Atitudes egoístas e equivocadas. Foi assim que o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, avaliou as cenas de aglomeração e descumprimento de medidas de proteção contra a covid-19 que tomaram conta do Estado durante o feriadão da Independência do Brasil. "Preciso lamentar os registros de aglomerações e extrema falta de cuidado de parte da população nas praias e outros ambientes durante o final de semana prolongado e feriado. São atitudes egoístas, equivocadas e que nos causam grande preocupação e até indignação, porque colocam em risco tudo o que conquistamos até agora, como também a saúde e a vida de todos", disse o secretário, em entrevista coletiva transmitida pela internet nesta terça-feira (8).
O depoimento vem em tom de inquietação e apreensão, especialmente diante do risco que se corre de o Estado ter uma nova onda da epidemia, mas o governo não apresentou uma ação para reforçar a fiscalização nas praias. Após uma situação em que se constatam descumprimento das medidas de proteção e comportamento de risco sanitário, não se pode aceitar que a flexibilização das atividades continue e apenas se observem as consequências acontecerem. Sim, as responsabilidades para conter a transmissão do novo coronavírus devem ser divididas entre o poder público e a população, mas os governantes precisam fazer a fiscalização.
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"Não é correto também colocar toda a responsabilidade nas prefeituras. Precisamos reconhecer que o comportamento da população é decisivo. Ninguém é onipresente, nem vai ter um fiscal para cada banhista ou cada pessoa que vai à praia. A gente viu Recife, Ipojuca, Olinda (fazendo fiscalização), vimos fiscais, algums comerciantes foram advertidos, punidos e houve até retirada do direito de comercializar", informou Longo. A questão é que o monitoramento e o acompanhamento das atitudes na faixa de areia foram tímidos e não deram conta dos aglomerados nem das irregularidades vistas na maioria dos pontos de praias do Estado.
Ainda assim, o governo não sinalizou uma ação de reforço para os próximos fins de semana nas praias. E se a intenção primeira não é punir ou multar, vale a pena as autoridades repensarem numa forma em que o plano de convivência com a covid-19 reduza os riscos e ajude a promover a saúde no espaço mais democrático da cidade. Ok, não é fácil, pois é uma estratégia que exige um trabalho de planejamento bem mais intenso do que se tem atualmente, que é conscientizar sobre o uso correto de áreas que devem ser demarcadas.
Para que o governo não volte atrás na flexibilização do uso da faixa de areia nem da volta do comércio na praia, a população também tem que colaborar com o papel de multiplicadora de boas práticas de convivência com o novo coronavírus. E lamentavelmente levamos nota baixa nessa questão. Muitos continuam a se amontoar e a deixar de lado as máscaras.
"Se houver piora desses números (de casos e óbitos por covid-19), é natural que as primeiras atitudes sejam no sentido de restringir as atividades de lazer, e a gente não quer fazer isso, mas estamos analisando os cenários", reforçou André Longo. Ele ainda destacou que a sociedade precisa se conscientizar que, para viver o novo normal, mudar hábitos se faz necessário. "É preciso dosar a sensação hedonista, de busca pelo prazer, com algum sentimento de responsabilidade." No tempo atual, essa declaração faz todo sentido. A pandemia é uma situação que nos leva a entender que fazemos parte de um todo. O vírus ainda circula, e as vontades individuais devem ser balanceadas e controladas. A responsabilidade é de todos nós.
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