Resfriado, gripe e bronquiolite deixaram de protagonizar, no primeiro semestre deste ano, os quadros respiratórios virais nas emergências pediátricas de Pernambuco. Com o isolamento social e o afastamento das crianças das creches e das escolas, que são medidas de enfrentamento necessárias para deter a curva epidêmica da covid-19, as crianças deixaram de ter contato com os vírus influenza, como o H1N1, o rinovírus, que causa o resfriado, e o vírus sincicial respiratório (VSR), responsável por até 80% dos casos de bronquiolite entre os pequenos com menos de 2 anos de idade.
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Mas agora, com o afrouxamento das medidas restritivas, crianças passaram a acompanhar seus pais em passeios, a ir a praias, a fazer viagens aos fins de semana. O resultado tem sido uma mudança radical no perfil das internações infantis neste segundo semestre. As hospitalizações por bronquiolite e gripe, por exemplo, que costumamos acompanhar de março a junho (meses em que historicamente atingem seu maior pico), tornam-se mais frequentes neste momento em que serviços de pediatria veem suas emergências, enfermarias e unidades de terapia intensiva (UTI) lotadas.
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Como esses quadros respiratórios têm sintomas semelhantes, é natural que logo se suspeite atualmente de infecções pelo novo coronavírus, pois estamos na vigência da pandemia e ainda não podemos dizer que os casos de covid-19 estão sob controle. Para afirmar isso, dizem os sanitaristas e epidemiologistas, teríamos que passar duas semanas sem confirmar novos adoecimentos. E milhares de pessoas infelizmente ainda se infectam diariamente.
Com a flexibilização das atividades socioeconômicas, as pessoas que circulam pelas cidades, especialmente as crianças, voltam a se expor não apenas ao novo coronavírus. "O afrouxamento do isolamento, sem a valorização do distanciamento social e do uso correto das máscaras, fez com que a circulação dos outros vírus (rinovírus, influenza e bronquiolite) voltasse a valer. É por isso que assistimos a um aumento da demanda nas emergências pediátricas", explica o vice-presidente da Sociedade de Pediatria de Pernambuco (Sopepe), Eduardo Jorge da Fonseca Lima, também conselheiro do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe).
Infelizmente o nosso Estado e outras localidades do Brasil desativaram leitos de internação pediátrica, nos últimos anos, no Sistema Único de Saúde (SUS). Para se ter ideia, de 2010 a 2019, Pernambuco fechou 661 leitos na rede pública (ficando com 1.952), segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Pediatria sobre assistência à criança e ao adolescente no País. Agora, durante a pandemia, o Estado destinou cerca de 100 vagas de enfermaria e UTI para quadros de síndrome respiratória aguda grave (srag) em recém-nascidos (leitos neonatais, voltados até o 28º dia de vida), bebês, crianças e adolescentes.
Para o cenário atual, de mudança no perfil das internações infantis sobre o qual falamos anteriormente, é pouquíssimo. E o mais grave: todos os 37 leitos de UTI para quadros de srag nessa faixa etária estão concentrados no Recife. Esse tipo de assistência é inexistente no interior do Estado. Na sexta-feira (28), 85% das vagas de terapia intensiva estavam ocupadas, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES). Esses leitos estão no Hospital Barão de Lucena (10 pediátricos), Correia Picanço (5 pediátricos), Hospital Universitário Oswaldo Cruz (2 pediátricos) e Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (20 neonatais). Em reunião com representantes de órgãos de classe e pediatras, a SES prometeu mais dez vagas, que devem ser contratualizadas com uma organização social (OS). Também se cobrou a retomada dos leitos pediátricos no Oswaldo Cruz.
"Também precisamos de maior agilidade no processamento de testes de covid-19, e a SES garantiu que isso será feito. Se esperamos sete dias para ter o resultado do exame da criança com quadro respiratório, não conseguimos ter fluxo no internamento. Esse paciente ficará num leito covid (podendo ir a outro tipo de vaga, caso seja negativo para o novo coronavírus) e levará a um aparente aumento e descontrole da situação", frisa Eduardo Jorge, com a certeza de que jamais as crianças podem ser esquecidas.
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