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Ministério da Saúde silencia sobre falta de medicação para tratar crianças com síndrome rara associada à covid-19

Governo de Pernambuco decidiu não esperar pelo Ministério da Saúde e garantiu a compra de mil ampolas do medicamento

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 27/08/2020 às 22:41 | Atualizado em 27/08/2020 às 22:45
FREEPIK/BANCO DE IMAGENS
A falta de imunoglobulina vem sendo identificada em outros levantamentos - FOTO: FREEPIK/BANCO DE IMAGENS

O Ministério da Saúde é o órgão responsável pelo fornecimento de imunoglobulina humana, uma medicação indicada no tratamento de várias doenças e que tem sido usada também em casos de síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica associada à covid-19, que já acometeu pelo menos 9 crianças em Pernambuco - e uma delas foi a óbito. Questionado diversas vezes pela reportagem do JC, desde a quarta-feira (26), sobre o desabastecimento do medicamento em Pernambuco e em demais Estados brasileiros, o ministério silencia e não responde as perguntas sobre o fornecimento da imunoglobulina humana para os casos da síndrome associada à covid-19. 

Segundo pediatras ouvidos pelo JC, a síndrome é uma condição é muito tratável. Mas, para isso, é preciso ter disponível a medicação. O governo de Pernambuco decidiu não esperar pelo Ministério da Saúde e garantiu a compra de mil ampolas do medicamento. "Obviamente que estamos nos movimentando como Estado para garantir a utilização. Entramos em contato com fornecedor para aquisição o mais rápido possível desse insumo. Esperamos estar, até o fim da semana que vem, com mil ampolas pelo menos, o que é suficiente para 30 dias, em Pernambuco, para diversas condições de saúde, e não só para a síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica", disse o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (27). "Esperamos que o governo federal possa cumprir a sua parte e distribuir a medicação aos Estados para que possamos recompor os estoques. Nunca é bom estar com estoque baixo de uma medicação como esta", acrescentou. 

Nesta sexta-feira (28), representantes da Sociedade de Pediatria de Pernambuco (Sopepe), do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) e do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) têm uma reunião com o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo. O encontro tem como objetivo alinhar as demandas observadas pelo grupo na terça-feira (25), quando coordenadores dos serviços de pediatria do Estado também apontaram a preocupação com o aumento da demanda por leitos para crianças que apresentam quadros respiratórios sugestivos de covid-19 e outras infecções.

"Durante o período de maior confinamento, as emergências pediátricas ficaram praticamente vazias. Mas agora em agosto, a procura pelos leitos tem vindo à tona. No Hospital Correia Picanço (Tamarineira, Zona Norte do Recife), houve aumento da demanda neste mês, assim como foi exposto no Barão de Lucena (Iputinga, Zona Oeste da cidade). Diante da situação, temos discutido com a secretaria a necessidade de organização do fluxo (encaminhamento de pacientes aos serviços) na pediatria", frisa o secretário-geral do Simepe, Tadeu Calheiros.

Para o pediatra Fernando Oliveira, 2º vice-presidente do Cremepe, o aumento da demanda por leitos pediátricos é reflexo da maior exposição das crianças ao vírus, devido à retomada das atividades durante o atual processo de reabertura socioeconômica. "Basta perceber que, no fim de semana, as praias, o Bairro do Recife e outros locais aparecem com muitas pessoas se aglomerando. As crianças, que estavam em casa nos primeiros meses da pandemia, voltam a sair com seus pais. Mas o pico da pediatria ainda está por vir, especialmente se o retorno às aulas presenciais não seguir um protocolo rígido", alerta Fernando.

O médico acrescenta que a reunião, nesta sexta-feira (28), com o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, será essencial para discutir e definir o que o Estado deve ter como prioridade, neste momento, para os pacientes da pediatria. "Nos últimos anos, não tivemos abertura de leitos para esse público. O Estado precisa garantir as novas dez vagas de terapia intensiva (UTI) que foram previstas no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc). Além disso, as crianças que adoecem precisam ser logo testadas (para se ter certeza do diagnóstico e fazer o encaminhamento para o leito adequado). E vamos precisar de médicos pediatras intensivistas, o que é difícil", ressalta.

O secretário André Longo destaca que ninguém está imune à infecção pelo novo coronavírus. "Todos podem se tornar vitimas da doença, até mesmo as crianças. Por isso, devemos seguir as regras de educação sanitária, como a lavagem das mãos, o distanciamento social e o uso de máscaras", destacou. O secretário ainda acrescentou que, nos nove casos notificados no Estado da síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica decorrente da covid-19, estão a menina que foi a óbito, sete crianças que tiveram alta hospitalar e uma que permanece internada. No dia 6 deste mês, o Estado divulgou os dois primeiros casos da síndrome, que tem como sintomas febre persistente, pressão baixa, conjuntivite, manchas no corpo, diarreia, dor abdominal, náuseas, vômitos e comprometimento respiratório entre outros sinais.

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