ou seja, não é só usar a máscara, mas usá-la adequadamente."
Além disso, Ana Brito traz à luz outro detalhe precioso e que precisa ser implementado logo pelas autoridades sanitárias. Ela sublinha que o poder público, na hora em que institui a máscara como uma barreira importantíssima para prevenção ou redução da transmissão do vírus, tem também a responsabilidade de dotar as populações, que não têm acesso a esse insumo, de pelo menos duas máscaras para cada pessoa. "É preciso haver a troca da máscara a cada quatro horas ou no momento em que ela for molhada, a fim de que não perca a capacidade de barreira."
O raciocínio da epidemiologista é construído com base nos anos em que atuou no combate à aids. "Conseguimos que o preservativo fosse disponibilizado para a população que não tem como comprá-lo. Como único método de barreira eficaz contra a transmissão do HIV, é um insumo garantido pelo serviço público. Então, deveria haver uma preocupação com a dispensação de máscaras também para a população sem condições de garanti-las", acrescenta.
A médica chama ainda a atenção para a necessidade de o poder público criar uma campanha de conscientização massiva sobre a importância da utilização do equipamento de proteção facial. "É preciso ter uma ação que oriente a população sobre a forma de fazer suas mascaras caseiras, deixando claras informações sobre tipo de tecido, como a peça deve ser, quantas camadas são necessárias para garantir maior proteção e o que precisa cobrir, que são as áreas do nariz e da boca, sem deixar as laterais abertas", esclarece Ana Brito.
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